Exposição na Feira do Livro mostra um Porto sentido de fora

Através do estudo de mais de um século de guias de viagens compôs-se a exposição que mostra um Porto sentido e vivido por quem vinha de fora, a inaugurar este domingo na Feira do Livro do Porto.

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A Feira do Livro do Porto abriu nesta sexta-feira e, com ela, trouxe não só livros, mas também exposições ao Pavilhão Rosa Mota. “Porto sentido de fora: Livros e guias de viagem de Portugal entre a monarquia constitucional e o Estado Novo (1820 — 1974” é uma mistura de emoções, cores e cheiros do Porto, com autoria de Vasco Ribeiro, Elisa Cerveira, Emília Dias Costa e Ana Boura.

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A Feira do Livro do Porto abriu nesta sexta-feira e, com ela, trouxe não só livros, mas também exposições ao Pavilhão Rosa Mota. “Porto sentido de fora: Livros e guias de viagem de Portugal entre a monarquia constitucional e o Estado Novo (1820 — 1974” é uma mistura de emoções, cores e cheiros do Porto, com autoria de Vasco Ribeiro, Elisa Cerveira, Emília Dias Costa e Ana Boura.

O livro, que deu nome à exposição, compila os guias e livros de viagem sobre o Porto, dando-lhe a visão de quem ia conhecer a cidade nesses anos. Viajar por estes testemunhos sobre a cidade é passear pelo Porto de outros tempos pois, para além de se destacar a “paisagem física”, também se vê a “paisagem humana”, assinalou a professora Ana Boura.

Entre os anos em estudo, tanto o Porto como os próprios guias evoluíram. No início (1820) surgiam ainda em forma de cartas e até mesmo diários, para dar conta de necessidades muito pragmáticas e objectivas sobre o que era preciso para viajar até à Invicta. Já na década de 1950, era notório o volume do espólio de guias sobre a cidade, o que também servia de propaganda e manipulação pelo Estado Novo. Mas mais do que mostrar soluções práticas, davam conta, já nessa altura, do sentimento e das emoções que os autores sentiam quando a conheciam.

As obras recolhidas acabam por se tornar, não raras vezes, num espelho da sociedade e da gente portuense. A figura da mulher do Porto era algo que espantava e suscitava o interesse de quem por lá passava e a explicação para isso reside na robustez de que eram donas. Capaz de carregar enormes pesos à cabeça, assentes na conhecida rodilha, e nem assim perder o equilíbrio ou a postura, a mulher portuense suscitava a atenção dos estrangeiros que a descreviam como esbelta e robusta. Ao PÚBLICO, Vasco Ribeiro notou que a mulher do Porto era muito referida e acrescentou a frase lida durante a investigação: “esbeltas e robustas, carregavam mercadorias enormes na cabeça e quando abriam a boca lançavam gritos demoníacos e enérgicos”.

O Porto entretanto mudou, foi renovado e modernizado, já não é a cidade pobre que no séc. XIX e XX os guias pintavam. Na altura, os seus autores davam conta de uma cidade muito rural. Para Emília Dias da Costa essa ideia era, na maioria das vezes, “dada de uma forma desfasada da realidade”, não era uma representação fiel. Nesses outros tempos, o Porto era muito representado como uma cidade de vendedores de rua, sem automóveis e repleta de carros de bois. Elisa Cerveira notou ainda que há escritos que dizem que “os bois são o motor do Porto”. Utilizados para fazer o transporte de mercadorias, que chegavam pelo rio, os bois criavam grande azáfama e, até mesmo, muitos engarrafamentos nas ruas estreitas da altura.

Mas há também “um conjunto de princípios que estavam já lá bem espelhados e o Porto enquanto cidade de liberdade e cosmopolita, em relação ao poder centralista de Lisboa, era uma delas”, assinalou ainda Vasco Ribeiro.

Além desta faceta mais social, nestes guias tinham presença constante os eternos ex-libris: o Rio Douro e o Vinho do Porto. Poeticamente referido, o rio que rodeia a Invicta não passava indiferente aos visitantes e o vinho tornou-se numa figura omnipresente, acompanhado pela região vinhateira.

A exposição que ganhou o nome do livro (Porto sentido de fora) abre neste sábado portas ao público e no domingo tem lugar a sua inauguração oficial, pelas 17h30, na Mezzanine da Galeria Municipal do Porto. 

Texto editado por Ana Fernandes