Rússia rejeita proposta de cessar-fogo na província síria de Idlib
Presidente turco diz que é preciso "evitar um drama humanitário". Vladimir Putin concorda, mas diz que não pode falar em nome das partes em conflito.
A cimeira que juntou esta sexta-feira os três líderes estrangeiros mais envolvidos na guerra na Síria fez pouco para alterar o provável destino da província de Idlib, a última área do país ainda sob controlo dos grupos que combatem contra o Governo de Bashar al-Assad.
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A cimeira que juntou esta sexta-feira os três líderes estrangeiros mais envolvidos na guerra na Síria fez pouco para alterar o provável destino da província de Idlib, a última área do país ainda sob controlo dos grupos que combatem contra o Governo de Bashar al-Assad.
No encontro, que decorreu em Teerão, o Presidente russo, Vladimir Putin, desvalorizou a proposta da Turquia para um cessar-fogo na região, o que mantém em aberto a forte possibilidade de as tropas sírias lançarem um ataque em larga escala numa província onde alguns milhares de combatentes vivem no meio de quase três milhões de pessoas, entre as quais um milhão de crianças.
"Em termos gerais, acho que o Presidente da Turquia tem razão. Isso seria bom. Mas eu não posso falar por eles. E, acima de tudo, não posso falar pelos terroristas da Frente al-Nusra ou do ISIS [Daesh] para deixarem de disparar ou usar drones com bombas", disse Putin, referindo-se à ligação de alguns grupos de rebeldes anti-Assad ao movimento jihadista internacional.
Apesar de ainda haver bolsas de resistência um pouco por todo o país, a guerra na Síria parece ter entrado na sua fase final – com o apoio da Rússia e do Irão, o Governo sírio conseguiu recuperar a esmagadora maioria das zonas perdidas para os rebeldes ao longo dos sete anos de guerra.
Falta cair a província de Idlib, no Noroeste, junto à fronteira com a Turquia, onde à população local se juntaram centenas de milhares de pessoas em fuga de outras regiões entretanto conquistadas pelas tropas de Bashar al-Assad.
Entre os rebeldes que controlam Idlib há várias facções, com interesses distintos e até em guerra entre si. O grupo que controla a maior parte da província é o Hayat Tahrir al-Sham (antiga Frente al-Nusra), considerado o braço sírio da Al-Qaeda; mas os rebeldes da Frente de Libertação Nacional, apoiados pela Turquia, também controlam grande parte da região.
Tanto as Nações Unidas como os Estados Unidos têm alertado para a iminência de um ataque em larga escala contra Idlib, com possível uso de armas químicas – um passo militar importante para o desfecho da guerra e potencialmente catastrófico em termos humanitários.
Neste cenário, tanto a Rússia como o Irão têm dito que é importante evitar a perda de vidas civis, mas ambos os governos defendem a legitimidade do Governo sírio para tomar Idlib.
"A luta contra o terrorismo em Idlib é uma parte indispensável da missão de devolver a paz e a estabilidade à Síria, mas esta luta não deve afectar os civis e levar a uma política de terra queimada", disse esta sexta-feira o Presidente iraniano, Hassan Rouhani.
Dos três países, o mais interessado em evitar um ataque em larga escala contra Idlib é a Turquia – apesar de ser o único dos três que apoia grupos de rebeldes contra o Governo sírio. Isto porque uma operação militar de grande envergadura naquela zona pode levar centenas de milhares de pessoas a tentarem fugir para território turco.
É por isso que o Presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, disse esta sexta-feira, na cimeira de Teerão, que uma investida militar resultaria "em desastre, num massacre e num drama humanitário". E acrescentou que a Turquia "já esgotou a sua capacidade de acolher refugiados".
Em concreto, Putin, Erdogan e Rouhani concordaram apenas numa coisa: a próxima cimeira a três vai decorrer em Moscovo.