C'est qu'ils sont fous ces romains!
Rui Rio não é um político da espuma do dia. Não é homem para entrar na cacofonia que caracteriza os políticos de hoje.
Aproxima-se o final do sempre politicamente excitante mês de agosto, que todos os anos nos presenteia com episódios, opiniões e oportunidades de visibilidade que nos surpreendem pelo inusitado, contribuem para nos divertir em férias e que, no fundo, acabaram por permitir que este período tivesse sido batizado como silly season.
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Aproxima-se o final do sempre politicamente excitante mês de agosto, que todos os anos nos presenteia com episódios, opiniões e oportunidades de visibilidade que nos surpreendem pelo inusitado, contribuem para nos divertir em férias e que, no fundo, acabaram por permitir que este período tivesse sido batizado como silly season.
Estamos sensivelmente a um ano das próximas eleições legislativas. Um momento importante para a nossa democracia. Um momento em que os portugueses chamam a si a escolha de quem pretendem que gira os destinos do País.
O PSD apresenta-se para esse embate eleitoral sob uma nova liderança, que iniciou funções no final do primeiro trimestre deste ano, mas sobretudo, apresenta-se com Rui Rio como candidato a primeiro-ministro. Um político conhecido e reconhecido pelos portugueses como sendo um homem de coragem, um político credível e preparado para tomar em mãos os destinos de Portugal. Não é um político consensual. Porque é firme nas suas convicções e determinado nos seus objetivos. Doa a quem doer. Gosto de pessoas assim.
Como é tradicional num grande partido como é o PSD, a estadia na oposição torna algumas pessoas nervosas e impacientes. Excita alguns ânimos. O que se sentiu particularmente neste período estival onde – pasme-se – se encheram os jornais de críticas a Rui Rio por, em período de férias, ter estado efetivamente de férias. Daí a inspiração em Obélix para o título deste simples escrito. Até me pus a pensar com os meus poucos botões (porque em férias uso roupa mais confortável) se quem escolheu estar de férias quando se discutiu a liderança do partido, ainda há tão “poucochinhos” meses, teria tido agora um súbito ímpeto de atividade em período estival. É o Mundo ao contrário… na saison folle.
Mas procurando fugir ao registo de ironia, é preciso dizer que há uma óbvia desonestidade e uma preocupante irresponsabilidade nestas críticas. Que assentaram, essencialmente, na suposta ausência do PSD nos dois temas que marcaram este período, por natureza vazio de notícias: o incêndio de Monchique e a caótica situação na CP.
Começarei pela segunda, que é a mais risível.
A ferrovia em Portugal está, há décadas, atrasada face à ferrovia dos países da Europa comunitária que integramos. A ferrovia em Portugal está, há décadas, carecida de investimentos e de uma gestão proactiva. A ferrovia em Portugal está, quase desde Fontes Pereira de Melo, a aguardar por quem tenha o arrojo de apresentar um plano que tenha a ambição de fazer do comboio uma verdadeira e competitiva alternativa de locomoção.
No entanto, por razões que se prendem exclusivamente com o calendário mediático (motivado pela greve que esteve anunciada), esta questão foi debatida de modo mais intenso neste período. Digo que foram razões mediáticas, porque as principais queixas apresentadas pelos utentes foram, entre outras, a diminuição do número de comboios, os atrasos nos horários, a vetusta idade das composições, as estações encerradas, a falta de segurança, entre outros. Ora, infelizmente, a situação pode-se ter agravado nos últimos três anos, mas nenhuma destas queixas é novidade, desde há muito.
Rui Rio não é um político da espuma do dia. Não é homem para entrar na cacofonia que caracteriza os políticos de hoje. Mas o mais grave mesmo é que quem pensa que o Presidente do PSD deveria ter essa postura, demonstra que não tem grande ideia do papel que deve ter o presidente do maior partido da oposição. Demonstra que confunde a posição institucional que deve ter um candidato a Primeiro-Ministro com a de um qualquer comentador político.
Vá-se lá perceber porque razão mentes iluminadas acham que o líder da oposição tinha de falar de um problema estrutural justamente na segunda quinzena de agosto do ano da graça de dois mil e dezoito? Não pode ser em setembro ou em outubro do mesmo ano da graça? Corremos o risco de o Governo, entretanto, resolver rapidamente os graves problemas da CP? Pelos vistos, parece que sim!
Já quanto aos acontecimentos em torno do incêndio de Monchique, faltam as palavras para classificar as críticas que foram feitas.
Mas não falta a primeira palavra que devemos reter: Solidariedade.
Solidariedade para com as vítimas desse trágico acontecimento. Solidariedade para com as famílias que viram as suas vidas destruídas. Solidariedade até (vou preparando as costas para as varadas) para com as autoridades que estiveram empenhadas na sua resolução, sejam elas o Governo, os serviços de proteção civil, as corporações de bombeiros ou as autarquias. Em altura de crise todos devemos arregaçar as mangas e perguntar em que podemos ajudar para resolver a situação. As contas fazem-se depois.
Ora, há pelos vistos quem considere que o líder da oposição deveria, qual arauto da desgraça, ter corrido (no mínimo, adornado com um colete da proteção civil) para o local das chamas e, com elevado sentido tático, marcar a agenda política, desancando o Governo e elogiando tudo o mais. Para mim, essa não é uma postura responsável. Mas muito mais do que isso, não é uma postura reveladora de humanismo e do respeito que deve presidir a todas as nossas ações.
O PSD tomou posição. Com a distância que o respeito aconselhava. Transmitida pelo seu Vice-Presidente, David Justino, que falou ao País com uma posição responsável sobre os trágicos acontecimentos de Monchique. Que transmitiu a lapidar frase de que “quando não se reconhecem os erros, dificilmente se pode aprender com eles”. E que identificou o que é cada vez mais claro para todos; de que temos a gerir o País não um Governo, mas uma agência de comunicação - muito lesta a comunicar feitos, mas muito lenta a pô-los em prática. “Governação comunicacional”, na qual se destacou o lamentável tweet de António Costa sobre o qual tive oportunidade de escrever que “Tudo tem o seu limite. E se não é a falta de vergonha, sejam ao menos as vidas das pessoas a impor esse limite”.
Para quem adora a política-espetáculo, esta direção social-democrata não serve. Porque o espetáculo deixamo-lo para o Governo e para os que dentro do próprio PSD têm escola coincidente com a deste mesmo Governo. Há que reconhecer que, nisso, são os melhores. Sans doute!
Ao invés, a direção do PSD apresentar-se-á aos portugueses como uma alternativa credível e sem espalhafatos. Porque connosco, estará sempre #primeiroportugal.
O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico