Arcebispo italiano diz que Papa conhecia abusos e pede-lhe que renuncie

Ex-núncio nos EUA denuncia que Francisco já sabia do escândalo dos EUA e esperou cinco anos para aceitar renúncia de McCarrick.

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Ex-núncio nos EUA diz que Francisco já sabia do escândalo Reuters/Arquivo

O antigo núncio apostólico nos EUA, o arcebispo Carlo Maria Vigano, acusa o Papa Francisco de ter conhecimento há cinco anos das denúncias de abuso sexual contra o cardeal norte-americano Theodore McCarrick, e só ter aceitado a sua renúncia há um mês. Por isso, pede ao pontífice que renuncie.

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O antigo núncio apostólico nos EUA, o arcebispo Carlo Maria Vigano, acusa o Papa Francisco de ter conhecimento há cinco anos das denúncias de abuso sexual contra o cardeal norte-americano Theodore McCarrick, e só ter aceitado a sua renúncia há um mês. Por isso, pede ao pontífice que renuncie.

Numa carta de 11 páginas que chegou aos meios de comunicação católicos conservadores durante a visita do Papa à Irlanda, o italiano Carlo Maria Vigano, 77 anos, escreve que em 2013 disse a Francisco que o cardeal McCarrick enfrentava extensas acusações de abusar sexualmente de seminaristas e padres. Então, era núncio apostólico nos EUA, ou seja, embaixador do Vaticano naquele país.

As autoridades do Vaticano recusaram, para já, comentar a carta conhecida neste domingo. Vigano é próximo do muito conservador cardeal norte-americano Raymond Burke, que tem sido o ponta de lança dos críticos do Papa Francisco. 

McCarrick tornou-se o primeiro cardeal a renunciar à sua posição na liderança da Igreja depois de uma investigação concluir como provadas as alegações de que havia abusado sexualmente de um rapaz de 16 anos. O caso aconteceu há “mais de 45 anos” e o cardeal disse não se recordar.

Trata-se de um dos mais altos funcionários do Vaticano acusado de abuso sexual num escândalo que abalou o mundo católico, desde que o jornal Boston Globe publicou a sua investigação em 2002, revelando dezenas de casos de sacerdotes que abusaram de crianças e de bispos que encobriram esses acontecimentos. Desde então, os padrões de abuso generalizado de crianças têm sido relatados não só nos Estados Unidos mas também na Europa, nomeadamente na Irlanda, onde o Papa actualmente se encontra em visita, no Chile e na Austrália.

Na carta, publicada pelo jornal conservador National Catholic Register, o arcebispo diz que Francisco tomou conhecimento das acusações contra McCarrick em Junho de 2013, logo após a sua eleição como Papa. “Ele sabia, pelo menos desde 23 de Junho de 2013, que McCarrick era um predador”, escreve Vigano.

“O Papa Francisco deve ser o primeiro a dar um bom exemplo aos cardeais e bispos que encobriram os abusos de McCarrick e deve demitir-se tal como todos eles”, defende. A carta de Vigano critica ainda as “redes homossexuais presentes na Igreja”.

Este sábado, na Irlanda, no primeiro dia da visita oficial, o Papa voltou a afirmar que se sente “envergonhado” e recebeu avisos do primeiro-ministro irlandês, Leo Varakdar, que lhe pediu para passar das “palavras à acção”.