Maioria dos europeus quer acabar com a mudança da hora
Pelo menos 4,6 milhões de europeus terão respondido ao questionário da Comissão Europeia sobre o fim da mudança da hora.
Pelo menos 80% dos 4,6 milhões de europeus que responderam a um questionário da Comissão Europeia não querem mudar de hora duas vezes por ano, respeitando o horário de Verão e Inverno. A informação está a ser avançada pela emissora alemã Deutsche Welle, que cita o jornal regional alemão Westfalenpost, que falou com fontes próximas do assunto.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Pelo menos 80% dos 4,6 milhões de europeus que responderam a um questionário da Comissão Europeia não querem mudar de hora duas vezes por ano, respeitando o horário de Verão e Inverno. A informação está a ser avançada pela emissora alemã Deutsche Welle, que cita o jornal regional alemão Westfalenpost, que falou com fontes próximas do assunto.
O questionário foi divulgado pela Comissão Europeia, entre 4 de Julho e 16 de Agosto, e os resultados ainda não foram apresentados oficialmente.
Surge na sequência de uma resolução do Parlamento Europeu, de Fevereiro de 2018, na qual o organismo se comprometeu a perceber se os europeus querem continuar com o horário de Verão.
No caso de ganhar o "não", o Parlamento defende que se mantenha um “regime [horário] unificado europeu” para promover o comércio e proteger o mercado único.
Depois de apurados os resultados do estudo, a Comissão Europeia está agora encarregada de analisar as respostas e propor as alterações legislativas necessárias. As possíveis propostas apresentadas pela Comissão sobre a mudança de horário terão depois de ser analisadas pelos Governos dos Estados-membros e pelos deputados europeus.
A quantidade de respostas surpreendeu os responsáveis da Comissão Europeia citados pelo Financial Times: foi, de longe, o número mais elevado de respostas a um questionário da Comissão, que lança dezenas de formulários semelhantes anualmente sobre questões regulatórias.
Uma grande parte das respostas vieram da Alemanha, um dos primeiros países a adoptar a mudança horária: pelo menos três milhões de alemães responderam ao inquérito europeu. Uma sondagem do instituto alemão Forsa, de Março deste ano, constatou que 73% dos inquiridos estavam a favor do fim da mudança da hora. No entanto, apenas 31% achavam que essa mudança ia acontecer nos próximos cinco anos.
A balança dos prós e contras
Para ajudar à reflexão, a Comissão Europeia elencou os resultados de vários estudos sobre a mudança horária. Da saúde humana à agro-pecuária, há prós e contras que sustentam as duas visões sobre o assunto.
No âmbito do comércio, se cada país adoptasse uma hora diferente, a produtividade decresceria, apontam os estudos europeus. O comércio internacional passaria a ser mais dispendioso, com várias inconveniências nos transportes, comunicações e viagens.
A Comissão Europeia optou por salientar os efeitos positivos da mudança da hora na saúde humana, principalmente por promover actividades no exterior. Admite que pode haver um efeito nefasto no “biorritmo humano”, mas afirma que os estudos são inconclusivos.
Os problemas do sono são alguns dos problemas mais comuns. O presidente da Associação Portuguesa de Cronobiologia e Medicina do Sono, Miguel Meira e Cruz, que falou ao PÚBLICO em 2017, sublinhou que doentes cardiovasculares ou quem tem perturbações do sono costuma ser afectado negativamente pela mudança da hora.
Já no caso da agro-pecuária, a Comissão admite que a mudança de hora obriga a alterações na rotina dos animais, mas que actualmente a tecnologia e a iluminação artificial já as permitem contornar. E para actividades agrícolas ao ar livre – como as colheitas – a mudança de horário é benéfica, defende Bruxelas.
Há 100 anos que se discute a mudança de horário
O horário de Verão foi adoptado pela primeira vez na Alemanha há mais de 100 anos, a 30 de Abril de 1916, durante a Primeira Guerra Mundial. De acordo com o Observatório Astronómico de Lisboa, a medida foi introduzida "como tentativa de minimizar o uso de iluminação artificial a fim de economizar combustível para o esforço da guerra". Queria-se deixar de desperdiçar horas de sol, fonte de energia gratuita.
Portugal adoptou esta medida desde o início, mas não a cumpriu nos anos 1922, 1923, 1925, 1930 e 1933, altura em que se manteve o horário de Inverno. E nem sempre a mudança para o horário de Inverno foi feita em Outubro, à semelhança do que acontece actualmente.
Em alguns anos, Portugal saiu do horário de Verão no final de Setembro, enquanto noutros países a mudança era feita em Outubro. “Durante este mês era uma confusão nas transacções”, lembrou Rui Agostinho, director do Observatório Astronómico de Lisboa, numa entrevista ao PÚBLICO, em 2016. “Andou-se a experimentar”, “a tentar perceber como é que as pessoas se sentiam”, disse o astrofísico.