Tribunal trava Lula mas o PT hesita em avançar com Haddad
Restam poucos dias para o Partido dos Trabalhadores lançar Fernando Haddad, o vice de Lula, como cabeça de lista às presidenciais. Justiça eleitoral rejeitou a candidatura do ex-Presidente. PT vai recorrer.
A voz de Lula da Silva ainda se ouvia neste sábado na rádio como candidato do Partido dos Trabalhadores (PT) às presidenciais brasileiras, poucas horas depois de o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) ter rejeitado a candidatura do ex-Presidente às eleições de Outubro.
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A voz de Lula da Silva ainda se ouvia neste sábado na rádio como candidato do Partido dos Trabalhadores (PT) às presidenciais brasileiras, poucas horas depois de o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) ter rejeitado a candidatura do ex-Presidente às eleições de Outubro.
Apesar de Lula ter sido declarado inelegível, o PT promete mantê-lo na liça, interpondo recurso onde puder fazê-lo. Mas a corrida presidencial é agora mais do que nunca uma corrida contra o tempo, e Lula terá uma palavra a dizer. A campanha na rádio e na televisão está a começar. Alguns apoiantes de Fernando Haddad, o vice-candidato do PT, defendem que o melhor para os petistas é colocá-lo o mais rapidamente possível como número um.
A primeira volta das presidenciais é a 7 de Outubro. E faltando pouco mais de um mês, medem-se os prós e contras de fazer a troca já ou de adiar uma decisão que tem agora um prazo certo para ser tomada. A estratégia passa por associar Haddad o mais possível a Lula.
O PT tem dez dias para apresentar o substituto (até 11 de Setembro). Até lá, Lula, preso em Curitiba pelos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro no âmbito da Operação Lava Jato, fica impedido de aparecer como candidato na propaganda eleitoral na rádio, na televisão e nas redes sociais (nesta tarde, a página do PT no Facebook continuava a tê-lo em destaque na foto de perfil, com Haddad atrás).
Igor Gielow, redactor principal do jornal Folha de São Paulo, escrevia que o PT tinha vantagem em definir como se apresenta a eleições o quanto antes – Haddad, ex-prefeito de São Paulo, não é assim tão reconhecido no Nordeste, por exemplo.
Nas sondagens onde Lula aparece como candidato, o ex-chefe de Estado surge à frente (com 39% das intenções de voto na primeira volta, segundo o Datafolha). Já Haddad tem dificuldade em herdar o “voto lulista”, vincava Gielow.
Sem Lula, é o candidato de extrema-direita Jair Bolsonaro quem aparece em primeiro, enquanto Haddad surge com 4%; está empatado com Alvaro Dias (Podemos), e atrás de Marina Silva (Rede), Ciro Gomes (PDT) e Geraldo Alckmin (PSDB). Resta agora saber qual o impacto da decisão do tribunal: se mexe com o eleitorado e como os desenvolvimentos dos próximos dias se reflectem nos inquéritos.
Falar com Lula
Haddad esteve neste sábado em campanha em Garanhuns, município de onde Lula é natural. Conta a rádio Jovem Pan o que respondeu quando uma eleitora lhe perguntou se Lula mandara votar em si: “Lula mandou votar em nós, porque somos uma chapa só”. Aos jornalistas afirmou que o “quadro jurídico” será apresentado a Lula na segunda-feira. “Vamos discutir o que fazer nesses dez dias de prazo”.
O acórdão do TSE foi conhecido na madrugada de sábado, ao fim de mais de 11 horas de sessão no tribunal. Os juízes declaram Lula inelegível, com base na “Lei da Ficha Limpa”, que impede que se candidate quem foi condenado por corrupção em segunda instância (como aconteceu a Lula). Foram seis votos contra um.
A senadora Gleisi Hoffmann garantiu em nome do PT: “Não desistiremos de Lula. Vamos interpor todos os recursos que estiverem ao nosso alcance para garantir a sua candidatura. Enquanto houve recurso, Lula deve ser candidato”. A mensagem passou no Facebook, sem nunca se falar em Haddad – ou no seu futuro.
O PT ainda pode apresentar recurso para o próprio TSE ou para o Supremo Tribunal Federal, sendo que as alterações aos boletins de voto têm de acontecer até 17 de Setembro.
Num país onde a judicialização da política e a politização da justiça são assunto de debate acalorado, o acórdão do STE veio atirar mais achas para a fogueira – a versão brasileira do El País referia que o tribunal não se livra do “ónus político da decisão de tirar o favorito da corrida”.
A decisão do TSE obriga o PT a entregar material de campanha para a rádio e as televisões sem Lula como candidato. Segundo o Estadão, os advogados do PT afirmam que a decisão do TSE apenas impede Lula de surgir nos tempos de antena na condição de candidato, mas não na de apoiante de Haddad, podendo aparecer em 25% de cada “programa”.
Nas emissões de rádio das 7h e do meio-dia de sábado, ainda se ouviu Lula afirmar como candidato: “Acredito que juntos somos capazes de reconstruir esse país”. Embora não possa surgir como candidato, a Folha de São Paulo escreve que a primeira emissão não estaria a desrespeitar o tribunal, porque a decisão é da madrugada e o material de campanha que passou na rádio tinha de ser entregue pelo menos seis horas antes de ir para o ar.