Crime no Montijo: sangue em carro de professora carbonizada implica filha e genro
Sangue humano, imagens de videovigilância, localização dos telemóveis e outros indícios permitiram à PJ identificar os dois suspeitos do homicídio de uma professora. Filha e genro tinham uma relação tensa com a vítima. Ficaram em prisão preventiva.
O sangue humano encontrado num dos dois carros usados pela professora, de 59 anos, desaparecida desde sábado à noite no Montijo e cujo corpo carbonizado foi encontrado na quarta-feira, foi um dos principais indícios encontrados pela Polícia Judiciária que lançou a suspeita sobre a filha adoptada, de 23 anos, e o genro, de 27 anos.
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O sangue humano encontrado num dos dois carros usados pela professora, de 59 anos, desaparecida desde sábado à noite no Montijo e cujo corpo carbonizado foi encontrado na quarta-feira, foi um dos principais indícios encontrados pela Polícia Judiciária que lançou a suspeita sobre a filha adoptada, de 23 anos, e o genro, de 27 anos.
Os dois suspeitos foram detidos nesta madrugada pela PJ por suspeitas de homicídio e profanação de cadáver. Ficaram em prisão preventiva.
As imagens das câmaras de videovigilância de uma gasolineira, onde se verão os dois suspeitos a comprar a gasolina com a qual terão ateado fogo ao corpo da vítima, foram outro dos indícios que permitiram a detenção. Também a localização celular dos telemóveis da filha e do marido solidificaram as suspeitas da PJ.
As pesquisas no computador e a casa limpa
Os alegados homicidas terão pesquisado a melhor forma de concretizar algumas etapas do crime num computador, cujo histórico de pesquisas foi analisado pela PJ — o que faz com que as autoridades acreditem tratar-se de um homicídio premeditado, organizado com pelo menos 24 horas de antecedência. O estado extremo de limpeza da casa onde viviam também terá alertado a polícia para a possibilidade de homicídio.
Confrontados com todos os indícios existentes, os suspeitos, que se casaram em Julho passado, terão acabado por reconhecer perante a polícia a autoria dos crimes e revelado alguns pormenores do caso.
"Diligências realizadas por esta polícia, desde a passada quarta-feira, permitiram indiciar que, na realidade, os ora detidos, filha e genro da pessoa desaparecida, que com ela coabitavam, na sequência de inúmeras desavenças, delinearam um plano, executado conjuntamente, para lhe tirar a vida", refere a Polícia Judiciária em comunicado.
Relação tensa
Amélia Fialho, professora de Físico-Química na Escola Secundária Jorge Peixinho, no Montijo, partilhava casa com a filha única e o genro. Nenhum dos dois suspeitos trabalhava: a filha estaria inscrita na faculdade e o genro, licenciado em Contabilidade, estaria desempregado. Dependiam economicamente da vítima — com quem mantinham uma relação tensa, pautada pelas discussões constantes que, de acordo com os vizinhos, obrigaram a chamar a PSP ao local onde viviam em mais do que uma ocasião.
Naquela polícia há pelo menos um registo de agressões entre as duas, em 2014. Alegadamente, a mãe não gostava do namorado da filha, com o qual mantinha uma relação de vários anos. Já teriam vivido com a vítima uma vez, quando ainda não estavam casados, mas, devido a vários conflitos, mudaram-se para a casa dos pais dele. Mais tarde, voltaram a viver com a professora.
Na sexta-feira, uma nova discussão terá contribuído para o desfecho deste caso.
De acordo com a filha, a vítima terá sido vista pela última vez no sábado à noite, mas o alerta do desaparecimento só foi dado às autoridades na segunda-feira. Alegadamente, a vítima teria saído de casa por vontade própria, e não usou nenhum dos dois carros que tinha. Durante a semana, o alerta foi partilhado pelo Facebook.
Na quarta-feira as autoridades encontraram um corpo completamente carbonizado em Pegões, a cerca de 30 quilómetros do Montijo.
Drogada e agredida com um martelo
A PJ ficou alerta para a possibilidade de se tratar da mulher desaparecida. Mas o estado em que o corpo foi encontrado — completamente carbonizado, ao ponto de não se perceber se o cadáver era masculino ou feminino — não permitiu concluir, com certeza, que se tratava da professora desaparecida. A autópsia ainda não foi realizada.
De acordo com fonte da Polícia Judiciária, ouvida pelo PÚBLICO, o casal terá colocado um medicamento numa garrafa que a mãe usava. Era a única pessoa que bebia daquele recipiente porque estaria a fazer uma dieta.
Depois de estar adormecida, agrediram-na "violentamente no crânio com um objecto contundente", diz o comunicado da polícia — um martelo, conforme contou o casal à PJ —, várias vezes. Enrolaram o corpo num cobertor, disse a fonte da PJ, e carregaram-no até ao elevador, para, acrescenta o comunicado, o colocarem “na bagageira de uma viatura” que a vítima usava — e no qual foi encontrado sangue humano.
Os investigadores da PJ acreditam que a vítima já estaria morta depois de ter sido agredida. Os suspeitos partiram com destino a “uma zona rural de Pegões”, lê-se no comunicado.
Gravados por câmaras de segurança
No caminho, pararam numa bomba para comprar gasolina, e terão sido gravados pelas câmaras de vigilância. As imagens terão sido um dos principais indícios da PJ. Quando chegaram a Pegões, terão regado com gasolina a familiar e ateado fogo ao corpo.
Depois disso, reportaram o desaparecimento à polícia e lançaram alertas nas redes sociais, tendo a filha esta quinta-feira dado entrevistas a vários órgãos de comunicação social. Quando questionados acerca da arma do crime, um martelo, o casal terá contado que o lançara ao rio Tejo, a partir da ponte Vasco da Gama, a 40 quilómetros de Pegões. A arma dificilmente será encontrada.