Montepio ainda só recebeu 91 mil euros da economia social

Dos 200 milhões inicialmente anunciados que a Santa Casa investiria no Montepio passou-se para um valor de 48 milhões a dividir pelas várias instituições da economia social. Mas, até agora, o valor aplicado não chega a 100 mil euros.

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Investimentos do sector social no Montepio continuam longe do previsto pcm patricia martins

O conjunto das instituições da economia social que se propuseram adquirir até 2% da Caixa Económica Montepio Geral (CEMG) até ao momento apenas investiram 91 mil euros, longe dos 48 milhões de euros que Tomás Correia disse querer ver concretizados até Dezembro, o mês em que haverá eleições para a liderança da Associação Mutualista (AMMG). Mas este valor fica ainda mais longe dos 200 milhões de euros que o dirigente da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML), Edmundo Martinho, chegou a anunciar no final de 2017 que iria investir no Montepio.

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O conjunto das instituições da economia social que se propuseram adquirir até 2% da Caixa Económica Montepio Geral (CEMG) até ao momento apenas investiram 91 mil euros, longe dos 48 milhões de euros que Tomás Correia disse querer ver concretizados até Dezembro, o mês em que haverá eleições para a liderança da Associação Mutualista (AMMG). Mas este valor fica ainda mais longe dos 200 milhões de euros que o dirigente da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML), Edmundo Martinho, chegou a anunciar no final de 2017 que iria investir no Montepio.

Dos 91 mil euros aplicados até agora na CEMG, a maior parte, 75 mil euros, saiu da SCML, que a seguir à AMMG é a grande instituição da economia social e que é sustentada pelo negócio do jogo. Os restantes 16 mil euros (dos 91 mil) foram disponibilizados pela União das Misericórdias, em cerca de cinco mil euros, e por 11 instituições particulares de solidariedade social (IPSS), em 11 mil euros, quando tinha sido anunciado que haveria um número mais alargado de instituições a investir.

Em síntese: o acordo firmado no final de Junho entre Tomás Correia, à frente da AMMG, e Edmundo Martinho, da SCML, Manuel Lemos, da União das Misericórdias Portuguesas, João Marques Pereira, da Associação Portuguesa de Mutualidade, apenas foi concretizado em 0,2% da meta planeada, o que contraria a ideia veiculada na altura da assinatura do acordo de que a seguir às primeiras entregas de capital outras se seguiriam. Se mais nenhuma entrega fosse feita, os 91 mil euros apenas representariam cerca de 0,004% do capital da CEMG, ficando muito longe do objectivo dos 2%.

Recorde-se que em Junho, quando foram comunicados os detalhes da parceria, Tomás Correia declarou que esperava que os 48 milhões de euros chegassem à CEMG até ao final de 2018. E que essa expectativa não se devia a “necessidades de capital”, mas à vontade de criar um banco da economia social e que está a ser reorganizado. E espera-se que ainda este mês Carlos Tavares, presidente da CEMG, divulgue o prometido plano de transformação da instituição para a focar no segmento dos particulares e das pequenas e médias empresas, o que visa um regresso às origens.

A construção da parceria entre a AMMG, as misericórdias e as IPSS tem-se revelado um processo dinâmico que deveria ter ficado fechado no final de 2017 e a valores mais expressivos. Nessa fase, Edmundo Martinho anunciou que a SCML iria assumir 10% da CEMG por 200 milhões de euros. E foi quanto bastou para levantar um coro de protestos, nomeadamente da esfera política.

Para além de os recursos não serem infinitos e de a vocação da SCML ser trabalhar na área social, a escala do investimento previsto, de 200 milhões de euros, exporia a instituição a um sector de risco e consumidor de muito capital. E a fasquia dos 200 milhões de euros caiu para um máximo de 18 milhões de euros, mas que por enquanto não passou dos 75 mil euros.

Ao jornal online Eco, a 2 de Julho, Edmundo Martinho lamentou o facto de o seu projecto de tomada de 10% da CEMG não ter sido “acarinhado” pela esfera política, o que o obrigou a ter objectivo de parceria mais modestos, ficando com uma participação “simbólica” de 75 mil euros, uma participação que alegou “que nem tem zeros suficientes na calculadora para a calcular”.

A quantia aplicada permitiu à SCML nomear um representante, Manuel Teixeira, para o conselho de administração não executivo do banco.

E, na sequência do acordo firmado em Junho deste ano, Tomás Correia e Edmundo Martinho tomaram outra iniciativa, como avançou o Expresso: a “criação de um fundo de capital de risco financiado por 20% dos lucros da CEMG e a ser gerido autonomamente” para investir no sector da economia social. 

A 25 de Junho deste ano, o Governo, que tem a tutela do sector social, aprovou a entrada simbólica da SCML na CEMG, com o ministro do Trabalho, da Solidariedade e da Segurança Social, Vieira da Silva, a alegar que o ajustamento de valores não é fruto de “qualquer mudança no que se refere à convicção firme da importância da existência de uma instituição forte e robusta detida por entidades da economia social”.