Ana Rita Bessa: “Sabia-nos bem uma 'geringonça' topo de gama à direita"
A deputada assume que o CDS “tem sido a voz da oposição em muitas matérias”. Sem atacar directamente o PSD, Ana Rita Bessa projecta o CDS como a “alternativa” ao PS.
Estreou-se como deputada em 2015 e faz parte da comissão executiva do CDS, o núcleo mais restrito de Assunção Cristas, que faz este sábado a rentrée do partido com uma festa das famílias em Ermesinde. Ana Rita Bessa, 45 anos, diz que o objectivo do partido é “maximizar o espaço centro-direita” e mostra-se disponível para ouvir outras forças, como a Aliança. Mesmo vendo o partido de Santana Lopes como "muito misterioso”.
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Estreou-se como deputada em 2015 e faz parte da comissão executiva do CDS, o núcleo mais restrito de Assunção Cristas, que faz este sábado a rentrée do partido com uma festa das famílias em Ermesinde. Ana Rita Bessa, 45 anos, diz que o objectivo do partido é “maximizar o espaço centro-direita” e mostra-se disponível para ouvir outras forças, como a Aliança. Mesmo vendo o partido de Santana Lopes como "muito misterioso”.
Em temas como a descentralização, a eutanásia, o CDS demarcou-se do PSD. É uma estratégia?
A motivação não é demarcarmo-nos do PSD. É termos um caminho próprio e autónomo. Por vezes daí decorre que, ocupando o mesmo espaço do centro-direita lato, não temos a mesma visão. A descentralização é um bom exemplo disso. Somos favoráveis ao conceito no sentido em que isso nos traria conceptualmente melhor Estado, melhores serviços de proximidade. O problema é que a proposta que o Governo trouxe, apoiada por outros partidos, mais Estado e pior Estado. É pior porque passa responsabilidades sem passar a capacidade de decidir e o envelope financeiro. E é mais Estado porque não extingue a montante nenhum dos pontos de decisão anteriores.
CDS e PSD têm vindo a afastar-se desde a nova liderança de Rio. Isso é vantajoso ou preferia um caminho mais alinhado?
Nós temos muito claro quem são os nossos adversários políticos. São o partido do Governo, o PS, o BE, o PCP e os Verdes. E é em relação a esses que temos as maiores diferenças. Parece-me que temos sido, de facto, a voz da oposição em muitas matérias. A descentralização é um dos exemplos, o outro é a eutanásia - pelo passo rápido que demos, mas também a Venezuela, Tancos, a política de educação com os contratos de associação e com os exames, a saúde. Não estamos particularmente preocupados com o que o PSD está a fazer. O que queremos é que nesse espaço – seja com PSD, com a Aliança ou seja com quem for – seja possível angariar os 116 deputados. Depois da geringonça até nos sabia bem marcar uma geringonça topo de gama à direita, agora que já se testou o rascunho.
Essa geringonça passaria por fazer uma aliança com o novo partido de Santana Lopes?
Não conhecemos o partido. Conhecemos o nome, o protagonista e algumas ideias. Mas ainda é tudo muito misterioso. Estamos disponíveis para ouvir, interessados em maximizar as vozes à direita. Até para enriquecer o debate político. À esquerda temos muitas vozes – Governo, PS, PCP, BE, Verdes e em alguns dias o PAN. Do outro lado PSD e CDS. O desequilíbrio é muito grande.
O CDS subiu nas sondagens. É possível que consiga desequilibrar o peso das forças do centro-direita?
O CDS é um partido que tipicamente tem más sondagens. O caso mais emblemático é o de Lisboa. Preocupa-nos fazer o nosso trabalho bem, estudar os dossiers e fazer propostas responsáveis. Não vamos partir para uma deriva eleitoralista. Pergunta: vamos ganhar as eleições? Não tenho uma bola de cristal. Mas nunca como agora o CDS tinha estado numa posição de partida tão favorável.
O CDS vai a jogo nas eleições de 2019 para que resultados?
Como diz a nossa líder, ‘nós vamos sempre para ganhar’. Assunção Cristas, que tem um nível de ambição elevado associado a um nível elevado de trabalho e de exigência para as pessoas que com ela estão, de facto, puxa por nós. Estamos todos pressionados no sentido de trabalhar e muito mais capazes de acreditar num resultado novo que nunca se terá alcançado em legislativas.
Como é que vê o centro-direita quando o que se discute neste momento é se o PS vai ter maioria absoluta?
António Costa pode ter a certeza absoluta de que não conta com o CDS para uma solução governativa. Não há nenhuma possibilidade de acordo do CDS com António Costa. Não porque somos do contra mas porque no centro direita somos a alternativa. Temos demonstrado isso com trabalho, com propostas. Não nos revemos de forma alguma no caminho que o PS propõe. É errado. Por outro lado, nos partidos que suportam o Governo, vemos que o PS nas questões difíceis como professores empurra, vemos que o bloco estrebucha, grita e pragueja mas depois vota a favor, vemos que o PCP é contra mas depois vota a favor. De facto, o CDS tem sido a única voz da oposição responsável, efectiva, contra António Costa.
O CDS não reconhece valor à estratégia do PSD que deu o seu acordo a reformas estruturais?
Em coisas importantes para o país, como a NATO e a Europa, o CDS tem estado ao lado do Governo. Não faz sentido fazer acordos. Veja-se o caso da descentralização, em que o PSD se colocou ao lado do Governo mas afinal houve ali um volte face e a proposta não era mesma. São os próprios autarcas do PSD, do PS ou independentes como Rui Moreira que não se revêem em nada do que foi firmado entre as duas forças partidárias.
O CDS fez bem em dizer logo que não aprovava o OE mesmo sem o conhecer?
Pode parecer uma posição um bocadinho abrupta. Ao final de três anos de um caminho percorrido, em que o PS se associa ao Bloco, ao PCP e aos Verdes, cada orçamento só nos prova que há uma jogada permanente de ver até onde podemos ir para não nos aborrecermos uns aos outros. Seria muito difícil, altamente improvável, viabilizar qualquer orçamento que aparecesse nestes termos. O que temos estado a ver é que, em muitos casos, será um orçamento altamente eleitoralista. Vamos aumentar salários sem saber muito bem como é que paga as contas quem vem a seguir e como é que dá conta desses compromissos. Não é seguramente a nossa linha.
O que é que o CDS vai propor sobre carreira de professores?
O mesmo que temos assumido desde o Orçamento passado. Pareceu-nos totalmente leviana a forma como o Governo liderou o processo de descongelamento da administração pública toda. Era um assunto que vinha de alguns governos atrás e que é difícil porque toca numa série de direitos adquiridos, alterações laborais. Não preparar isso com uma discussão prévia e transparente permitiu criar-se na administração pública a ideia de que se vai repor tudo. Nós queremos perceber a conta, queremos perceber exactamente que dinheiro está em cima da mesa no descongelamento no caso dos professores. Mas o mesmo se aplica a outros grupos como as forças de segurança. No caso dos professores, há uma variável muito importante: as aposentações. Há de certeza um equilíbrio possível entre reposicionamento e aposentação antecipada. Parece-nos que o que vai ser feito é tentar gerir isto em mais um orçamento para atirar o problema para a frente, como é típico do PS. E garanto que o BE e PCP vão engolir esta fava e assinam por baixo.
A solução para os problemas da ferrovia é a privatização?
O CDS não exclui essa solução. Não somos fundamentalistas, como o PCP e o BE e até como parece ser agora o PS, de achar que a boa gestão é sempre pública. Vale a pena avaliar se há margem nesse sentido. O importante é ter o melhor serviço público.
A líder do CDS utiliza muito a expressão esquerdas encostadas. Como é que surgiu?
Tenho ideia de que surgiu numa reunião ou numa conversa em que alguém externo ao CDS usou essa designação. Assunção Cristas achou que ilustrava bem a ideia de que esta solução de Governo se mantém porque todos estão à procura de se manterem apoiados uns nos outros, sem um projecto comum para Portugal.
Se em 2019 houver uma geringonça à direita pode falar-se em direitas encostadas?
Não sei. Ainda nos falta perceber a Aliança, mas diria que não gostaria que nos chamassem assim, como admito que a geringonça não goste de ser chamada a assim.
Como é que vê o regresso de Manuel Monteiro ao CDS?
Sou relativamente recente no CDS. Com toda a humildade, não tenho essa experiência de pele do que foi estar no partido com Manuel Monteiro. A memória histórica que tenho de é ele ser presidente da Nova Democracia. Acompanho Assunção Cristas quando diz que incluímos todos mas que ainda há muita coisa por resolver nesse passado.