ZigurFest: a montra da nova música portuguesa na velha cidade de Lamego
A partir desta quarta-feira, há 24 novos nomes da música nacional a descobrir (gratuitamente) nas ruas de Lamego. Allen Halloween, David Bruno e Mathilda são algumas das vozes que vão ecoar por entre o património histórico da cidade.
Descobrir a nova música alternativa nacional enquanto se (re)descobre o património histórico de uma das mais antigas cidades do país. Oito anos depois, continua a ser esta a missão do ZigurFest que, nesta edição, traz a Lamego nomes como Allen Halloween, David Bruno, Savage Ohms, Mathilda, Dullmea e Mutual. Mas há novidades: pela primeira vez, o festival, que acontece entre quarta-feira e sábado, tem entrada e campismo totalmente gratuitos.
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Descobrir a nova música alternativa nacional enquanto se (re)descobre o património histórico de uma das mais antigas cidades do país. Oito anos depois, continua a ser esta a missão do ZigurFest que, nesta edição, traz a Lamego nomes como Allen Halloween, David Bruno, Savage Ohms, Mathilda, Dullmea e Mutual. Mas há novidades: pela primeira vez, o festival, que acontece entre quarta-feira e sábado, tem entrada e campismo totalmente gratuitos.
“O nosso maior desgosto, enquanto programadores, é lançarmos um cartaz e vermos que um festival ali perto tem nomes iguais”, confessava há um mês o director do ZigurFest, em entrevista ao P3. Em Lamego, quer-se que se ouça em antecipação o que só chega ao mainstream bem depois. Exemplificando: em 2016, o cartaz lamecense anunciava Surma, Luís Severo e 800 Gondomar, nomes que apenas surgiram nas rádios no ano seguinte e que só agora figuram nos cartazes dos maiores festivais.
Mas há sempre um artista mais familiar no programa que privilegia o inédito da música nacional, talvez para seduzir os mais reticentes à descoberta – relembremos JP Simões e Pop dell'Arte que, em edições anteriores, esgotaram o Teatro Ribeiro Conceição. Neste ano, tal “responsabilidade” recai em Allen Halloween, a lenda viva do hip-hop tuga que, recentemente, se reinventou com o projecto acústico – ainda mais nu e cru do que já é habitual – Unplugueto. Ao contrário do que aconteceu no passado com os nomes maiores do cartaz, o rapper e produtor de Odivelas vai actuar ao ar livre, no Parque Isidoro Guedes. É ele um dos nomes que encerram o festival, já na madrugada de domingo, pela 1h30 – apenas seguido por Scúru Fitchádu e 2Jack4U.
Mas muito há para ver e ouvir antes. E o primeiro dia de festival, esta quarta-feira, chega carregadinho de novidade – os concertos são, todos eles, em locais a que o festival ainda não tinha chegado. Ulnar + Sal Grosso abrem a edição no auditório do Núcleo Arqueológico da Porta dos Figos, pelas 17h30. Uma hora depois, há Zarabatana, no Largo da Cisterna. Para a noite fica guardado, discutivelmente, o mais belo arranjo entre o cenário e o artista em cena – Dullmea actua na Sala de Grão Vasco do Museu de Lamego. Imagine-se: música ambiental contemporânea, feita só com voz (a relembrar Medúlla, de Björk) diante de painéis pintados por Vasco Fernandes entre 1506 e 1511. Um dos “pontos altos” destacados pela organização, mas ao qual só poderão assistir 60 pessoas, restrição imposta pelo museu.
Outro concerto mais “limitado” será o de Mathilda. A jovem-promessa vimaranense actuará à entrada da Capela da N.ª Sr.ª da Esperança sob um alpendre com capacidade para cerca de 80 pessoas, na quinta-feira, ao anoitecer. Ainda antes, a tarde soalheira será musicada pela mescla de jazz e hip-hop instrumental dos Mazarin, pouco antes de Terra Chã convidarem para um pé de dança. Gume, Sereias e Inversus encerram o segundo dia.
Na sexta-feira, o herói do kitsch que canta odes a Vila Nova de Gaia, David Bruno, rivaliza com os Amor Electro, que actuam, à mesma hora, nas Festas da N.ª Sr.ª dos Remédios, a festa popular da cidade. Isto já depois de as Savage Ohms darem uma lição de krautrock, mas ainda antes da actuação de Mutual, um dos segredos mais bem guardados do tecno português, mais reconhecido lá fora do que cá dentro.
No interior silencioso
Numa rápida reflexão sobre anos passados, António Cardoso, responsável pela comunicação do Zigurfest, resume a evolução do festival a uma tríade fundamental: mais concertos, mais espaços e maior envolvência com a cidade. O esforço tem compensado, também há cada vez mais público que vem de fora de propósito para o festival: “Na última edição, vimos que metade do público era não-residente.” O esperado é que a entrada gratuita, após sete edições com bilhetes a um preço simbólico – três a cinco euros –, seja mais um incentivo à visita. A nova aposta no campismo que, reforça António Cardoso, não seria possível sem o apoio da Câmara de Lamego, já está ganha – o pulmão da cidade, junto ao Pavilhão do Complexo Desportivo de Lamego, vai ter lotação esgotada.
A par e passo com a música está ainda o programa ZONA – Residências Artísticas de Lamego, criado pelo artista plástico lamecense João Pedro Fonseca. Nesta quarta-feira, na Casa do Artista, a cidade ficará a conhecer as peças que duas artistas plásticas lhe dedicam, após três semanas em residência. Workshops de produção musical e instalações artísticas e sonoras são outros dos aperitivos do programa do festival que, desde 2011, já levou 120 momentos de música ao interior, por vezes demasiado silencioso.