SNS precisa de mais do dobro dos reumatologistas

Dos 177 reumatologistas no país, só cerca de uma centena está no Serviço Nacional de Saúde. Presidente do colégio de reumatologia diz que são precisos 250 para que garantir a cobertura nacional.

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Vamos precisar de reumatologistas cada vez mais. A prevalência das doenças reumáticas aumenta com a idade e Portugal tem uma população envelhecida MARIA JOÃO GALA

Se tudo correr como o previsto, a partir de Setembro o Serviço Nacional de Saúde (SNS) passa a contar com mais sete reumatologistas. Será por essa altura que os recém-especialistas que concorreram ao concurso lançado no final do mês passado serão colocados nos serviços. Pode parecer pouco, mas é um reforço importante para a área, tendo em conta que o serviço público precisa mais do que duplicar o número de reumatologistas que tem para garantir uma cobertura nacional: são actualmente cerca de uma centena espalhados pelo país, mas são precisos 250.

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Se tudo correr como o previsto, a partir de Setembro o Serviço Nacional de Saúde (SNS) passa a contar com mais sete reumatologistas. Será por essa altura que os recém-especialistas que concorreram ao concurso lançado no final do mês passado serão colocados nos serviços. Pode parecer pouco, mas é um reforço importante para a área, tendo em conta que o serviço público precisa mais do que duplicar o número de reumatologistas que tem para garantir uma cobertura nacional: são actualmente cerca de uma centena espalhados pelo país, mas são precisos 250.

A estimativa das necessidades, apontada pelo presidente do colégio de reumatologia da Ordem dos Médicos, foi baseada em rácios de reumatologistas por população a nível europeu e mundial. O recente retrato da especialidade, que o colégio fez no final do ano passado, enviado ao PÚBLICO pela Ordem, mostrou que o SNS tem de crescer em oferta. Dos 177 reumatologistas no país, “temos entre 90 e 100 especialistas no SNS”, afirma Augusto Faustino.

No próximo ano, pela primeira vez, haverá 20 vagas para quem inicia a formação especializada. Este ano foram 12, mas até aqui o número variava entre as cinco e as sete por ano. “O nosso objectivo é manter este rácio anual de 20 internos” para continuar a crescer em especialistas e, “se tudo correr bem, daqui a sete ou oito anos termos o número de médicos que calculamos necessário para fazer um atendimento nacional”.

As doenças reumáticas “são as doenças crónicas mais prevalentes dos adultos e têm uma série de impactos na qualidade de vida, de capacidade funcional, de custos económicos e sociais para o indivíduo e sociedade muito relevantes”. “São as doenças que mais afectam as pessoas em termos de baixas e reformas antecipadas”, diz.

O Estudo Epidemiológico de Doenças Reumáticas em Portugal (EpiReumaPt) permitiu perceber que mais de metade (56%) da população portuguesa tem queixas reumáticas, 35% não sabem que têm uma doença reumática e apenas 22% têm um diagnóstico. Estimou também custos a rondar os 204 milhões de euros por ano em perdas de produtividade por faltas ao trabalho. O estudo, que contou com a participação de mais de 10 mil pessoas e recolheu dados entre 2011 e 2013, foi a primeira e única fotografia até ao momento da realidade nacional. E tem permitido mais análises, como a apresentada em 2016 no XVIII Congresso Português de Reumatologia que referiu custos anuais superiores a 900 milhões de euros em reformas antecipadas por doenças reumáticas.

A melhor prevenção

O leque deste tipo de doenças é variado (entram mais de cem patologias nesta designação), mas a mais comum é a osteoartrose, que atinge cerca de 30% a 35% da população portuguesa. Existem também doenças inflamatórias, como a artrite reumatóide, patologias inflamatórias sistémicas, como o lúpus, e doenças metabólicas, como a osteoporose. Há ainda um conjunto de doenças músculo-esqueléticas difusas de que são exemplo a tendinite ou a fibromialgia.

A prevalência das doenças reumáticas aumenta com a idade. E tendo em conta que Portugal é um dos países mais envelhecidos da União Europeia, o desafio também cresce. “A prevenção mais importante é o diagnóstico precoce e atempado. Estamos a prevenir que a doença evolua e dê complicações”, defende Augusto Faustino.
Com 42 anos de existência, a especialidade tem crescido ao longo do tempo. Mas não o suficiente para uma rede nacional estruturada.

O retrato do colégio de reumatologia refere a existência de hospitais “que contemplam apenas um reumatologista”. E embora esta não seja a situação ideal, lê-se ainda no documento, “será sempre melhor do que aquela que se verifica num grande número de hospitais nos quais não existe reumatologista” sendo que, “deste modo, o doente reumático não tem acesso a cuidados de saúde adequados às suas necessidades”.

Alentejo sem especialistas

O médico refere que actualmente existem 22 serviços ou unidades de reumatologia no país. Mas lembra que em 2015, na altura em foi publicada a rede de referenciação hospitalar, “foi identificada a necessidade imediata de abertura de mais 20 serviços para se atingir uma cobertura nacional”. Os hospitais de Santo António (Porto), Guimarães, Évora, Cascais, Amadora-Sintra e São José (Lisboa) foram mesmo “considerados prioritários”.

“O que se verificou nos últimos anos é que não tem havido qualquer regra nem orientação ou lógica na abertura das vagas que é feita”, lamenta. Dá o exemplo da grande Lisboa, “onde há estas necessidades gritantes, por exemplo, no Amadora-Sintra, hospital de Cascais e São José, mas não abrem vagas”.

Mas a zona mais carenciada do país é o Alentejo, região que não tem um único especialista. No último concurso, para a contratação de recém-especialistas, uma das vagas abriu em Évora. Mas isso poderá não ser uma garantia. “Por circunstâncias várias, é um hospital onde tem sido muito difícil de atrair uma equipa de reumatologia. Cobre uma área muito extensa, sem qualquer assistência de reumatologia a nível do SNS, e um reumatologista recém-especialista não se sente com coragem de abraçar sozinho essa tarefa.”

O colégio de reumatologia defende três linhas de actuação para se chegar a uma cobertura nacional: “abrir vagas em locais onde existe disponibilidade imediata para que isso aconteça”; “reforçar as unidades que têm uma ou duas pessoas e que precisam de mais elementos para garantir a assistência” e oferecer um modelo — a que Augusto Faustino chama “chave na mão” — a hospitais como o de Évora, em que se leva “uma equipa pré-formada, com dois ou três elementos, com um médico sénior que garanta peso científico e seja a âncora de uma estrutura mais jovem”.

Em parceria com a Sociedade Portuguesa de Reumatologia, o colégio trabalha também na criação de uma espécie de guião, com um conjunto de procedimentos necessários para implementação de um novo serviço de reumatologia.

A título pessoal, Augusto Faustino lança uma outra sugestão: “É muito importante, sobretudo nestes serviços na periferia ou no interior em que ainda não há a especialidade e se afigura mais difícil a sua criação, que se criem vagas protocoladas para que a pessoa no final da especialidade já saiba que vai assumir a responsabilidade daquele serviço. Podemos ter um hiato temporal de cinco anos [duração da formação especializada], mas temos a segurança que no final desse tempo vamos ter um ou dois especialistas para ocupar aquelas vagas e formar aquele serviço”.