Coimbra com curso inédito para profissionais que lidam com a violência doméstica

Juízes, procuradores, médicos, assistentes sociais e psicólogos são os destinatários deste curso que começa em Novembro para aprender a lidar com violência doméstica. Falta de formação dos agentes que lidam com o fenómeno foi motivação

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Protestos contra acórdão sobre adultério, uma polémica sentenca a desculpabilizar a violencia domestica contra mulheres adulteras miguel manso

A Coimbra Business School vai avançar com um curso para preparar melhor os juízes, procuradores, médicos, assistentes sociais e psicólogos a lidarem com o fenómeno da violência, sobretudo a doméstica, foi anunciado este domingo.

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A Coimbra Business School vai avançar com um curso para preparar melhor os juízes, procuradores, médicos, assistentes sociais e psicólogos a lidarem com o fenómeno da violência, sobretudo a doméstica, foi anunciado este domingo.

"Uma média de quase três dezenas de mulheres assassinadas por ano é intolerável e não pode continuar. Isto não é compatível com um país que está na Europa e que pretende obter bons índices de desenvolvimento social", disse à agência Lusa Pedro Costa, presidente daquele estabelecimento de ensino.

Segundo Pedro Costa, a falta de formação dos agentes que lidam com o fenómeno foi a motivação para a Coimbra Business School avançar com o "primeiro curso do género" em Portugal, que terá início em Novembro, e que se chama Violência(s): Da percepção à intervenção.

Para o responsável, "é preciso saber como agir quando estão perante estas situações de violência, que são um fenómeno transversal a toda a sociedade", sublinhou.

O presidente da Coimbra Business School mostrou-se convicto de que este curso "contribua para melhorar a prevenção e o combate à violência, sobretudo aquela que se abate sobre as mulheres".

Números "são assustadores", diz coordenadora

A opinião é partilhada pela docente universitária Sónia Costa, coordenadora do curso, para quem "uma das maiores lacunas na resposta aos problemas suscitados pela violência doméstica e violência de género repousa, indubitavelmente, na formação e na capacitação de profissionais que são chamados a resolvê-los".

"É urgente ultrapassar em Portugal o défice formativo que se verifica nos profissionais - nomeadamente do Estado - que lidam com casos de violência, pois só assim poderemos melhorar os indicadores do país neste campo", salienta a especialista em ciências forenses.

Segundo esta investigadora, que integra o Conselho Científico da Agência para a Prevenção do Trauma e da Violação dos Direitos Humanos, "com uma qualificação mais adequada dos diferentes profissionais, muitos dos erros que se cometem podiam ser evitados".

Os números da violência em Portugal, nomeadamente contra as mulheres, "são assustadores e não deveriam existir", refere a investigadora, lembrando que, até à data, já foram assassinadas 18 mulheres, quase tantas como em todo o ano de 2017.

"Quem trabalha no terreno verifica que muitos profissionais desvalorizam a violência contra as mulheres, numa atitude que assenta em ideias pré-concebidas de submissão natural das mulheres aos homens e na aceitação geral da impunidade destes. Todos somos responsáveis pelos processos de manutenção da violência e todos seremos igualmente responsáveis pelo processo de mudança e pela sua erradicação", frisou.

O curso de especialização concebido para os profissionais que lidam diariamente com a violência e com o crime contra pessoas é organizado com o apoio da Secretaria de Estado para a Cidadania e Igualdade. Termina em Fevereiro de 2019 e disponibiliza 40 vagas, sendo que 20 são para profissionais da administração pública e 20 para a população em geral.

Recentemente, o Bloco de Esquerda (BE) disse que vai entregar um projecto-lei para que sejam criados juízos de violência doméstica que passarão a julgar exclusivamente crimes deste género e processos relativos à regulação das responsabilidades parentais motivados pela existência de violência doméstica entre o casal. O projecto prevê a instalação de dois juízos-piloto em Braga e Setúbal, cujo trabalho será avaliado ao fim de dois anos.