Qual o local de nascimento do Sol na Via Láctea?

Equipa internacional de cientistas descobriu um método para calcular o sítio onde o Sol nasceu na nossa galáxia.

Foto
Pensa-se que a nossa estrela não terá vagueado tanto pela galáxia como antes se pensava NASA/SDO

Onde nasceu o Sol na Via Láctea? Para o descobrir, uma equipa internacional de cientistas – que inclui Vardan Adibekyan, que investiga em Portugal no Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço (IA) – encontrou uma forma de estimar os locais de nascimento das estrelas da nossa galáxia. Num artigo científico publicado na revista Monthly Notices of the Royal Astronomical Society e anunciado esta sexta-feira pelo IA, revela-se que foram calculados os sítios onde cerca de 600 estrelas que actualmente são vizinhas do Sol nasceram.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Onde nasceu o Sol na Via Láctea? Para o descobrir, uma equipa internacional de cientistas – que inclui Vardan Adibekyan, que investiga em Portugal no Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço (IA) – encontrou uma forma de estimar os locais de nascimento das estrelas da nossa galáxia. Num artigo científico publicado na revista Monthly Notices of the Royal Astronomical Society e anunciado esta sexta-feira pelo IA, revela-se que foram calculados os sítios onde cerca de 600 estrelas que actualmente são vizinhas do Sol nasceram.

Nos discos galácticos, as estrelas afastam-se do local do seu nascimento. A este fenómeno, já conhecido há bastante tempo, chama-se “migração radial”. “Este movimento ao longo do diâmetro da galáxia dificulta o estudo da história de formação da Via Láctea, pois a migração radial é afectada por diversos parâmetros, dos quais se tem pouca informação”, explica-se num comunicado do IA sobre o recente trabalho.

Contudo, os cientistas conseguiram ultrapassar este obstáculo. Como? Desenvolveram um método para recuperar a história da migração das estrelas, usando as idades e a composição química das estrelas “como artefactos galácticos”, sublinha-se no comunicado.

Para este trabalho, a equipa utilizou uma amostra de cerca de 600 estrelas vizinhas do Sol observadas pelo espectrógrafo HARPS, instalado num dos telescópios que o Observatório Europeu do Sul (ESO) tem no Chile.

Foto
Simulação da Via Láctea com a indicação da posição das 600 estrelas agora estudadas: à esquerda está o ponto que engloba a localização aproximada das estrelas (incluindo o Sol); à direita estão os locais de nascimento das estrelas I. Minchev/AIP

“A equipa descobriu que as estrelas nasceram espalhadas por todo o disco galáctico, com as mais antigas a migrarem das zonas mais interiores do disco”, refere-se no comunicado, adiantando-se que os resultados também foram obtidos graças à caracterização (já feita) muito precisa da massa e metalicidade das estrelas estudadas.

“Esta interessante técnica é única, porque nos permitiu determinar o local de nascimento do nosso Sol”, considera Vardan Adibekyan. “Descobrimos que a nossa estrela pode não ter vagueado pela galáxia tanto quanto pensávamos até agora e que a distância ao centro da galáxia [ao local] onde nasceu pode ser semelhante à [distância] que tem actualmente.”

Num outro comunicado do Instituto Leibniz de Astrofísica de Potsdam (Alemanha), que teve cientistas neste trabalho, dá-se mesmo o exemplo do Sol: ao termos a idade do nascimento da nossa estrela (4600 milhões de anos) e a sua metalicidade (quantidade de metais na sua composição, ou seja, os elementos que não são hidrogénio e hélio), pode-se estimar que o Sol nasceu cerca de dois mil anos-luz mais perto do centro da Via Láctea do que actualmente está.

Foto
Representação artística da Via Láctea com a indicação da posição do Sol Esquerda: NASA/JPL-Caltech; Direita: ESA/ATG medialab

“No futuro, este método pode ser aplicado a medições de alta qualidade da missão da Agência Espacial Europeia Gaia, que em conjunto com investigações espectroscópicas levadas a cabo em telescópios à superfície da Terra, permitirão um cálculo muito detalhado da história migratória das estrelas e do passado da Via Láctea”, refere Friedrich Anders, também autor do artigo e do Instituto Leibniz de Astrofísica de Potsdam.