Governo alemão promete reformas na rentrée
Líderes dos partidos da “grande coligação” discutem medidas quando a Alemanha regista um superávit recorde.
O Governo alemão prepara-se para anunciar uma série de reformas, das pensões à imigração, passando por uma forma de “serviço comunitário”, depois de passar os primeiros meses a discutir a política de asilo alemã e europeia, um grande tema de cisão entre a CDU da chanceler, Angela Merkel, e da CSU do ministro do Interior, Horst Seehofer. Agora, continua a haver desacordos, mas menores. E parecem ser sobretudo entre a ala conservadora do Governo (CDU/CSU) e o Partido Social-Democrata (SPD, centro-esquerda).
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O Governo alemão prepara-se para anunciar uma série de reformas, das pensões à imigração, passando por uma forma de “serviço comunitário”, depois de passar os primeiros meses a discutir a política de asilo alemã e europeia, um grande tema de cisão entre a CDU da chanceler, Angela Merkel, e da CSU do ministro do Interior, Horst Seehofer. Agora, continua a haver desacordos, mas menores. E parecem ser sobretudo entre a ala conservadora do Governo (CDU/CSU) e o Partido Social-Democrata (SPD, centro-esquerda).
O líder da CSU (União Social Cristã, o partido-gémeo da União Democrata-Cristã, CDU, na Baviera), Horst Seehofer, anunciou para as “próximas semanas decisões importantes” nas áreas das pensões, do subsídio de desemprego, ou do valor das rendas (a Alemanha é um país de arrendatários), numa entrevista no domingo à emissora pública ZDF.
Os líderes dos três partidos encontraram-se no sábado durante várias horas para preparar a concretização de planos no acordo para a "grande coligação", como é chamada a coligação entre os maiores partidos do centro (uma espécie de "bloco central"), mas não houve consensos: todos os temas continuaram em aberto.
Numa outra entrevista, a outra emissora pública, a ARD, no domingo, a chanceler, Angela Merkel, falou sobre a reforma das pensões e disse que as conversações dentro da coligação estavam a seguir “um bom caminho”. Mas não deixou de criticar o “dizer uma coisa diferente todos os dias”, o que promove um “aumento da insegurança”, defendeu.
A farpa foi dirigida ao SPD, que vinha a propor assegurar os níveis das pensões até 2040, quando o acordo de coligação entre os três partidos previa que o nível fosse assegurado até 2025. Os conservadores da CDU e da CSU não querem, no entanto, o gasto adicional que seria necessário. Merkel falou mesmo de um perigo que seria "sobrecarregar os jovens".
Numa entrevista publicada esta segunda-feira na edição online do jornal Die Zeit, a líder do SPD, Andrea Nahles, disse que o partido está pronto a fazer um compromisso e aceitar apenas a fixação das pensões de reforma em relação aos salários até ao ano de 2025 – e a contribuição dos trabalhadores para a segurança social também deverá manter-se. “Não vai ser possível fazer mais com a União [CDU/CSU]”, lamentou Nahles.
A coligação precisa, assim, de encontrar outros modos de ter um impacto significativo nas condições de vida dos cidadãos, quando os partidos continuam a descer nas sondagens. Se as eleições fossem hoje, já nem conseguiriam uma maioria juntos – o cenário é ainda pior para a CSU que, na Baviera, arrisca perder a sua maioria absoluta (que mantém com raras interrupções há décadas) nas eleições de Outubro neste estado-federado.
Centros de estudos económicos pedem mais investimento numa altura em que as notícias da economia alemã são especialmente boas: no primeiro semestre do ano, o país registou um superávit de 2,9% do PIB – 48.100 milhões, o maior desde a reunificação alemã em 1990.
Serviço comunitário?
Os conservadores tentaram lançar um tema de matriz que pudesse entusiasmar os seus apoiantes: um ano de serviço comunitário, militar ou cívico, que fizesse as vezes do antigo serviço militar obrigatório (abolido pelo Governo de Merkel em 2011, num dos desvios para o centro da chanceler).
A proposta da líder CDU, Annegret Kramp-Karrenbauer, foi aberta, mas o ponto principal seria que este ano pudesse servir de algum modo para promover a coesão social e nacional e fosse aberto não só a cidadãos alemães mas a residentes no país, como refugiados ou requerentes de asilo, “o que poderia ajudar na sua integração na sociedade alemã”.
A discussão não passa, disse depois Merkel na sua entrevista à ARD, por voltar a ter um serviço militar obrigatório. A própria ministra da Defesa, Ursula von der Leyen, já tinha dito que as Forças Armadas não precisam – nem teriam neste momento recursos – para a entrada massiva de pessoal que um serviço obrigatório traria.
Merkel repetiu que os desafios das Forças Armadas são outros (embora Merkel não especificasse, os media já falaram várias vezes de problemas, desde o estado de aviões e navios antiquados, que passam mais tempo a ser reparados do que a ser usados, e falta de equipamento básico, como coletes à prova de bala ou até mesmo de tendas).