A tecnologia desafia a criação
Em re:member, o quarto álbum a solo de Ólafur Arnalds, há dois pianos que tocam sozinhos. O objectivo é o de surpreender o artista na arte que ele próprio inventou.
Com quatro álbuns a solo em carteira, Ólafur Arnalds, 31 anos de idade, é já um conhecido e conceituado compositor de música minimal, e daquilo a que podemos chamar de “nova música clássica”, mas os seus interesses e competências vão muito para além disso. As incursões do multi-instrumentista islandês passam também pela electrónica (divide o palco com Janus Rasmussen na dupla Kiasmos, por exemplo), por inúmeras colaborações com artistas de renome (Nils Frahm e Rodrigo Leão, para referir apenas dois) e pela produção de bandas e artistas do universo pop.
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Com quatro álbuns a solo em carteira, Ólafur Arnalds, 31 anos de idade, é já um conhecido e conceituado compositor de música minimal, e daquilo a que podemos chamar de “nova música clássica”, mas os seus interesses e competências vão muito para além disso. As incursões do multi-instrumentista islandês passam também pela electrónica (divide o palco com Janus Rasmussen na dupla Kiasmos, por exemplo), por inúmeras colaborações com artistas de renome (Nils Frahm e Rodrigo Leão, para referir apenas dois) e pela produção de bandas e artistas do universo pop.
re:member é a representação desses diferentes caminhos. É o artista a reencontrar-se, a condensar tudo aquilo que lhe interessa e, não menos importante, a tentar sair da “caixa” que fizeram para ele. As palavras são do próprio, e podem ser ouvidas no vídeo que apresenta o quarto álbum a solo.
Habituado desde sempre ao improviso e à experimentação, Ólafur Arnalds criou em re:member um desafio diferente. Criar é mesmo a palavra certa, uma vez que é dele a invenção de um software chamado Stratus — feito em colaboração com o programador Halldór Eldjárn.
Trata-se de um programa que, a partir das notas tocadas num sintetizador Moog Piano Bar, processa e envia dados para outros dois pianos, criando estruturas musicais mais ou menos aleatórias. Ou seja, o sistema produz notas e sequências diferentes da estrutura habitual, obrigando o compositor a criar a partir do factor surpresa, contrariando a intuição musical. Deste modo, a máquina torna-se um elemento desafiador, porque troca as voltas ao previsível.
Este processo aparentemente caótico foi devidamente arrumado por Ólafur Arnalds, não há neste disco qualquer sinal de desordem, pelo contrário. O mote é dado na abertura pelo tema-título re:member, são 6 minutos que parecem o resultado da soma de dois momentos distintos, mas que são a primeira consequência das voltas trocadas pelo algoritmo. Mas isso só se percebe depois de conhecida a história deste álbum.
Os arranjos de cordas da London Recording Orchestra conferem o toque “clássico” que constitui a espinha dorsal do disco. Elas pontuam com uma simplicidade extrema em they sink, participam da fusão com a batida eletrónica que conhecemos de Kiasmos em inconsist, e são a cola que liga a complexidade sonora de undir e de ekki hugsa.
A dúzia de instrumentais que compõem re:member são mais um produto da força criativa do artista islandês, que escolheu a tecnologia para apimentar o desafio. Volta a ser música feita por camadas, e volta a ter um resultado ora simples e brilhante, ora complexo e próprio para dias escuros. Bem a propósito, tome nota: Ólafur Arnalds regressa a Portugal em Março de 2019 para concertos no Coliseu de Lisboa (dia 13), na Casa da Música, no Porto (dia 11) e no Theatro Circo, em Braga (dia 10).