Um projecto para mostrar os bastidores da sala de jantar da Ajuda

Da casa dos reis D. Maria Pia e D. Luís já não restam cozinhas, copas, nem salas de arrumos intactas. A conservadora de cerâmica, que tem vindo a estudar os hábitos alimentares do palácio na segunda metade do século XIX, sonha há 15 anos com a recuperação de cinco espaços próximos da sala de jantar para que o visitante tenha acesso a esse ambiente Downton Abbey.

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A mesa posta na sala de jantar do Palácio Nacional da Ajuda José Paulo Ruas/ADF/DGPC

Cristina Neiva Correia quer fazer do Palácio Nacional da Ajuda um pólo de referência para o estudo da mesa real em Portugal e para isso tem vindo a desenvolver nos últimos 15 anos um projecto que propõe abrir cinco novas áreas deste paço lisboeta, mostrando o que se passava nos bastidores da sala de jantar na segunda metade do século XIX, quer nas refeições de grande aparato, quer nos almoços do quotidiano.

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Cristina Neiva Correia quer fazer do Palácio Nacional da Ajuda um pólo de referência para o estudo da mesa real em Portugal e para isso tem vindo a desenvolver nos últimos 15 anos um projecto que propõe abrir cinco novas áreas deste paço lisboeta, mostrando o que se passava nos bastidores da sala de jantar na segunda metade do século XIX, quer nas refeições de grande aparato, quer nos almoços do quotidiano.

Na mesa de Estado sentavam-se os reis (ao centro), os seus convidados, se os houvesse, e aquilo a que hoje chamaríamos o seu staff mais próximo — camareiros-mor, oficiais e médicos de serviço.

A ideia, explica a conservadora de cerâmica, é envolver no projecto todos os que na casa estudam as casquinhas e as pratas, os vidros, os menus, os têxteis e, claro, a porcelana ligados à alimentação. E convidar investigadores de fora para projectos pontuais. Objectivo? Musealizar os espaços contíguos à sala de jantar e mostrar, por exemplo, outro tipo de mesas do palácio (as crianças não comiam com os adultos, nem mesmo os príncipes), os objectos envolvidos na preparação e apresentação dos alimentos ou os louceiros onde tudo se arrumava depois de terminada a refeição.

O projecto, feito com o arquitecto Ricardo Estevam Pereira e ainda a aguardar financiamento, tanto da Direcção-Geral do Património Cultural como de mecenas, prevê que estes louceiros funcionem como vitrinas e neles Neiva Correia quer montar “vários lugares à mesa” usando os diversos serviços do palácio.

“Gostava que a mesa da sala de jantar mudasse ao ritmo das estações, mostrando as flores da época e os serviços que temos em reserva. Ao mesmo tempo gostava de ter aqui cinema relacionado com a mesa, com a gastronomia e os ambientes palacianos; jantares temáticos e workshops; conferências e visitas guiadas com investigadores que têm vindo a estudar os hábitos alimentares dos reis portugueses”, detalha a conservadora. O teatro, exposições de fotografia e música também estão no “menu” do projecto, que deverá apostar ainda mais na relação do palácio com a academia, de que é reflexo o colóquio do Diaita – Património Alimentar da Lusofonia que há três anos ali acontece todas as Primaveras, em parceria com a Universidade de Coimbra.

E, para bem se compreender a mesa real, acrescenta Cristina Neiva Correia fazendo referência à série televisiva de grande sucesso que para muitos mudou a relação do mercado americano com a ficção britânica, é preciso conhecer o que está por trás dela, “o ambiente Downton Abbey” a que hoje não se tem acesso na Ajuda porque as antigas cozinhas, as copas, as salas de lavagem e as arrecadações já não existem ou foram reconvertidas para outros usos.