CP vai alugar mais quatro comboios à Renfe
A CP – Comboios de Portugal tem actualmente alugadas 20 composições à Renfe, a quem paga sete milhões de euros por ano
Apesar de ter afirmado, há uma semana, que não tinha material circulante disponível, a Renfe (Rede Nacional de Ferrovias Espanhola) assinou hoje um protocolo de cooperação para a CP alugar mais quatro comboios a gasóleo e uma primeira unidade eléctrica. Mas o material circulante a ceder pela operadora pública espanhola só chega em 2019.
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Apesar de ter afirmado, há uma semana, que não tinha material circulante disponível, a Renfe (Rede Nacional de Ferrovias Espanhola) assinou hoje um protocolo de cooperação para a CP alugar mais quatro comboios a gasóleo e uma primeira unidade eléctrica. Mas o material circulante a ceder pela operadora pública espanhola só chega em 2019.
O aluguer dos comboios foi formalizado em Madrid, pelo presidente da CP, Carlos Gomes Nogueira, e pelo da Renfe (Rede Nacional de Ferrovias Espanhola), Isaías Táboas, numa cerimónia com a presença do secretário de Estado das Infra-estruturas, Guilherme W. d’Oliveira Martins, e do seu homólogo espanhol, Pedro Saura.
Fonte governamental garantiu à Lusa que o primeiro comboio a gasóleo chegará no início de 2019 e que os outros três chegarão ao longo do ano.
Na última semana de Agosto, contudo, fonte oficial da Renfe tinha afirmado que a operadora espanhola não tinha mais comboios disponíveis para alugar a Portugal. Manuel Sempere, porta-voz daquela empresa, disse então ao PÚBLICO: “todos os comboios que temos estão em circulação e inclusivamente estamos com um plano de compra de material e não se contemplam outras opções”.
“Estamos abertos, desde logo, a qualquer tipo de negociação e inclusivamente a qualquer tipo de aliança estratégica com a CP porque somos vizinhos e interessa-nos partilhar tráfegos e poder explorar conjuntamente determinadas relações”, disse na altura o porta-voz da Renfe. Mas, repetiu, “não dispomos de mais material para alugar, está tudo em circulação e até temos um plano para a compra de comboios”.
A CP tem actualmente alugadas 20 composições à Renfe, a quem paga sete milhões de euros por ano, ou seja, cerca de 350 mil euros por comboio. Este contrato de aluguer de 17 automotoras data de 2010 e foi reforçado em 2014 com mais três unidades.
No acordo hoje formalizado, segundo o secretário de Estado das Infraestruturas português Oliveira Martins, ficou "determinado" o aluguer de material circulante - quatro unidades - em 2019 e fazer "uma série de testes para outras unidades e tipologias" nos próximos três meses, até ao final do corrente ano.
"Há uma intenção firme, quer da CP quer da Renfe, para termos a primeira unidade eléctrica também em 2019. Isso é muito importante para nós", sublinhou o secretário de Estado das Infra-estruturas. Oliveira Martins confirmou que o aluguer de cada uma das novas unidades a gasóleo tem o mesmo "preço de referência", que será "adaptado" para o novo contrato.
Os comboios da Renfe têm de sofrer adaptações para circularem em Portugal, a nível de segurança e sinalização, e serem homologados pelo IMT - Instituto da Mobilidade e dos Transportes.
"O que é melhor para os consumidores [portugueses] é uma CP [Comboios de Portugal] que tenha qualidade, que tenha eficiência e que tenha material circulante disponível", disse no final da assinatura o secretário de Estado das Infraestruturas português.
Em Julho, o ministro do Planeamento, Pedro Marques, anunciou o reforço de aluguer de comboios de Espanha para melhorar o serviço nas linhas do Oeste e do Algarve, sem adiantar quantos seriam.
O aluguer de comboios pela CP visa suprir as necessidades enquanto se espera pelo concurso para a compra de mais comboios. "A CP está a preparar um caderno de encargos para, até ao final do ano, lançarmos o concurso de material circulante novo", disse hoje o secretário de Estado.
Entretanto, o Governo está a "apreciar e muito em breve" dará "nota" sobre o plano apresentado pela CP sobre a sua estratégia para enfrentar a liberalização do mercado europeu de transporte ferroviário de passageiros a partir de 1 de Janeiro de 2019.
De acordo com Oliveira Martins, RENFE e CP vão realizar uma cimeira conjunta em 3 de Outubro próximo "para firmar outras intenções de parceria".
"Não faremos nenhum movimento até termos um plano estratégico. Primeiro pensar, depois actuar, é isso que vamos fazer", assegurou Isaías Táboas.
Por fim, o protocolo passa ainda por troca de experiências de manutenção de comboios entre as empresas de manutenção da CP (EMEF) e a Renfe.
Portugal apenas pode alugar comboios a Espanha, uma vez que ambos os países têm bitola (distância entre carris) ibérica. Portugal ainda usa comboios a gasóleo uma vez que cerca de um terço da infra-estrutura ferroviária portuguesa está por electrificar.
As queixas sobre o serviço prestado pela CP subiram de tom recentemente e o tema já se tornou motivo de confronto político.
Amanhã, 4 de Setembro, o presidente da CP estará no Parlamento numa audição “sobre a degradação do material e o serviço prestado”, pedida pelo PSD, segundo a página da Assembleia da República na internet.
Na quinta-feira, 6 de Setembro, é a vez de o ministro do Planeamento e das Infra-estruturas, Pedro Marques, estar na comissão permanente o para debater a situação da ferrovia.
A CP divulgou esta semana que teve prejuízos de 54,6 milhões de euros no primeiro semestre, abaixo das perdas de 58,1 milhões de euros registadas nos primeiros seis meses de 2017.
No comunicado enviado à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), a empresa disse que estes resultados foram tidos num “cenário de ausência de indemnizações compensatórias e de contratualização do serviço público” e que a redução dos prejuízos “contribuíram, essencialmente, os proveitos de tráfego e a melhoria do resultado financeiro, motivada pela diminuição do passivo financeiro da empresa”.
O Estado, por decisão do Governo, injectou mais de 500 milhões na CP em 2017. Entre Janeiro e Junho deste ano, o Estado acordou injectar 54,9 milhões de euros na CP, mas apenas 36,9 milhões de euros foram já realizados. A empresa anunciou hoje, em comunicado ao mercado, um reforço de 32 milhões de euros pelo Estado, em numerário.