O vídeo onde Mário Centeno aparece todo nu
Metaforicamente falando, podemos admitir que Mário Centeno apareceu realmente em pelota naquele vídeo – no sentido em que interpretou a crise grega (e, por extensão, a portuguesa) com uma transparência inédita.
Oh meu Deus, que surpresa: Mário Centeno acha que a crise grega é culpa dos gregos e não dos malvados tecnocratas da União Europeia e do FMI. Como é possível? Um presidente do Eurogrupo a defender as políticas do Eurogrupo. O horror, o horror! Centeno fez um vídeo a dar conselhos e parabéns à Grécia e o país reagiu como se o homem tivesse sido apanhado num daqueles filmes caseiros com gente em pelota que vão parar à internet. O Bloco de Esquerda em peso saltou da cadeira. O PCP fechou os olhos e disse coisas sobre “pactos de agressão”. O deputado João Galamba chamou-lhe “um vídeo lamentável”. E até o inevitável Varoufakis decidiu classificá-lo como “propaganda norte-coreana”. Qual foi o pecado do pobre homem, afinal? Eu digo-lhes qual foi: durante um minuto, Mário Centeno resolveu dizer aquilo que pensa. Erro crasso.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Oh meu Deus, que surpresa: Mário Centeno acha que a crise grega é culpa dos gregos e não dos malvados tecnocratas da União Europeia e do FMI. Como é possível? Um presidente do Eurogrupo a defender as políticas do Eurogrupo. O horror, o horror! Centeno fez um vídeo a dar conselhos e parabéns à Grécia e o país reagiu como se o homem tivesse sido apanhado num daqueles filmes caseiros com gente em pelota que vão parar à internet. O Bloco de Esquerda em peso saltou da cadeira. O PCP fechou os olhos e disse coisas sobre “pactos de agressão”. O deputado João Galamba chamou-lhe “um vídeo lamentável”. E até o inevitável Varoufakis decidiu classificá-lo como “propaganda norte-coreana”. Qual foi o pecado do pobre homem, afinal? Eu digo-lhes qual foi: durante um minuto, Mário Centeno resolveu dizer aquilo que pensa. Erro crasso.
Metaforicamente falando, podemos admitir que Mário Centeno apareceu realmente em pelota naquele vídeo – no sentido em que interpretou a crise grega (e, por extensão, a portuguesa) com uma transparência inédita. Ora, revelar intimidades económicas e políticas é pornografia para as esquerdas que nos governam. Tendo em conta que eles inventaram uma narrativa para eleitores com idade mental de cinco anos – que diz que a culpa disto tudo foi da troika e de Passos Coelho, porque se não tivessem sido eles o país estaria espectacular –, qualquer complexificação do discurso é inadequada para a nossa política de escola primária. O que os tuítes de João Galamba querem dizer é isto: “Veste-te, Mário, volta a pôr a roupa do português brutalmente oprimido, que isto assim não pode ser.”
Mas não só pode como deve – até porque não tem sido de outra maneira. Eu sei que parece que existe um Mr. Mário, ministro das Finanças de Portugal, e um Dr. Centeno, presidente do Eurogrupo, já que as coisas que um faz lá fora não coincidem com as coisas que o outro diz cá dentro. Só que não há dois – nem nunca houve. Sim, o vídeo do Dr. Centeno poderia ter sido escrito por Vítor Gaspar. Mas isso é tão surpreendente quanto descobrir que José Sócrates é um bocado mentiroso e Bruno de Carvalho tem problemas de equilíbrio emocional. Toda a actuação de Centeno ao longo dos últimos três anos tem sido no sentido não só de cumprir as metas europeias, como de ir além delas. E ainda bem. Só que – lá está – não se pode dizer isto em voz alta, nem em línguas perceptíveis. O erro de Centeno foi ter falado inglês. Tivesse optado pelo grego e ninguém daria conta.
Se o vídeo de Mário Centeno tem pouco para dizer aos gregos, ele tem muito para dizer aos portugueses. A certa altura, Centeno afirma isto: “Eu sei que estas melhorias ainda não são sentidas por todos os segmentos da população [grega] mas, gradualmente, passarão a ser.” Reparem como é uma variação da famosa frase de Luís Montenegro, de Fevereiro de 2014: “A vida das pessoas não está melhor mas a do País está muito melhor.” Lembram-se dos rios de tinta que ela fez correr? A insensibilidade, a falta de contacto com a realidade, a crueldade dos sociais-democratas! E vai-se a ver, Mário Centeno teve 65 segundos de lucidez onde disse exactamente o mesmo, responsabilizou um país intervencionado pelo desastre da sua política económica e aconselhou-o a ter mais juízo daqui para a frente. Percebo que isso irrite imenso Bloco, PCP e boa parte do PS. Mas eu gosto muito. Antes um Mário Centeno descascado do que maquilhado com quilos de demagogia, como é costume.