Em Ponte de Lima, os cogumelos shitake dão para todos os gostos

Pelas cestas de Ana e Nuno Malheiro, naturais de Ponte de Lima, passam cerca de 100 quilos de cogumelos shitake por semana. Na cozinha de casa, transformam-nos em alheiras, paté, compotas, marmelada e até chocolate.

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Numa estufa escondida algures em Vitorino de Piães, em Ponte de Lima, Ana e Nuno estão à nossa espera para apanhar cogumelos shitake. À nossa esquerda, estão empilhadas 130 toneladas de madeira de carvalho, à direita, outras tantas de madeira de eucalipto. Os cogumelos nascem ao fundo, na sala de frutificação, explicam-nos antes de calçar as luvas e pôr mãos à obra. São arrancados pelos pés, um a um, e colocados nas cestas assim mesmo, com os pés virados para baixo.

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Numa estufa escondida algures em Vitorino de Piães, em Ponte de Lima, Ana e Nuno estão à nossa espera para apanhar cogumelos shitake. À nossa esquerda, estão empilhadas 130 toneladas de madeira de carvalho, à direita, outras tantas de madeira de eucalipto. Os cogumelos nascem ao fundo, na sala de frutificação, explicam-nos antes de calçar as luvas e pôr mãos à obra. São arrancados pelos pés, um a um, e colocados nas cestas assim mesmo, com os pés virados para baixo.

Até ao ano passado, Nuno era motorista de máquinas de terraplanagem, na construção civil, hoje dedica-se à produção de cogumelos biológicos a tempo inteiro, com a ajuda da mulher, Ana Malheiro. A ideia surgiu depois de Nuno ter recebido “um saquinho com sementes de cogumelos shitake” numa formação na área e não perderam tempo. Ao chegar a casa, inocularam 15 troncos de madeira, esperaram oito meses e ali estavam eles. “Deu para nós, deu para os amigos, deu para várias pessoas”, conta.

Repetem o processo desde então e rapidamente perceberam que a pequena estufa ao lado de casa não seria suficiente para dar resposta aos pedidos de familiares, amigos e conhecidos. De uma estufa de 70 metros quadrados passaram para uma de 1000. E de inocular seis toneladas de madeira para inocular 130 toneladas.

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Os cogumelos shitake são colhidos de dois em dois dias. Paulo Pimenta

Nuno não esconde o gosto pela agricultura, mas a verdade é que até ali nenhum deles tinha qualquer ligação aos cogumelos. “Nesta zona os terrenos são muito ocupados pela pecuária e queríamos pôr em marcha um projecto agrícola que ocupasse o mínimo de terreno possível. Pensámos em framboesas, cogumelos e até caracóis”, afirma Nuno Malheiro.

A construção da estufa arrancou no início de 2017 e a produção da Etnoglamour avançou em Setembro do mesmo ano. Hoje não têm mãos a medir para os cogumelos shitake que aparecem, ora nos troncos de carvalho, ora nos troncos de eucalipto, e contam com a ajuda de dois funcionários. Colhem, em média, 100 quilos por semana.

A produção implica cuidados diários, como combater pragas e controlar a temperatura e humidade do interior da estufa, mas o processo não é difícil. “Compramos a madeira, furamos a madeira, introduzimos as sementinhas e depois deixamo-la em repouso. Depois de nove meses de repouso, a madeira vai para choque térmico, ou seja, mergulhamos as pilhas de madeira em água, num tanque com 18 metros quadrados, deixamo-las durante 24 horas e retiramos”, explica Nuno Malheiro. Transportada para a sala de frutificação, não são precisos mais de cinco dias para começarem a nascer cogumelos.

A oferta não se esgota nos cogumelos

Para além dos frescos, a Etnoglamour oferece também uma vasta gama de produtos transformados, que vão desde as alheiras, farinha e paté, às compotas e marmelada de cogumelo. As “experiências” começaram na cozinha de casa e, desde aí, têm vindo a apresentar novos produtos de cada vez que marcam presença numa feira. “As pessoas vêm sempre ter connosco a perguntar qual é a novidade daquele dia”, diz Ana Malheiro.

Às compotas, de três sabores diferentes - mel, moscatel e anis -, seguiu-se a marmelada de cogumelo, mas não tardaram os pedidos salgados. Assim surgiu o paté, os cogumelos em conserva de azeite e a farinha de cogumelo. Para “tentar pôr os miúdos a comer cogumelos”, criou também cogumelos com chocolate.

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Ana Malheiro faz questão de apresentar uma novidade em cada feira. Paulo Pimenta

O desafio para produzir alheiras vegan foi lançado pouco depois. “Começaram a perguntar-nos como se podia confeccionar o cogumelo de forma a substituir uma refeição e então surgiu a alheira vegan. Levámos para a primeira feira, achámos que não íamos vender nada, mas no fim do primeiro dia já não tínhamos alheiras para vender”, ri. Hoje junta também aos cogumelos carne de galinha e peru, “para agradar a todos”.

Os produtos com certificação biológica estão à venda em lojas biológicas, gourmet e em grandes superfícies nos concelhos de Ponte de Lima, Maia, Barcelos, Viana do Castelo e Arcos de Valdevez. Podem ainda ser adquiridos online, através das plataformas Reforma Agrária e SmartFarmer ou da página de Facebook.

O projecto, com um investimento de 110 mil euros, foi financiado a 50% pelo Programa de Desenvolvimento Rural (PDR 2020). Para o futuro, o casal de Ponte de Lima tem como objectivos ampliar a estufa em 800 metros quadrados, possuir pontos de venda na capital e ainda atingir o mercado da Galiza.

Texto editado por Ana Fernandes