Camilo e outras figuras maiores de Famalicão já moram nas Lameiras
As quatro torres e as paredes interiores deste complexo de habitação social de Famalicão estão agora decoradas com os rostos de figuras históricas do concelho e de alguns dos jovens que, pelo esforço das suas mãos, tornaram realidade este projecto de arte urbana.
Camilo Castelo Branco, um dos vultos da literatura portuguesa, é também um símbolo de Famalicão. Foi lá, mais propriamente numa casa na freguesia de São Miguel de Ceide, hoje identificada com o seu nome, que o autor de Amor de Perdição e A Queda do Anjo viveu desde 1863 até à sua morte, em 1890. Lembrado pela cidade noutras ocasiões, o escritor tem agora o seu rosto gravado numa das quatro torres integradas no Edifício das Lameiras, com 18 metros de altura e seis de largura. As outras exibem as caras de Bernardino Machado, Presidente da República de 1915 a 1917 e de 1925 a 1926, de Alberto Sampaio, historiador, e de Júlio Brandão, também escritor, pintadas por quatro grupos de 12 pessoas cada, dos seis aos 25 anos de idade.
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Camilo Castelo Branco, um dos vultos da literatura portuguesa, é também um símbolo de Famalicão. Foi lá, mais propriamente numa casa na freguesia de São Miguel de Ceide, hoje identificada com o seu nome, que o autor de Amor de Perdição e A Queda do Anjo viveu desde 1863 até à sua morte, em 1890. Lembrado pela cidade noutras ocasiões, o escritor tem agora o seu rosto gravado numa das quatro torres integradas no Edifício das Lameiras, com 18 metros de altura e seis de largura. As outras exibem as caras de Bernardino Machado, Presidente da República de 1915 a 1917 e de 1925 a 1926, de Alberto Sampaio, historiador, e de Júlio Brandão, também escritor, pintadas por quatro grupos de 12 pessoas cada, dos seis aos 25 anos de idade.
A intervenção terminou na quinta-feira e, em duas das torres, ficou exclusivamente a cargo dos moradores do bairro, habitado, na sua maioria, desde 1983. Nas outras duas, alguns jovens não residentes colaboraram com os locais. “É a maior intervenção de arte urbana na região com o envolvimento da comunidade”, disse ao PÚBLICO, Joana Brito, directora artística da Casa ao Lado, entidade responsável pela iniciativa.
Desde 2005, quando foi criada por Joana Brito e por Ricardo Miranda, esta associação procura levar a arte às comunidades, sobretudo as de Famalicão, através da intervenção urbana e de iniciativas educativas. No caso das Lameiras, a intervenção só se tornou possível graças à mistura de dois projectos, reconheceu a artista plástica.
Um deles, o Traço, foi o vencedor, em 2017, da iniciativa Programar em Rede, do pelouro da cultura da Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão. O objectivo principal, segundo a descrição do projecto, era o de minimizar os riscos de exclusão social dos mais jovens através da formação artística. O Traço, porém, só abrangia duas das quatro torres, pelo que a intervenção só ficou completa com o Urban Youth, projecto de arte urbana na origem dos murais do parque de Sinçães e das freguesias de Requião, Jesufrei e Bairro.
Como a intervenção deste ano se destinava ao centro escolar de Antas, a Casa ao Lado decidir alarga-la às Lameiras, na mesma freguesia, e, assim, integrar todos os residentes daquele complexo habitacional. “Pintando as quatro torres, toda a população iria sentir-se integrada neste projecto e não iria haver quaisquer problemas entre os moradores”, explicou a responsável.
Deixar a própria marca
O edifício de habitação social passou a mostrar-se ao mundo com as caras de personalidades ligadas a Famalicão, mas no seu âmago guarda as feições de quem as pintou. Nas paredes interiores das torres, inscrevem-se agora os rostos dos 29 jovens que intervieram no lugar onde moram. Para Joana Brito, esses jovens, o “futuro das Lameiras”, deixaram uma marca que vai incentivar a população a cuidar do trabalho levado a cabo.
“A comunidade tinha o receio de que, passados dois dias de concluídas as pinturas, todo o trabalho estivesse riscado e estragado. Mas, assim, vai olhar para o trabalho com outros olhos. Nunca nenhum dos nossos trabalhos foi alvo de estragos”, afirmou.
A participação da comunidade foi, aliás, o principal motivo que levou a Associação de Moradores das Lameiras a aceitar o projecto da Casa ao Lado, disse ao PÚBLICO o seu presidente, Jorge Faria. A viver no bairro há 35 anos, o dirigente recordou que as Lameiras sempre tiveram condições de vida para os seus habitantes, mas eram frequentemente alvo de exclusão social, quer nas empresas, quer nas escolas.
“Nos anos 90, numa das escolas do 2.º Ciclo, chegaram ao ponto de colocar os miúdos das Lameiras numa só turma. Quando tivemos conhecimento, fizemos barulho e a situação resolveu-se”, lembrou.
Com 1400 pessoas a residir num complexo em que 60% das habitações pertence à Câmara e 40% aos moradores, as Lameiras já não são vítimas do mesmo estereótipo, reconheceu. Para Jorge Faria, o bairro, situado na confluência das estradas nacionais 14, que liga o Porto e Braga, e 206, que liga Vila do Conde a Guimarães, pode até ganhar visibilidade com esta intervenção.
“As pessoas estão habituadas a passar nos carros, mas, ao verem esta obra, podem-se interessar. Já há algum turismo em Famalicão, e estas pinturas podem trazer mais gente”, afirmou.