Elas querem pôr as tribos de Angola na moda
A paixão que Mónica Rey e Laura Correia têm por Angola levou-as a lançar a marca Mukubais para ajudar as populações locais e mostrá-las ao mundo.
Duas amigas de infância, Mónica Rey, 32 anos, e Laura Correia, 36, viveram uma experiência tão intensa na tribo dos mucubais, no deserto do Namibe, em Angola. Agora, partilham-na através da marca de moda que baptizaram com o nome da comunidade, mas com "k". Na Mukubais vendem T-shirts com imagens da tribo. Uma parte das vendas reverte a favor de uma das famílias da tribo, com cerca de 15 elementos.
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Duas amigas de infância, Mónica Rey, 32 anos, e Laura Correia, 36, viveram uma experiência tão intensa na tribo dos mucubais, no deserto do Namibe, em Angola. Agora, partilham-na através da marca de moda que baptizaram com o nome da comunidade, mas com "k". Na Mukubais vendem T-shirts com imagens da tribo. Uma parte das vendas reverte a favor de uma das famílias da tribo, com cerca de 15 elementos.
As duas amigas levam, assim, os que adquirem as camisolas numa viagem até Angola. Elas próprias viajaram até lá e conviveram com os mucubais durante meses, numa experiência "inesquecível" em que não só deram um pouco de si, como receberam muito em troca, dizem.
Como é que tudo começou? Laura e Mónica não são de Angola, mas os pais andaram juntos na tropa, na então colónia portuguesa. Ambas cresceram em Portugal, mas têm uma forte relação com aquele país africano. Licenciaram-se em Portugal: Mónica em relações internacionais e hoje é produtora de espectáculos e trabalha na área de marketing, em Angola; Laura foi professora do 1.º ciclo em diferentes escolas daquele país, mas hoje tem uma empresa do ramo imobiliário, em Portugal. “Fui para Angola, em 2010, acompanhar o meu companheiro, que é jogador de futebol”, conta Laura. Por lá viveu durante oito anos em várias províncias, Huambo, Luanda, Namibe e Benguela. “Foram anos maravilhosos, porque pude conhecer uma terra que tem um significado muito especial para mim e para a minha família”, diz. Desde o clima à beleza do país, tudo fascina as duas amigas.
Com este novo projecto, Laura sempre vai estando com um pé em Portugal e outro em Angola, que é um país que lhe preenche as medidas e o coração. Mónica continua por Angola, onde tem os pais a viver há duas décadas, depois de terem vindo para Portugal fugidos da guerra em 1975.
Conhecer origens
As duas amigas sempre se interessaram por saber mais sobre as suas origens. “Sempre tivemos muita curiosidade em conhecer melhor as tribos, na sua forma original, tentando perceber como é que, com o passar do tempo e a modernização, muitas delas ainda conseguem manter intactos os seus costumes e crenças”, explica Mónica. E foi quando se lembraram de arrancar com o projecto de moda.
“As tribos em Angola são conhecidas por grande parte da população”, conta Laura. Já era costume verem alguns elementos desta tribo na cidade a venderem chinelos feitos a partir de borracha de pneu, pulseiras e um óleo hidratante de mupeque. E isso também as deixava com vontade de saber mais. Queriam conhecer aqueles que não iam à cidade.
Um dia, numa conversa, o tema surgiu. Um familiar de Mónica, que andava a fazer furos de água numa zona distante da cidade, conheceu esta família que as duas amigas fotografaram e retrataram nas T-shirts. “Fizemos questão de ir ter com eles, no meio onde vivem, para que pudéssemos entender os seus hábitos”, lembra Mónica.
A primeira vez que lá foram coincidiu com a chegada da chuva. “Já não chovia há três anos, disse-nos o chefe daquela família”, recorda, sublinhando que os mucubais atravessam grandes períodos de seca e muita fome. Lembraram-se, então, de os ajudar, mostrando-os ao mundo através da roupa e revertendo uma parte dos cerca de 50 euros que custa cada T-shirt a favor da tribo. “Não vamos resolver os problemas do mundo. Mas esperamos poder contribuir e ajudar de alguma forma”, afirma Laura.
Esse primeiro dia foi marcante. A partir do centro de Namibe não estavam muito longe. Numa hora e meia de carro e por estradas de terra batida, punham-se no local onde a tribo vive da pastorícia. “Eles não falavam português, as crianças não iam à escola”, lembra Mónica. “Vivem em cubatas e acendem as fogueiras por causa do frio”, continua. Sem tecnologias e a viver do que a terra lhes dá.
No início não foi fácil. “Eles não eram muito sociáveis e estranharam-nos”, conta. Mas, aos poucos, foram ganhando a confiança do chefe da tribo e depois dos restantes elementos. “O espanto com que olhavam para alguns objectos, como os óculos de sol, que lhes faziam confusão”, recorda Laura, emocionada. “O drone assustou-os imenso, mas depois perceberam que não era nada perigoso”, continua Laura.
E foi aí que surgiu a oportunidade de os fotografar. O resultado está à vista, impresso nas T-shirts que vendem sob a chancela da Mukubais.
As duas amigas ainda vão fazer o lançamento da marca em Angola. “Mais do que uma marca, Mukubais é um conceito”, sublinha Mónica. Começaram pelos mucubais, mas o projecto é para continuar com outras tribos africanas.