E, no mesmo dia, caem dois recordes do mundo
Kipchoge e Mayer entram para a história da maratona e do decatlo, com o queniano a esmagar a antiga melhor marca maratonística mundial.
O queniano Eliud Kipchoge já era considerado, universalmente, o melhor maratonista de sempre antes da corrida de ontem, em Berlim, na 45.ª edição desta prova dotada de um percurso excepcionalmente rápido e no qual tinham caído os últimos seis máximos mundiais masculinos. Depois deste domingo, certamente, já ninguém contestará esse título honorífico ao africano.
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O queniano Eliud Kipchoge já era considerado, universalmente, o melhor maratonista de sempre antes da corrida de ontem, em Berlim, na 45.ª edição desta prova dotada de um percurso excepcionalmente rápido e no qual tinham caído os últimos seis máximos mundiais masculinos. Depois deste domingo, certamente, já ninguém contestará esse título honorífico ao africano.
Depois de tantas vezes ter estado na calha para chegar ao recorde já se começaria a acreditar que Kipchoge, que vai cumprir 34 anos a 5 de Novembro, acabaria por não obter este grande objectivo. Sentia-se que era o tudo ou nada desta vez, as condições atmosféricas ajudaram, com um dia morno e sem vento na capital alemã e, no fim de uma corrida que desafia todos os adjectivos, Eliud Kipchoge acabou os clássicos 42.195m em 2h01m39s, tirando 1 minuto e 18 segundos ao anterior recorde mundial que outro queniano, Dennis Kimetto, havia estabelecido no mesmo percurso, a 28 de Setembro de 2014, com 2h02m57s.
Se se tiver em conta que o recorde mundial oficial para uma hora de corrida foi fixado em 21.285m pelo etíope Haile Gebrselassie, em Ostrava, em 2007, vimos que Kipchoge evolui, neste domingo, a quase a 21km/h no conjunto das duas metades da prova. E, pela primeira vez, uma segunda metade de uma maratona foi corrida a menos de 1h01m, com o queniano a fazer um registo improvável de 60m33s, a praticamente 2m53s por quilómetro...
De início, três lebres quenianas guiaram Eliud Kipchoge através dos primeiros 5km (14m24s) e 10km (29m01s), já bem abaixo dos tempos de passagem de Kimetto há quatro anos. Aos 15km (43m38s) só uma das lebres aguentava ainda o ritmo na frente e esta levou Kipchoge através da meia maratona em 61m06s - já com 39 segundos de vantagem sobre Kimetto - até aos 25km. Mas aí saiu de cena e Kipchoge ficou sozinho com longos 17km pela frente até à meta. Sempre muito elegante, com uma passada depurada de todo o movimento inútil levada ao limite, Kipchoge nunca duvidou que desta feita o recorde não lhe ia escapar. Aos 40km (1h55m32s, comparando com 1h56m29s de Kimetto) não só o novo máximo era certo como também parecia claro que a barreira da hora e dois minutos iria cair. A finalização do campeão olímpico do Rio de Janeiro, que ainda teve forças para correr algumas centenas de metros a festejar, esclareceu todas as dúvidas que ainda houvesse.
À sua 11.ª maratona, se se descontar o “Projecto 2h” da Nike do ano passado, Kipchoge chegava à sua 10.ª vitória. E, mais incrível ainda que isso, o queniano foi campeão mundial dos 5000m há 15 anos, em Paris, quando ainda era júnior. Tem sobrevivido a lesões e colocado um parêntesis importante na velha asserção de que um maratonista dura no topo um máximo de cinco anos, se tanto (há excepções, e Rosa Mota foi uma delas).
Aliás, isso mesmo ficou provado pelo terceiro lugar neste domingo alcançado por um antigo recordista mundial, o queniano Wilson Kipsang (2h06m48s), atrás de um outro queniano, Amos Kipruto (2h06m23s).
Na prova feminina, pela primeira vez três atletas fizeram menos de 2h19m, com triunfo da queniana Gladys Cherono (2h18m11s), adiante das etíopes Ruti Aga (2h18m34s) e Tirunesh Dibaba (2h18m55s).
Com um oitavo lugar em 2h25m27s, Carla Salomé Rocha deu um corte substancial no seu recorde pessoal que era de 2h27m08s desde 7 de Maio do ano passado, em Praga, sendo agora a sétima portuguesa de sempre, a 1m58s do recorde nacional estabelecido por Rosa Mota em 1985, no percurso de Chicago.
Mayer 9126 pontos em Talence
Tirando partido do último grande evento da temporada nas provas múltiplas e aproveitando para se desforrar do recente resultado dos Campeonatos Europeus – onde ficou de fora após três nulos no salto em comprimento -, o francês Kevin Mayer bateu neste domingo o recorde mundial do decatlo com o total de 9126p, em Talence, no sul de França.
O anterior máximo pertencia ao norte americano Ashton Eaton, que amealhara 9045p a 29 de Agosto de 2015, durante os Mundiais de Pequim.