Provável candidato do PT à presidência do Brasil acusado de corrupção e lavagem de dinheiro

Ministério Público acusa Fernando Haddad de ter recebido 2,6 milhões de reais de uma empreiteira quando era presidente da câmara de São Paulo. Possível substituto de Lula na corrida à presidência questiona timing da denúncia.

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Reuters/RODOLFO BUHRER

Fernando Haddad, actual candidato a vice-presidente do Brasil pelo Partido dos Trabalhadores (PT) e provável substituto de Lula da Silva na corrida à presidência, foi formalmente acusado pelo Ministério Público de São Paulo de corrupção, lavagem de dinheiro e associação criminosa.

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Fernando Haddad, actual candidato a vice-presidente do Brasil pelo Partido dos Trabalhadores (PT) e provável substituto de Lula da Silva na corrida à presidência, foi formalmente acusado pelo Ministério Público de São Paulo de corrupção, lavagem de dinheiro e associação criminosa.

De acordo com o jornal Estadão, o Ministério Público acusa a empreiteira UCT Engenharia de ter pago indevidamente 2,6 milhões de reais (mais de 540 mil euros) ao então presidente da câmara de São Paulo, entre Abril e Maio de 2013, sob a forma de pagamento de uma suposta dívida ao PT.

“Prefeito da cidade de São Paulo, recém-eleito (2013), detendo o poder, em razão de suas funções, ainda que em perspectiva de hipótese e mesmo que não se concretizasse qualquer contrapartida para a empresa UTC Empreiteira S.A., solicitou e recebeu indirectamente, vantagem indevida de R$ 2.600.000,00. Depois, agiu por interpostas pessoas de forma a dissimular a natureza, a origem, a localização e a movimentação dos valores provenientes, directa e indirectamente, daquela infracção penal”, refere a acusação.

O procurador que elaborou a denúncia, Marcelo Mendroni, diz que o pedido de dinheiro ao empresário da UTC Ricardo Pessoa, foi feito pelo antigo tesoureiro nacional do PT, João Vaccari Neto, que “representava e falava em nome de Fernando Haddad”. Mendroni refere que, mesmo tendo o partido sido “directamente” beneficiado pelo pagamento e o dirigente petista “indirectamente” beneficiado, foi este último o “beneficiário final”.

Para além de Haddad, Pessoa e Vaccari Neto – já condenado por corrupção  –, foram ainda denunciados no esquema o empresário Alberto Youssef e o ex-director financeiro da UTC, Walmir Pinheiro Santana.

Numa nota à imprensa, a equipa de Haddad contestou a denúncia – recordando que o testemunho de Pessoa "em quase uma dezena de casos” foi rejeitado e acusando o empresário de “contar as suas histórias de acordo com seus interesses” – e o timing  da mesma (as eleições são a 8 de Outubro) . “Surpreende que, no período eleitoral, uma narrativa do empresário Ricardo Pessoa, da UTC, sem qualquer prova, fundamente três acções propostas pelo Ministério Público de São Paulo, contra o ex-prefeito e candidato a vice-presidente da República, Fernando Haddad”.

Em Maio deste ano, a justiça eleitoral tinha já acusado Haddad de ter utilizado um “saco azul” para receber este valor durante a campanha em São Paulo, em 2012. Neste caso, Haddad era acusado de crime eleitoral, sendo que o Ministério Público Eleitoral pediu o pagamento dos 2,6 milhões por reparação de danos em troca do encerramento do processo.

A acusação não impede a candidatura de Haddad à vice-presidência do Brasil ou uma eventual candidatura à presidência. Segundo a “Lei da Ficha Limpa” – aprovada por Lula em 2010 – apenas ficam impedidos de concorrer a cargos eleitorais aqueles que forem condenados em segunda instância.

“Lula é Haddad”

A estratégia do PT para as eleições de Outubro continua orientada para o esgotamento de todos os recursos judiciais possíveis, no sentido de apresentar Lula da Silva como o seu candidato. O ex-Presidente, condenado por corrupção e lavagem de dinheiro no caso do tríplex do Guarujá e detido desde Abril, lidera as sondagens.

Face à decisão de sábado do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que exigiu ao partido a substituição de Lula por outro candidato no prazo de dez dias, o PT avançou com dois novos recursos (um criminal e outro eleitoral) junto do Supremo Tribunal Federal e agarra-se agora à posição do Comité de Direitos Humanos das Nações Unidas, que recomendou ao Brasil que adopte as “medidas necessárias” para garantir a candidatura presidencial do histórico petista.

E para ultrapassar a proibição, decretada pelo TSE, de fazer campanha com Lula da Silva enquanto candidato, o PT pôs em prática, já nesta terça-feira, pequenas alterações às suas mensagens eleitorais, via rádio e televisão.

A música da candidatura, por exemplo, passou a incluir “Lula é Haddad”, em vez de “Lula e Haddad”, e “Haddad é Lula lá”, em detrimento de “olha o Lula lá”.

Ao ex-presidente da câmara de São Paulo foi dado mais protagonismo, mas sempre de forma a não pôr em causa a figura central da candidatura, Lula. Nas emissões de rádio e televisão da manhã desta terça-feira, ouviu-se Haddad fazer juras de lealdade ao antigo Presidente e prometer dar sequência ao seu legado.