Jovens acreditam que uma das raízes do populismo é o medo
O populismo foi um dos temas em debate na Escola de Verão da Comissão Europeia, na qual participaram 50 universitários portugueses.
Um austríaco e uma irlandesa entraram numa sala da Escola de Verão da Comissão Europeia, em Portugal, e falaram sobre populismos com cinco dezenas de jovens portugueses. Foi um dos momentos mais animados do último dia do Summer CEmp, que decorreu em Marvão entre 28 e 31 de Agosto.
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Um austríaco e uma irlandesa entraram numa sala da Escola de Verão da Comissão Europeia, em Portugal, e falaram sobre populismos com cinco dezenas de jovens portugueses. Foi um dos momentos mais animados do último dia do Summer CEmp, que decorreu em Marvão entre 28 e 31 de Agosto.
A sessão juntou o embaixador austríaco em Lisboa, Robert Zischg, e a embaixadora da Irlanda, Orla Tunney. Foi evidente alguma dificuldade do diplomata austríaco em defender as políticas do seu país. Robert Zischg disse que o populismo é um rótulo, do qual não gosta, mas que não rejeita totalmente. E se se definir o populismo como um governo que ouve o povo, então, sim, assume-se como tal, até porque ouvir o povo é o que faz com muita frequência o seu primeiro-ministro Sebastian Kurz - que, aos 32 anos é o chefe do governo mais jovem do mundo.
Já a embaixadora irlandesa enfatizou que até agora os países periféricos têm escapado a esse fenómeno, o qual se tem disseminado, sobretudo, no centro da Europa e com um elevado risco de contágio.
“As definições que foram apresentadas no debate encaixam no que era a minha própria definição de populismo”, diz Rui Teixeira, 18 anos. “A da embaixadora da Irlanda é mais próxima da minha definição, mas também é normal porque o populismo não chegou à Irlanda nem a Portugal. Já a do embaixador austríaco era diferente, pois representa um governo mais próximo do populismo.”
E qual a definição desse fenómeno para este jovem estudante da Faculdade de Engenharia do Porto? "Populismo para mim são movimentos que vão surgindo pela Europa e por todo o mundo e que tentam fazer três coisas: simplificar o discurso para o tornar mais apelativo; apelar ao medo e a todos os sentimentos que são repulsivos para as pessoas do país, e o político considerar-se a verdadeira interpretação da voz do povo, como é o caso do Trump e do primeiro-ministro italiano".
Miguel Alegre, um universitário natural do Porto que vive em Paris, onde estuda na Sciences Po, também diz que o debate com os embaixadores não mudou a sua definição de populismo. “É um conceito difícil de definir porque é muito difuso, mas é menos uma ideologia e mais uma estratégia. Uma estratégia que explora uma política das emoções desprovida de qualquer racionalidade. Não quero dizer que a política deva ser desprovida de emoções, mas o populismo usa os sentimentos mais básicos da população, dos quais o mais relevante é o medo.”
Para este jovem, a discussão decorreu de uma forma muito diplomática, ou não fossem os intervenientes eles próprios diplomatas, mas Miguel Alegre acha que o embaixador austríaco teve alguma dificuldade em defender as ideias populistas do seu governo. “Acho que ele não tem um prazer gigante em defender o seu governo, mas não tem alternativa”.
Bruna Gonçalves, de Leiria, estuda Relações Internacionais na Universidade de Coimbra e entende que o populismo é a utilização dos receios das populações para deles tirar vantagens políticas.
A jovem, de 19 anos, diz que o mais importante do debate foi ter-se dado conta de que o populismo depende também de factores geográficos e sociais, como é o caso da imigração. “A embaixadora da Irlanda tem razão: a Irlanda e Portugal têm passado mais ou menos imunes ao fenómeno do populismo porque são países periféricos e não têm tido problemas com migrantes”, disse.
Leya Fonseca, recém-licenciada em Direito pela Faculdade de Direito de Lisboa, explica que a sua definição de populismo não mudou, mas que se abriu um pouco mais porque os dois oradores trouxeram elementos novos para o debate. “Populismo é uma posição extremista, facciosa e falsa da realidade, que consegue sobreviver através das redes sociais e principalmente às custas da crise dos refugiados e que tem sido utilizada no mau sentido porque só retira o que há de mau nessa crise”.
A jovem, de 26 anos, diz “as posições dos embaixadores são diferentes, até porque são de países com culturas diferentes. A Irlanda e a Áustria vêm a crise dos refugiados de forma diferente e isso é visível nos discursos dos seus embaixadores. Mas há uma coisa que ele [Robert Zischg] disse que eu acho importante: independentemente das ideias que tenhamos, é importante ouvir o outro porque há sempre uma razão para que o outro pense como pense”.
Mas se é certo que os jovens da Summer CEmp – que de alguma forma constituem uma pequena elite – são claramente antipopulistas, sê-lo-ão também os restantes jovens portugueses?
“Não creio. Eu acho que, infelizmente, sou uma excepção.” Catarina Vieira, 22 anos, natural de Esmoriz e estudante de Línguas e Relações Internacionais no Porto, diz que faz falta educação política aos jovens portugueses. “Eu andei no CLIP [Colégio Luso Internacional do Porto] e os meus professores foram-me dando umas bases políticas. Mas acho que isso faz falta no ensino oficial. O populismo tem pernas para andar nos jovens pois eles nem sequer sabem como é que funciona o Estado, logo são mais permeáveis a esse tipo de discurso. Eu conheço pessoas da minha idade licenciadas que são populistas.”