Incêndio destrói Museu Nacional no Rio de Janeiro

Edifício histórico com 200 anos albergava colecções únicas, que terão desaparecido no fogo.

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Um incêndio de grandes dimensões destruiu o Museu Nacional do Rio de Janeiro. O fogo deflagrou no domingo no edifício com 200 anos e terá queimado mais de 20 milhões de objectos, incluindo achados arqueológicos e outras colecções históricas. Era um dos maiores acervos históricos e científicos do país.

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Um incêndio de grandes dimensões destruiu o Museu Nacional do Rio de Janeiro. O fogo deflagrou no domingo no edifício com 200 anos e terá queimado mais de 20 milhões de objectos, incluindo achados arqueológicos e outras colecções históricas. Era um dos maiores acervos históricos e científicos do país.

O palácio foi construído quando o Brasil era ainda uma colónia portuguesa, e foi residência imperial.

A sua destruição é “uma perda incalculável para o Brasil”, disse o Presidente Michel Temer num comunicado. “Duas centenas de anos em trabalho, investigação e conhecimento foram perdidas.”

Ainda não se conhece a origem do fogo. O incêndio deflagrou após o encerramento do museu ao público, às 17h (21h em Lisboa), perto das 19h30 (23h30 em Lisboa) e continuou a lavrar durante a noite.

Falta de água nas bocas de incêndio prejudicou combate

De acordo com o comandante-geral dos bombeiros, Roberto Robadey, as duas bocas-de-incêndio localizadas na área do museu estavam sem água, o que dificultou o combate às chamas. Os bombeiros tiveram de esperar por camiões-cisterna. À Folha de S. Paulo, o comandante dos bombeiros diz ter accionado a Cedae (Companhia Estadual de Água e Esgoto), mas o problema não foi resolvido.

Diz ainda Robadey que o tipo de construção e o conteúdo do museu contribuíram para a proporção do incêndio, uma vez que o edifício, antigo, continha peças guardadas em álcool.

Ao mesmo jornal, o comandante afirmou que, numa primeira análise, as autoridades acreditam que não existe risco de desabamento. "É um edifício muito antigo, com paredes grossas. Os engenheiros analisaram e não detectaram risco por enquanto."

A perda de um “acervo insubstituível”

O Governo português lamentou “a perda de um acervo histórico e científico insubstituível” do “emblemático” Museu Nacional do Brasil, “assim como pelos danos sofridos pelo próprio edifício, também ele um marco importante da História comum luso-brasileira”.

Num comunicado divulgado na tarde desta segunda-feira pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros, o Governo diz estar “inteiramente disponível para colaborar na procura da reconstituição deste importante património identitário, não apenas do Brasil, mas de toda a América Latina e do mundo”.

"Uma tragédia anunciada", diz Marina Silva

"A catástrofe que ainda atinge o Museu Nacional neste domingo equivale a uma lobotomia na memória brasileira. O acervo da Quinta da Boa Vista contém objectos que ajudaram a definir a identidade nacional, e que agora estão virando cinza", declarou a candidata presidencial Marina Silva. "Infelizmente, dado o estado de penúria financeira da UFRJ e das demais universidades públicas nos últimos três anos, esta era uma tragédia anunciada", disse a política brasileira na sua página de Facebook.

Os problemas financeiros

Durante anos, o museu foi negligenciado por muitos governos, explicou o vice-director da instituição à televisão Globo. “Nunca tínhamos nada do governo federal”, disse Luiz Duarte. “Recentemente finalizámos um acordo com o BNDES [banco público associado ao Governo] para um investimento maciço, para que pudéssemos finalmente restaurar o palácio e, ironicamente, planeámos a instalação de um sistema de prevenção de incêndios novo.”

"O arquivo de 200 anos virou pó. São 200 anos de memória, ciência, cultura e educação, tudo transformado em fumo por falta de suporte e consciência da classe política brasileira", afirmou o responsável. "O meu sentimento é de imensa raiva por tudo o que lutamos e que foi perdido na vala comum".

Segundo disse, no aniversário de 200 anos da instituição nenhum ministro de Estado aceitou participar na comemoração: "É uma pequena mostra do descaso". 

Em 2015, o museu fechou durante dez dias depois de uma greve de funcionários da limpeza, que reclamavam salários atrasados. Os alunos do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da universidade chegaram a criar "memes" (imagens ou vídeos que se espalham de forma viral) em que mostravam fósseis à espera de verba, ironizando os cortes.

Nas redes sociais, investigadores, políticos, alunos e professores brasileiros partilham depoimentos, lamentando o ocorrido e atribuindo a tragédia aos cortes orçamentais dos últimos anos.

Museu era um dos mais ricos do país

O edifício, inaugurado como museu em 1818, foi a residência de D. João VI. Estava actualmente ligado à Universidade Federal do Rio de Janeiro e ao Ministério da Educação. Nele estavam guardadas colecções de referência, como artefactos egípcios e os fósseis humanos mais antigos do Brasil. As suas colecções de Etnologia davam testemunho da riqueza das culturas indígenas, das culturas afro-brasileiras e das culturas do Pacífico.

Segundo a edição brasileira do El País, o acervo tinha ainda o maior e mais importante acervo indígena e uma das bibliotecas de antropologia mais ricas do Brasil.

Segundo um comunicado publicado no site do museu em Junho, o BNDES acordou um financiamento de 21,7 milhões de reais (4,5 milhões de euros) para “restaurar o edifício histórico” e também para “garantir uma maior segurança das suas colecções”.