Pela primeira vez, os EUA executam um condenado com o opióide fentanilo

Medicamento que é usado contra a dor extrema no cancro, por exemplo, é uma das drogas da actual epidemia de abuso de opióides nos EUA. Carey Dean Moore foi executado nesta terça-feira no Nebrasca por causa do assassínio de dois taxistas em 1979.

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Carey Dean Moore esteve quase 40 anos no corredor da morte Reuters/HANDOUT

Pela primeira vez nos Estados Unidos, um condenado foi executado através de uma injecção contendo o opióide fentanilo, responsável por milhares de mortes por overdose nos últimos anos no país. A execução aconteceu nesta terça-feira no Nebrasca, e foi também a primeira neste estado em mais de 20 anos.

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Pela primeira vez nos Estados Unidos, um condenado foi executado através de uma injecção contendo o opióide fentanilo, responsável por milhares de mortes por overdose nos últimos anos no país. A execução aconteceu nesta terça-feira no Nebrasca, e foi também a primeira neste estado em mais de 20 anos.

Carey Dean Moore, de 60 anos, foi executado através de uma mistura de drogas, incluindo diazepam e fentanilo. Esta última é um opióide que foi encontrado no sangue de 20 mil pessoas que morreram de overdose só em 2016 nos EUA. No ano passado, só no Nebrasca, morreram 150 pessoas por overdose em cujo sangue estava este produto.

Dean Moore foi condenado em 1979 pelo assassínio de dois taxistas, tendo sido por isso o recluso que passou mais tempo no “corredor da morte” em toda a história dos EUA.

O tempo de espera foi criticado pelas famílias das vítimas de Moore. Recentemente, em declarações ao jornal Omaha World-Herald, Richelle Van Ness-Doran, filha de um dos taxistas assassinados, afirmou que “38 anos é demasiado tempo”. “Só estão a prolongar isto. É como um estalo na nossa cara.”

Esta foi também a primeira vez que se realizou uma execução através de uma injecção letal no estado do Nebrasca. Até 1997, eram realizadas com cadeira eléctrica, que foi abolida, anos depois, pelo Supremo Tribunal estadual do Nebrasca.

Tal como previsto pela lei, dez testemunhas assistiram à execução, entre elas três reclusos, um padre, quatro jornalistas e dois membros do quadro da prisão da cidade de Lincoln, onde estava preso Moore.

“Ele parecia um pouco abalado. A gravidade do que lhe estava a acontecer era clara no seu rosto e na sua expressão”, descreve Joe Duggan, jornalista do Omaha World-Herald, que assistiu à execução, acrescentando: “Mas manteve a compostura. A sua voz foi clara quando falou. É claro que olhou em redor da sala para ver quem lá estava. Caso contrário, manteria o olhar no chão.”

Moore esteve próximo de ser executado em 2011, mas o Supremo cancelou a execução, pois foram levantadas dúvidas sobre a forma como o estado do Nebrasca comprou duas das drogas que planeava injectar.

Como explica o jornal The Guardian, a farmacêutica alemã Fresenius Kabi interpôs um processo contra este estado norte-americano para que cancelasse a execução, pois não permite que os seus distribuidores vendam medicamentos para serem utilizados na pena de morte. E o Nebrasca iria utilizar dois medicamentos desta empresa na execução de Moore.

O processo prolongou-se, até que, na segunda-feira, o tribunal de recursos norte-americano permitiu a execução, pois, caso contrário, iria “frustrar a vontade do povo”. Este argumento refere-se ao facto de, em 2016, os eleitores do Nebrasca terem aprovado a restauração da pena de morte depois de, no ano anterior, o parlamento estadual a ter abolido. O tribunal disse ainda que não concordava que a empresa sofresse danos irreparáveis pelo facto de os seus medicamentos serem utilizados numa execução. 

O estado do Nebrasca executou 37 pessoas até hoje. Moore foi a quarta desde 1976.