Portugal não deverá sair ileso da greve da Ryanair
Grupo de cinco sindicatos, que inclui o português SNPVAC, planeia fazer greve europeia a 28 de Setembro. Representantes dos trabalhadores falam em “muitos constrangimentos”, companhia diz que passageiros não devem “temer caos”
O Sindicato Nacional do Pessoal de Voo da Aviação Civil (SNPVAC) estima que a greve de dia de 28 de Setembro da tripulação de cabine da Ryanair crie “muitos constrangimentos” na operação em Portugal, o que a empresa rejeita.
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O Sindicato Nacional do Pessoal de Voo da Aviação Civil (SNPVAC) estima que a greve de dia de 28 de Setembro da tripulação de cabine da Ryanair crie “muitos constrangimentos” na operação em Portugal, o que a empresa rejeita.
“Infelizmente, deve ser bastante grande [o impacto] e vai criar muitos constrangimentos, mas está, mais uma vez, nas mãos da Ryanair e dos governos de cada país e até na Comissão Europeia […] parar isto tudo”, disse a presidente do SNPVAC, Luciana Passo, à agência Lusa.
A reacção da responsável surge depois de ter sido anunciado esta quinta-feira, numa conferência de imprensa de vários sindicatos europeus, em Bruxelas, que os tripulantes da transportadora aérea na Bélgica, Holanda, Itália, Espanha e Portugal vão fazer greve a 28 de Setembro.
Falando à Lusa após o encontro, Luciana Passo apontou que, em causa, estão “os mesmos motivos de sempre”. “É a aplicação da lei local […] e os tripulantes da Ryanair terem todos o mesmo tipo de contrato e não haver distinção”, especificou.
A responsável referiu que, depois da primeira greve europeia na companhia, em Julho, o SNPVAC volta a juntar-se à paralisação por uma conjunta ter “mais força” e ainda porque “os problemas são iguais”.
Referindo-se à “postura de intransigência” da empresa, Luciana Passo vincou que “as coisas não teriam de ser assim se a Ryanair não tivesse também esta inflexibilidade de dizer que este é o modelo de negócio, é assim que trabalham, e que não reúnem sequer com elementos dos sindicatos que pertençam a outras empresas”.
Os sindicatos que representam a tripulação de cabine realizaram a 25 e 26 de Julho passados uma greve em Espanha, Portugal, Itália e Bélgica. A paralisação em Itália só se realizou no primeiro dos dois dias.
As estruturas voltaram hoje a convocar uma acção conjunta, que conta com a participação de sindicatos italianos, o SNPVAC, uma estrutura sindical belga, duas espanholas e uma holandesa.
Em cima da mesa está, nomeadamente, a exigência para que os contratos de trabalho da Ryanair sejam feitos segundo a lei laboral nacional de cada país, e não a irlandesa, que tem sido a usada pelo grupo.
"Clientes não devem temer caos"
O responsável pelo departamento de ‘marketing’ da Ryanair, Kenny Jacobs, salientou que, apesar da greve, “a maioria dos voos será operada nesse dia como previsto, pelo que os clientes não devem temer caos na operação”.
Assinalando que a Ryanair ainda não recebeu o pré-aviso de greve, o responsável disse à Lusa que a empresa vai esperar que isso aconteça para poder “mudar os voos de alguns passageiros para outras datas”.
Só depois de “ser notificada” é que a companhia irá, também, analisar quantos voos serão cancelados, acrescentou. O SNPVAC disse à Lusa que vai entregar o pré-aviso esta quinta-feira.
Ainda assim, Kenny Jacobs assegurou que a empresa vai tentar “reduzir ao mínimo as perturbações” da paralisação. Outra das medidas equacionadas é o recurso a aeronaves baseadas noutros países, o que é possível porque “a 28 de Setembro é o fim da temporada de verão”, explicou.
Kenny Jacobs ressalvou que os sindicatos ainda podem “sentar-se à mesa das negociações” para evitar paralisações como esta.
Contudo, a empresa continua a rejeitar “negociar com representantes [de sindicatos] que não trabalhem para a Ryanair, que é o que acontece com o SNPVAC”. “Nós não queremos greves, nós não gostamos de cancelar voos”, adiantou o responsável.
A Ryanair tem estado envolvida num conflito com sindicatos a nível europeu, também com impacto em Portugal, nomeadamente depois de uma greve da tripulação de cabine em Abril, em que a empresa foi acusada de intimidar os trabalhadores.