Jorge Pichardo: "Falta pouco para o Pedro bater o recorde mundial"

O pai e o treinador de Pedro Pablo Pichardo falou ao PÚBLICO após a decisão da IAAF em deixar o filho competir por Portugal a partir de 2019.

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Jorge Pichardo, pai e treinador de Pedro Pablo S.L. Benfica

Foi por não poder treinar com o pai que Pedro Pablo Pichardo decidiu sair de Cuba e procurar refúgio em Portugal e no Benfica. Em conversa com o PÚBLICO, Jorge Pichardo, pai e treinador do saltador que irá competir com as cores da selecção portuguesa a partir de 2019, fala dos ambiciosos objectivos do filho, do que deixou para trás em Cuba e da relação com Nelson Évora.

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Foi por não poder treinar com o pai que Pedro Pablo Pichardo decidiu sair de Cuba e procurar refúgio em Portugal e no Benfica. Em conversa com o PÚBLICO, Jorge Pichardo, pai e treinador do saltador que irá competir com as cores da selecção portuguesa a partir de 2019, fala dos ambiciosos objectivos do filho, do que deixou para trás em Cuba e da relação com Nelson Évora.

Estão aliviados por a IAAF ter tomado a decisão de deixar o Pedro competir por Portugal a partir de 2019?

Claro que sim, para nós foi uma decisão natural, visto que não existiam motivos, nem era justo, o Pedro continuar sem competir com a camisola do país que tão bem nos acolheu. 

Quais são os objectivos para os Mundiais de 2019 e Jogos Olímpicos de 2020?

Trabalhamos há 19 anos para fazer do Pedro o melhor do mundo. Foi um dos motivos que nos fez sair de Cuba, porque lá não podíamos trabalhar juntos. Estamos focados para que o nome Pichardo esteja sempre na luta pelas vitórias. Dependerá de muitos factores, mas acredito que nos Mundiais e nos Jogos ele estará em condições de ganhar. 

O Pedro já é um dos melhores de sempre. Quanto tempo até bater o recorde mundial?

Falta pouco, é nisso que acreditamos. O grande rival desportivo que queremos bater é Jonathan Edwards.

Como tomaram a decisão de sair de Cuba?

Pensámos em família no assunto e concluímos que era a única possibilidade de o Pedro atingir o seu potencial.
Somos uma equipa e, infelizmente, em Cuba não nos deixavam trabalhar juntos. Tomámos a melhor decisão e estamos no país e no clube ideal para alcançar o sucesso. Agora tudo depende de nós, atleta e treinador. 

Fale-me daquele dia em Estugarda em que resolveram fugir.

Há aqui um grande equívoco: nós não fugimos, pois não somos delinquentes. Recordo o dia em que, com a ajuda de um amigo, fui da Suécia até à Alemanha, numa viagem de 30 horas de carro, para ir buscar o meu filho. Outras 30 para regressar. A viagem foi longa e cansativa mas a felicidade que ambos sentimos nunca passará. A partir daquele dia, ninguém nos voltou a separar. 

Foi difícil deixar Cuba e a família para trás?

Ainda hoje é difícil. A minha mãe morreu e eu não estava lá. Creio que será tremendamente difícil para qualquer um que se vê na obrigação de viver longe da mulher, filhos, netos, irmãos, sobrinhos e amigos.

Estão impedidos de regressar a Cuba. Como é conviver com essa proibição?

Eu não estou proibido, o meu filho sim. O mais importante é saber que estou a dar o máximo, a treinar o meu filho para que ele alcance o sonho de uma vida. Estamos no rumo certo. 

Por que razão escolheram Portugal e o Benfica?

Nunca tivemos propriamente um plano definido. As coisas foram acontecendo. O destino trouxe-nos a possibilidade de vir para Portugal e para o Benfica e, hoje em dia, já não nos imaginamos a treinar noutro país e noutro clube que não estes, que com muito orgulho são nossos.

Houve outras propostas?

Sim, tivemos outras hipóteses, mas aqui estamos em casa e muito honrados pela forma como somos acarinhados por todos. 

Como tem sido este ano e meio a viver em Portugal?

O mais complicado é, claro, estar longe da família. De resto, o sol e a temperatura dão-nos alegria para trabalhar todos os dias. O clima tem algumas semelhanças com Cuba... Mas Portugal é um país livre e moderno e come-se bem. 

O que pensam fazer no futuro? Viver e treinar em Portugal, ou irem para outro país?

Temos uma excelente relação com o país e com o Benfica. Cativou-nos a grandeza do clube. O Benfica compete sempre para ganhar e acredita nos seus profissionais. Pelo que sei, sempre foi assim. Cumpre escrupulosamente com todos e não desiste facilmente dos atletas. Não existe, por isso, qualquer razão para duvidarmos da nossa aposta. Naturalmente, poderemos ir treinar fora de Portugal em alguns momentos do Inverno. Todos o fazem, não está aqui novidade alguma. Por esse motivo existem também as provas em pista coberta. 

Há a sensação pública de que a relação com o Nelson Évora não é boa. Isto é verdade?

Nós continuamos a ser as mesmas pessoas, focados no trabalho e a respeitar todos, o Nelson incluído. É um grande atleta e sempre tivemos uma boa relação. Depois do campeonato nacional de clubes, em Pombal, ele mudou.

Como acha que vai ser a convivência do Pedro e do Nelson Évora quando coincidirem na selecção nacional?

Que fique claro que nós não temos qualquer conflito com o Nelson. O Pedro tem objectivos ambiciosos na carreira e, quando vestir a camisola de Portugal, será sempre para dar o seu melhor e ajudar com bons resultados. É um erro a imprensa dizer que Pedro Pichardo veio substituir Nelson Évora. Ninguém muda a história, cada um faz um caminho e deixa a sua marca. Estou convicto que o meu filho fará tudo para alcançar muitas conquistas para Portugal.