Sampaio recorda inteligência e força moral do "amigo" Kofi Annan
Jorge Sampaio enaltece ainda a "faculdade extraordinária" que Kofi Annan tinha "de fazer sentir cada pessoa que encontrava especial e única, testemunhando-lhe sempre um afecto próprio e uma amizade certa".
O ex-presidente da República Jorge Sampaio recebeu hoje com "mágoa" a notícia da morte do "amigo" Kofi Annan, antigo secretário-jeral das Nações Unidas, que recorda pela "estatura intelectual e força moral", "dinamismo" e solidez de presença e convicções.
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O ex-presidente da República Jorge Sampaio recebeu hoje com "mágoa" a notícia da morte do "amigo" Kofi Annan, antigo secretário-jeral das Nações Unidas, que recorda pela "estatura intelectual e força moral", "dinamismo" e solidez de presença e convicções.
"São raras as pessoas que dificilmente imaginamos que possam um dia desaparecer, mas Kofi Annan era seguramente uma delas. A sua estatura intelectual e força moral, o seu dinamismo, a solidez da sua presença e convicções sempre se sobrepuseram ao sentido da vida efémera e à mortalidade própria dos humanos", afirma Jorge Sampaio, num comunicado.
Para o antigo Presidente da República, o "desaparecimento súbito" de Kofi Annan provoca um "sentimento de choque e injustiça que não são facilmente superáveis", principalmente para alguém que, como Jorge Sampaio, privou com ele "em contextos diversos e durante vários anos".
Jorge Sampaio recorda como, enquanto Presidente da República, se encontrou com o então secretário-geral das Nações Unidas a propósito da causa de Timor Leste, da luta contra o HIV-SIDA e da agenda dos Objectivos do Desenvolvimento Milénio.
Foi, aliás, Jorge Sampaio quem distinguiu Kofi Annan, em nome de Portugal e dos portugueses, com o grande colar da Ordem da Liberdade, em Outubro de 2005.
Uma distinção que traduziu a homenagem portuguesa a quem soube "dar voz e defender os valores consagrados na Carta das Nações Unidas e conferir um novo sentido e uma nova urgência ao papel insubstituível que cabe a esta Organização desempenhar no mundo, em prol da paz, do desenvolvimento e da defesa dos direitos humanos".
O antigo Presidente da República sublinha como, na altura, destacou em particular o "sentido de independência e a coragem" de Kofi Annan, bem como a sua "vigorosa" defesa dos direitos humanos, o empenho que colocou na promoção do estatuto da mulher e na igualdade de género, a prioridade à luta contra a pobreza e a doença, o "decisivo impulso" ao processo de reforma da Organização e o "papel fundamental" que desempenhou no processo que culminou na independência de Timor Leste.
Jorge Sampaio evoca também o momento -- em Abril de 2006, já após o final do seu mandato de Presidente da República -- em que recebeu uma chamada telefónica de Kofi Annan, convidando-o para seu enviado especial para a luta contra a tuberculose, missão relacionada com a Agenda dos Objectivos do Desenvolvimento do Milénio.
Esse desafio, permitiu o início de um novo ciclo de relacionamento de trabalho entre Jorge Sampaio e Kofi Annan
Depois de deixar a liderança das Nações Unidas, Kofi Annan manteve ainda contacto com Jorge Sampaio no âmbito da Comissão Global para a Política das Drogas.
"Continuei a encontrar o meu amigo Kofi Annan, sempre extremamente activo e envolvido na promoção de causas em que entendia ser útil e poder marcar uma diferença", sublinha.
Jorge Sampaio enaltece ainda a "faculdade extraordinária" que Kofi Annan tinha "de fazer sentir cada pessoa que encontrava especial e única, testemunhando-lhe sempre um afecto próprio e uma amizade certa".
"Talvez seja esta faceta de Kofi Annan que guardarei sempre viva na memória e que tive ocasião de observar", fosse em situações mais formais, como as reuniões em Genebra, ou informais, como um encontro acidental numa remota sala de espera do aeroporto de Nairóbi.
Jorge Sampaio termina evocando o "olhar frontal e sorriso luminoso" do antigo secretário-geral das Nações Unidas, bem como o seu "sentido de humor", "sabedoria funda, feita de experiência e inteligência rara".
"Kofi Annan deixa-nos no ano do centenário do nascimento de Nelson Mandela. São dois vultos e dois legados que devemos celebrar conjuntamente, por tudo o que os une e que representam para a afirmação da nossa humanidade comum e da universalidade dos valores e princípios em que assenta", considera.