A verdadeira ciência vai vencer as fake news e a pseudo-ciência

Vivemos num mundo onde as fake news, a pseudo-ciência, as simples opiniões e as teorias da conspiração são fabricadas como se fossem ciência, com termos da ciência, com credibilidade de ciência, mas ignorando todo o método científico

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Fancycrave/Unsplash

Hoje existem incontáveis mundos ao alcance da ponta dos nossos dedos. Realidades que passam para cima e para baixo e onde seguir multidões constantes dá um conforto de pertença dos diabos. Vermelhos ou verdes, direita ou esquerda, sim ou não. Grita-se tanto e tão alto com capslock que deixamos de nos ouvir a nós próprios. Esquecemo-nos, até, da razão pela qual ali estamos. Mais do que tudo, construimos e ficamos, cada vez mais, na nossa bolha, vulneráveis a argumentos e opiniões que nos dizem exactamente aquilo que queremos ouvir. Convergimos para o vazio de nós mesmos e divergimos aceleradamente de tudo o resto.
Diz-se que sim, diz-se que não e que talvez, mas sobretudo diz-se o que queremos ouvir: que os nossos maiores medos afinal são só isso. Que vamos viver para sempre. Que a Terra é plana. Que nunca fomos à Lua. Que há curas simples para tudo. Que o aquecimento global é obviamente falso. Que a medicina moderna é afinal a fonte de toda a doença e sofrimento. Como se há 100 ou 200 anos todos fôssemos felizes, saudáveis, numa sociedade igual e fraterna.

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Hoje existem incontáveis mundos ao alcance da ponta dos nossos dedos. Realidades que passam para cima e para baixo e onde seguir multidões constantes dá um conforto de pertença dos diabos. Vermelhos ou verdes, direita ou esquerda, sim ou não. Grita-se tanto e tão alto com capslock que deixamos de nos ouvir a nós próprios. Esquecemo-nos, até, da razão pela qual ali estamos. Mais do que tudo, construimos e ficamos, cada vez mais, na nossa bolha, vulneráveis a argumentos e opiniões que nos dizem exactamente aquilo que queremos ouvir. Convergimos para o vazio de nós mesmos e divergimos aceleradamente de tudo o resto.
Diz-se que sim, diz-se que não e que talvez, mas sobretudo diz-se o que queremos ouvir: que os nossos maiores medos afinal são só isso. Que vamos viver para sempre. Que a Terra é plana. Que nunca fomos à Lua. Que há curas simples para tudo. Que o aquecimento global é obviamente falso. Que a medicina moderna é afinal a fonte de toda a doença e sofrimento. Como se há 100 ou 200 anos todos fôssemos felizes, saudáveis, numa sociedade igual e fraterna.

Vivemos num mundo onde as fake news, a pseudo-ciência, as simples opiniões e as teorias da conspiração são fabricadas como se fossem ciência, com termos da ciência, com credibilidade de ciência, mas ignorando todo o método científico. Num mundo em que até algumas instituições abraçam o ignorar da ciência. Num mundo assim, muito mais importante do que tentar convencer alguém a “acreditar” em especialistas é ensinar, cada vez mais e melhor, a pensar. A questionar. A argumentar. Convencer a população de que deve acreditar cegamente em cientistas não é nenhuma vacina contra a charlatanice, antes pelo contrário: é uma parte significativa do problema, ainda mais quando tantos podem ser “cientistas” e “especialistas”.

Como cientistas precisamos de mostrar à sociedade a verdade sobre a ciência, sobre a incerteza, sobre a dúvida, sobre o questionar constante. E sermos capazes de promover e enaltecer a dúvida e a discussão saudáveis como chaves para combater a verdadeira ignorância. Os verdadeiros cientistas e investigadores que ainda não sucumbiram ao "investigador-faz-de-conta" gostam (precisam!) de ser questionados, querem questionar e importam-se sempre em saber mais. Um especialista que foge às perguntas ou que defende à força a sua “verdade” não é especialista de coisa nenhuma.

Por isso, a divulgação científica, mais do que mostrar as maravilhas que conseguimos ver ou descobrir, devia passar cada vez mais pela maior aproximação possível a todos nós. Não apenas com a missão de sensibilizar para a importância do conhecimento para a humanidade como um todo, mas como um remédio para a ignorância e a intolerância. Como uma ferramenta anti fake news. E com uma total transparência e honestidade sobre o que é ciência e investigação, mostrando as suas virtudes, mas sobretudo as suas limitações e incertezas.

A ciência é a luz que vai vencer a proliferação das fake news e a pseudo-ciência. Não por nos revelar “verdades” absolutas, mas porque nos dá as ferramentas objectivas que são de toda a humanidade e que, verdadeiramente partilhadas, nos permitem ver o que é falso, o que é mentira, e o que claramente está errado.

É que as verdades absolutas, venham elas de onde vierem, não são mais do que distorções da realidade ou, na melhor das hipóteses, mentiras maquilhadas de conveniência. Fabricadas para simplesmente manipular, ou porque se acredita que a população em geral é demasiado ignorante e imatura para a complexidade e inconveniência da realidade. Ensinemos então a sociedade a lidar com a complexidade, com a inconveniência, com a frontalidade, com a discussão construtiva e com a incerteza, e não só venceremos quaisquer fake news e resultados pseudo-científicos, como rebentaremos as bolhas que cada vez mais nos isolam uns dos outros.