Golpe de Estado tory contra May foi discutido mas (para já) mantém-se na gaveta
Cinquenta deputados conservadores pró-“Brexit” debateram estratégias para o afastamento da primeira-ministra. Líderes da ala eurocéptica do partido confirmam debate mas prometem apoiar May.
A revolta da ala eurocéptica do Partido Conservador contra Theresa May é cada vais palpável e menos especulativa. Cerca de cinquenta deputados pró-“Brexit” estiveram reunidos na terça-feira à noite a discutir abertamente o afastamento da líder, insatisfeitos com o seu plano para a saída do Reino Unido da União Europeia. Os principais rostos do movimento brexiteer não estiveram presentes na discussão, e desvalorizaram-na, rejeitando a existência de um plano coordenado para desafiar a liderança da primeira-ministra.
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A revolta da ala eurocéptica do Partido Conservador contra Theresa May é cada vais palpável e menos especulativa. Cerca de cinquenta deputados pró-“Brexit” estiveram reunidos na terça-feira à noite a discutir abertamente o afastamento da líder, insatisfeitos com o seu plano para a saída do Reino Unido da União Europeia. Os principais rostos do movimento brexiteer não estiveram presentes na discussão, e desvalorizaram-na, rejeitando a existência de um plano coordenado para desafiar a liderança da primeira-ministra.
De acordo a BBC, no encontro de terça-feira que reuniu elementos do European Research Group (ERG) – uma facção eurocéptica tory – com assento parlamentar, ouviram-se frases como “May tem de ir embora”, “ela é um desastre” ou “isto não pode continuar”. A ITV relata ainda que alguns deputados questionaram-se sobre qual “a melhora forma de mandar [May] embora” e quais os “cenários possíveis” para o fazer “durante o Outono”.
Em cima da mesa esteve a possibilidade de se avançar para um voto de não-confiança. Mas o plano foi descartado quase de imediato. Segundo os regulamentos do partido, para iniciar o processo é preciso que 15% dos deputados (48 dos actuais 315) enderecem uma carta ao presidente da bancada tory a manifestar a intenção de se organizar a referida votação – alguns deputados, como Andrew Bridgen, revelaram no encontro que já o fizeram.
No entanto, reunir as cartas necessárias não chega. Para fazer cair a líder conservadora é necessária uma maioria de 158 votos. Números ainda inalcançáveis para o ERG.
Talvez por isso a conclusão a que se chegou foi a de que é mais prudente manter por enquanto os planos de golpe de Estado contra May na gaveta e continuar a insistir com a primeira-ministra sobre a urgência de se renunciar ao seu “plano Chequers”. Este, o chamado “soft ‘Brexit’”, prevê a integração do Reino Unido numa zona de comércio livre com a UE, norteada por regras definidas por Bruxelas, e é fortemente contestado pela ala pró-“hard ‘Brexit’”, que o vê como uma submissão à Europa e ao Mercado Único.
Na segunda-feira o ex-subsecretário de Estado para o “Brexit” Steve Baker – que presidiu ao encontro de terça-feira à noite – disse mesmo que 80 deputados tories estão preparados para votar contra o acordo final, caso May não recue na proposta.
Ausentes da reunião do ERG estiveram os principais representantes do eurocepticismo tory, como Boris Johnson (ex-ministro dos Negócios Estrangeiros), David Davis (ex-ministro do “Brexit”), Jacob Rees-Mogg (líder do ERG) ou Iain Duncan Smith (ex-líder do Partido Conservador). Curiosamente, foram alguns deles os primeiros a sair em defesa de May esta quarta-feira.
“A proposta necessita de ser alterada, mas apoiamos a sua autora. May tem enormes virtudes, é uma primeira-ministra muito zelosa e tem o meu apoio”, garantiu Rees-Mogg aos jornalistas. “Discordo de May em apena uma questão, mas ela deve manter-se no cargo porque precisamos de estabilidade e de uma governação decente”, corroborou Davis que, tal como Johnson, abandonou o Governo em Julho, em desacordo com o “plano Chequers”.
Já Duncan Smith optou por desvalorizar a discussão sobre o futuro imediato de May. À Sky News, o actual deputado disse que o caso “não traz nada de novo”, uma vez que “são as mesmas pessoas a dizer as mesmas coisas”. “De momento o problema não é May. Ela é a primeira-ministra, está segura e ninguém quer fazer qualquer mudança”, acrescentou.
A correr contra o tempo para selar um acordo com os parceiros europeus na cimeira extraordinária de Novembro e submetê-lo a uma votação no Parlamento antes do dia 29 de Março de 2019 – a data oficial do divórcio –, a primeira-ministra mostra-se irredutível.
Esta quarta-feira um porta-voz de Downing Street insistiu que a proposta da líder do executivo é a “mais credível” e que, por isso, May vai lutar e resistir contra qualquer tentativa de golpe interno.