Pelos caminhos da Estrela

É uma tarefa ingrata, a de isolar lugares para visitar na serra da Estrela, porque toda ela é pródiga em deslumbramentos, grandes e pequenos. O melhor é ir mesmo de olhos bem abertos e sem medo de se desviar do caminho.

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Poço da Broca de Barriosa Nelson Garrido

Covão dos Conchos

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Covão dos Conchos

Poderia dizer-se que é a natureza a revestir-se de efeitos especiais para um qualquer filme apocalíptico; mais uma vez é a mão do homem a dar uma ajuda à natureza da serra da Estrela. O Covão dos Conchos ficou conhecido com um vídeo que mostra a água da lagoa a sumir-se em rodopio. Podia ser um dos prodígios a que a natureza nos habituou mas é na verdade o resultado do engenho humano: um túnel terminado em 1955 para escoar as águas da Ribeira das Neves para a Lagoa Comprida (parte da central hidroeléctrica do Sabugueiro). A água não se perde, portanto, apenas vai subterrânea durante 1,5km: para vê-la desaparecer, a caminhada é de 10km (cinco para cada lado) desde a Lagoa Comprida.

Covão da Ametade

Há outros covões na serra, mas nenhum tem enquadramento mais perfeito que o da Ametade. Aqui, é o Zêzere que ganha força, entre vidoeiros amparados pelos três cântaros (blocos rochosos) do vale glaciar (o icónico Magro, o Raso e o Gordo). Bucólico e dramático.

Gastronomia

Não é um lugar, é um vê-se-te-avias, quando nos sentamos à mesa para comer “a” serra da Estrela. O queijo não faltará, como entrada ou sobremesa, para acompanhar com o pão de centeio ou para “casar” com mel de urze ou rosmaninho — e por falar em “casamentos”, vamos ao arroz doce e ao leite-creme, que vêm juntos. Os enchidos (alheiras, morcelas, chouriços) não faltam, o cabrito, o javali, a cabidela, o bacalhau com broa ou a truta são “básicos”.

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Nelson Garrido

Linhares da Beira

Nem todos os dias há parapentes no ar, mas são também eles renovam a vida nesta vila medieval que é aldeia histórica. Em dias de calor, a população envelhecida senta-se à sombra das casas que chegam até aos pés do cabeço rochoso onde se ergue o castelo desde os tempos de D. Dinis. O foral recebera-o de D. Afonso Henriques, mas a importância estratégica dita-lhe ocupação desde tempos pré-romanos. Nas suas ruas, ruelas e becos adivinhamos o murmúrio da história entre o silêncio abafado; a austeridade solarenga denuncia-lhe nobreza; o casario tradicional finta a dureza do granito com o pitoresco; e na igreja matriz, três tábuas reivindicam a autoria de Grão Vasco.

Museu Natural da Electricidade (Senhora do Desterro)

Nas margens do rio Alva, ergue-se a que foi a primeira central hidroeléctrica da Serra da Estrela (1907) e que desde 2011 preserva a memória da gesta que foi dar luz à montanha através do sistema de centrais em cascata. Uma boa visita para perceber como se moldou território.

Parque Ecológico de Gouveia

Um parque dentro de um parque, uma espécie de matrioska da natureza serrana. Em seis hectares da Quinta da Borrachota temos a certeza de ver cães da serra, patos, burros, javalis, veados, cabras e ovelhas em envolvente natural, ainda que apenas a pouca distância de Gouveia. E no Centro de Ecologia, Recuperação e Vigilância de Animais Selvagens (CERVAS) assistimos à devolução de animais, aves na maioria, ao seu habitat natural.

Poço do Inferno

São 10 metros de altura de água que se precipitam numa pequena lagoa de águas transparentes a instar aos mergulhos. Na verdade, a lagoa mais parece um poço, encaixada que está entre rochas graníticas, como uma casca protectora no meio da serra.

Poços de Broca

São fruto do labor humano, mas por vezes nem parecem. Quando foi necessário desviar a água na Ribeira do Alvoco para responder às necessidades agrícolas, abriram-se canais que, ao vencer os desníveis, se transformaram em cascatas a saltar para “poços”. São, portanto, outras “praias” (ou piscinas quase naturais), com águas mais quentes pelo fundo xistoso, característico desta parte da serra, já a mirar o Açor. O poço de Broca da Barriosa é o maior deles (e está à beira da estrada), mas outros se escondem a montante, como o do Aguincho.

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Vale do Rossim Nelson Garrido

Vale do Rossim

Não estamos no ponto mais alto da serra, esse é, claro, na Torre, mas é como se estivéssemos. No Vale do Rossim está a mais alta praia fluvial do país, espelho de água formado pela barragem propício para canoagem, stand up paddle ou as prosaicas gaivotas. A praia tem um bar-restaurante de apoio, com esplanada-lounge que dá música à área — sem preocupações, há muitos recantos fora do seu alcance e tantos deles com sombra. Tem um parque de campismo nas imediações: além do espaço para montar tenda, oferece yurts.

Vale Glaciar da Candeeira (Manteigas)

Se os vales glaciares de Loriga e do Zêzere (que até é o maior da Europa) são os cabeças-de-cartaz da serra da Estrela para os amantes da natureza, o da Candeeira é o segredo mais bem guardado. O acesso é mais difícil (apenas por trilhos de montanha) e tal significa natureza mais selvagem, que recompensa quem se aventura com cenários inesquecíveis, coroados pela lagoa do Peixão, a 1666 metros de altitude.