Mulheres exigem maior representação no Festival de Cinema de Veneza

Tal como no ano passado, apenas um dos filmes seleccionados para a competição principal é assinado por uma realizadora.

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A realizadora australiana Jennifer Kent é a única mulher com uma obra seleccionada para a competição principal do Festival de Veneza DR

Várias associações de mulheres que trabalham no sector do audiovisual exigem maior representação no Festival Internacional de Cinema de Veneza, numa carta aberta dirigida à organização daquele certame italiano, cuja 75.ª edição decorre a partir de 29 de Agosto.

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Várias associações de mulheres que trabalham no sector do audiovisual exigem maior representação no Festival Internacional de Cinema de Veneza, numa carta aberta dirigida à organização daquele certame italiano, cuja 75.ª edição decorre a partir de 29 de Agosto.

"Aguardámos pacientemente por uma mudança. Agora temos de agir", conclui a missiva divulgada no site da Rede Europeia das Mulheres do Audiovisual (EWA, sigla em inglês), uma das entidades subscritoras.

Na carta, as associações recordam que para a última edição do festival foi seleccionado apenas um filme realizado por uma mulher: Jia nian hua, de Vivan Qu. "No ano em que Lucrecia Martel não foi elegível para a competição em Cannes [o presidente do júri, Pedro Almodóvar, era um dos co-produtores do filme da cineasta argentina, Zama, que acabou por ser exibido em Veneza numa secção paralela] e Il Signor Rotpeter, de Antonietta De Lillo, esteve em Veneza fora de competição. O mesmo ano em que Alberto Barbera [o director do festival] anunciou: 'Olhamos à qualidade e não ao género'", referem. Este ano, a situação repete-se: "Com apenas um filme dirigido por uma mulher em competição [The Nightingale, de Jennifer Kent], Alberto Barbera insistiu que foi, 'qualidade, não género'", lembram.

Perante este panorama, as associações defendem agora "uma verdadeira reforma": "Queremos mudanças interseccionais em todos os níveis da indústria. Queremos criar mudanças duradouras nos espaços que ocupamos como produtoras, realizadoras, seleccionadoras de filmes. As mulheres já são 50% dos estudantes de cinema, no entanto, quando chegam ao mercado de trabalho, são cada vez menos vistas", argumentam.

No final de Julho, em declarações ao Hollywood Reporter, Alberto Barbera afirmou que preferia "mudar de emprego" caso "fosse obrigado a seleccionar um filme apenas por ter sido realizado por uma mulher e não baseado na qualidade do filme em si". Na altura, o director do festival de Veneza referiu ter assistido, durante a fase de selecção, a cerca de 1.500 filmes, e que apenas um terço das obras submetidas a concurso eram de mulheres.

As associações consideram que, "quando Barbera ameaça demitir-se, está a perpetuar a ideia de que seleccionar filmes feitos por mulheres implica baixar os padrões". "Ele está a sugerir que os filmes feitos por mulheres são de algum modo inferiores aos filmes feitos por homens; se tiverem de ser seleccionados por cotas ou escrutínio de género, a qualidade ficará comprometida e ELE DEMITE-SE", acusam.

As associações não aceitam esta argumentação. "Sabemos que já foi provado que, em vez de impedir a meritocracia, metas e quotas ajudam a promovê-la, ampliando o número de candidatos. Sabemos que ao promover a diversidade, se oferece maior e não menor escolha. Sabemos que se não houver discussão sobre criar espaço para diversidade de género (ou qualquer diversidade) ou se não encararmos a maneira como vemos filmes, não iremos avançar na discussão nem restaurar este sistema que favorece sobretudo homens brancos", defendem.

Além da EWA, a carta é ainda subscrita pela associação Internacional Mulheres no Cinema e na TV (WifTi International), pela WIFT Nordic, pela WIFT Sweden e pela Rede Suíça de Mulheres do Audiovisual.

O 75.º Festival Internacional de Cinema de Veneza decorre entre 29 de Agosto e 8 de Setembro.

Este ano, o Leão de Ouro de carreira será entregue à actriz britânica Vanessa Redgrave e ao realizador canadiano David Cronenberg.