Isabel dos Santos perde apoio do Estado angolano na Efacec
Empresária angolana diz que acções da ENDE "vão ser agora vendidas no mercado internacional"
A empresária angolana Isabel dos Santos confirmou esta sexta-feira uma ordem do Presidente de Angola, João Lourenço, para a saída da Empresa Nacional de Distribuição de Electricidade (ENDE) da portuguesa Efacec Power Solutions.
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A empresária angolana Isabel dos Santos confirmou esta sexta-feira uma ordem do Presidente de Angola, João Lourenço, para a saída da Empresa Nacional de Distribuição de Electricidade (ENDE) da portuguesa Efacec Power Solutions.
Em declarações ao jornal angolano Valor Económico, a filha do ex-presidente angolano, José Eduardo dos Santos, reiterou, porém, que não foram utilizados fundos públicos na compra de acções na Efacec e declarou que a ENDE não chegou a pagar o valor total da sua participação, que entretanto desceu de 40% para 16%. "Fomos notificados de que o Presidente da República deu instruções ao Ministério de Energia e Águas da saída da ENDE da Efacec. As acções da ENDE vão ser agora vendidas no mercado internacional", disse Isabel dos Santos.
A empresária angolana reafirmou que a Efacec não foi adquirida com fundos públicos, sublinhando que foi ela própria quem avançou com o dinheiro para permitir a entrada da ENDE na Efacec. "A Efacec foi comprada por 195 milhões de euros e a [entrada da] ENDE custou 16 milhões de euros. Como é que o Estado [angolano] pagou?", questionou Isabel dos Santos. "Supostamente, com os 40%, o capital da Winterfell, a ENDE deveria pagar 40 milhões de euros, mas só pagou 16 milhões de euros. O valor total nunca foi pago. Fui eu quem pagou adiantadamente o resto do dinheiro para a ENDE entrar no negócio", acrescentou a empresária.
Negócios privados e públicos
O negócio ocorreu em 2015, quando Isabel dos Santos assegurou a compra de 65% da Efacec, a maior empresa portuguesa de electrónica e electromecânica, em parceria. A José de Mello SGPS e a Têxtil Manuel Gonçalves, que controlavam a empresa em partes iguais desde 2006, passaram então a deter 17,5% cada um.
A compra da Efacec surgiu cerca de 10 anos após o primeiro grande investimento da empresária, que foi a entrada na Galp por via da Amorim Energia, associado então a Américo Amorim e à petrolífera estatal angolana Sonangol. Neste caso, a Sonangol e Isabel dos Santos juntaram-se numa empresa, a Esperaza, com a petrolífera a deter a maioria do capital. Já no caso da parceria com a ENDE (também ela 100% estatal), foi Isabel dos Santos quem assegurou a maior fatia do capital logo ao início.
Actualmente, esta parceria na Amorim Energia — controlada pelas herdeiras de Américo Amorim — está em risco, na sequência das mudanças que estão a ocorrer desde que João Lourenço substituiu José Eduardo dos Santos na presidência de Angola, no Verão do ano passado. No caso de Isabel dos Santos, João Lourenço retirou-a da liderança da Sonangol (onde o seu pai a tinha colocado pouco tempo antes) e colocou um ponto final na ligação privilegiada que tinha com a Sodiam, empresa estatal angolana de comercialização de diamantes.
Um “casamento feliz”
Ao Valor Económico, Isabel dos Santos insistiu que, "apesar da fraca parceria", a Efacec ressuscitou" e tornou-se, actualmente, "uma referência global na energia e na engenharia". "Alguns sectores devem ter passado um mau bocado por terem aceitado o 'sucesso' de Isabel dos Santos", ironizou.
A empresária salientou que a parceria "tinha tudo para dar um casamento feliz", uma vez que a ENDE teria tido acesso ao "talento para liderar a energia e a engenharia". "O projecto para construir uma fábrica de cabos eléctricos em Angola, em 2019, permitiria transferir know-how e criar cerca de 300 novos empregos especializados", acrescentou.
As suspeitas de que foram envolvidos fundos públicos datam de Agosto de 2015, depois de um decreto presidencial do então chefe de Estado, José Eduardo dos Santos, ter autorizado a ENDE a comprar 40% das acções da Winterfell que, cerca de três meses depois, formalizou a compra da Efacec. Na ocasião, o Parlamento português perguntou ao Governo de Lisboa para verificar se tinham sido seguidos os procedimentos de combate à lavagem de capitais.
As relações da empresa fundada em Portugal com Angola datam da década de 1960. Nos anos mais recentes foram concluídos vários contratos avultados, como o projecto formalizado em 2014 para aumentar a capacidade de uma central hidroeléctrica da barragem de Luachimo, na província angolana da Lunda Norte, com uma duração de 37 meses e num valor próximo dos 83 milhões de euros.