Sporting conquistou nove títulos em 64 anos de espiral descendente

Depois dos anos dourados de 1940 e da primeira metade de 1950, o futebol do Sporting entrou em queda depressiva marcada por efémeras reestruturações.

Foto
Jardel em 2002, na época em que o Sporting foi campeão pela última vez REUTERS/José Manuel Ribeiro

Em tempos, o jornal Sporting publicou um artigo da autoria do jornalista Couto e Santos com o título “Um Sporting campeão faz falta ao futebol português!”. Nada de muito surpreendente se não fosse a data: 22 de Dezembro de 1961.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Em tempos, o jornal Sporting publicou um artigo da autoria do jornalista Couto e Santos com o título “Um Sporting campeão faz falta ao futebol português!”. Nada de muito surpreendente se não fosse a data: 22 de Dezembro de 1961.

A crise no futebol “leonino” é antiga, como comprova o artigo referido e a frieza dos números: nas últimas 64 épocas, a equipa de Alvalade somou nove títulos na principal competição nacional e nem a conquista internacional da Taça das Taças (1963-64) disfarçou a progressiva perda de hegemonia a nível doméstico.

Acompanhe as eleições no Sporting ao minuto

As propostas e as listas dos seis candidatos à presidência

Nas sete temporadas anteriores à publicação do texto de Couto e Santos, os “leões” tinham apenas conquistado um campeonato. O autor, assumido simpatizante benfiquista, lamentava este súbito ocaso desportivo do rival, que dominara o futebol nacional durante os anos 1940 e a primeira metade dos anos 1950.

“Um Sporting distante do primeiro lugar ou longe da luta decisiva para o título seria uma catástrofe para o futebol português”, salientava o repórter do extinto Mundo Desportivo e antigo correspondente português da conceituada France Football — que ficaria conhecido por ter votado no inglês Bobby Charlton na corrida para a Bola de Ouro de 1966, retirando assim o prémio atribuído por esta revista francesa a Eusébio, que teve menos um voto.

Couto e Santos deixou ainda uma receita para o êxito que continua válida: “Um Sporting forte, unido, seguro de si próprio e do valor que possui, certo da sua grandeza e da sua força no panorama desportivo da nação é a maior certeza de que nem tudo é mau no futebol português.” Os problemas no futebol profissional “leonino” não são conjunturais, são estruturais. Remontam à saída de cena dos míticos “Cinco Violinos” — apelido da autoria do jornalista, treinador e seleccionador nacional Tavares da Silva pela forma afinada e pela qualidade com que jogavam —, que encerraram o período dourado da história do clube fundado por José Alvalade, em 1906.

Ao longo de 14 anos, entre as temporadas de 1940-41 e 1953-54, o Sporting venceria tantos campeonatos como aqueles que conquistou posteriormente: nove. Um enorme sucesso interno que levou o clube a ser convidado, em 1955, para participar na primeira edição da Taça dos Campeões Europeus em representação de Portugal.
O estádio em vez da equipa

A conquista do tetracampeonato, entre 1950 e 1954, um feito inédito até então no futebol português, assinalou a entrada dos “leões” numa espiral descendente (com a hegemonia a ser então assumida pelo Benfica), que coincide com a progressiva retirada de cena do tal quinteto mágico do ataque “leonino”: Jesus Correia (1943-1953), Vasques (1946-1959), Peyroteo (1937-1949), Travassos (1946-59) e Albano (1943-1956).

A grave crise financeira que afectou o clube na segunda metade da década de 1950, resultante da construção do primeiro Estádio José Alvalade (inaugurado a 10 de Junho de 1956) foi igualmente decisiva para precipitar o fim do ciclo mais positivo de sempre no futebol. O investimento impediu a renovação da equipa, pelo menos com o nível de qualidade anterior, ao mesmo tempo que o clube evidenciava dificuldades em adaptar-se aos novos tempos de profissionalismo no futebol.

O ciclo negativo acentuou-se a partir da década de 80 do século passado, com apenas dois títulos celebrados em 35 épocas. O actual jejum, o segundo maior de sempre, já leva 16 anos.

Entretanto, e até hoje, as direcções que foram passando pelo Sporting testaram os mais variados modelos para inverter este processo, com sucessivas reestruturações no futebol profissional e nas finanças para voltarem aos êxitos consistentes do passado. Mas ainda nenhuma conseguiu repetir as proezas de António José Ribeiro Ferreira.

Presidente entre 1946 e 1953 (ano em que morreu com apenas 47 anos), este advogado e político conquistou seis campeonatos, um recorde ainda por bater no historial “leonino”.

Um dos grandes méritos de Ribeiro Ferreira, que explica muito o sucesso no futebol, foi a contratação de Cândido de Oliveira para o lugar de coordenador técnico. O resultado foi a construção de uma grande equipa que deslumbrou como nunca os adeptos.
Estes continuam inabaláveis no seu sportinguismo apesar da escassez de títulos, o habitual elixir de fidelidade clubística. Ainda olham para um passado glorioso cada vez mais distante enquanto sonham com o mecenas que lhes possa devolver o orgulho das vitórias.