The Kissing Booth: o Netflix a agarrar novos espectadores com unhas, dentes e adolescentes
Um livro escrito por uma rapariga de 15 anos já tinha a sua comunidade de fãs online. Agora é um filme e um caso sério de popularidade.
Não é preciso gostar de The Kissing Booth para reconhecer a sua popularidade e que o Netflix está a agarrar os novos espectadores com unhas, dentes e adolescentes. Não tem uma história nova, nem é particularmente bom, concluem os adultos que o analisaram nos últimos meses. Mas os jovens espectadores, que são os subscritores do futuro, adoram e confirmam que o Netflix está a apostar forte nas comédias românticas e na ficção de e sobre adolescentes — e está a ganhar.
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Não é preciso gostar de The Kissing Booth para reconhecer a sua popularidade e que o Netflix está a agarrar os novos espectadores com unhas, dentes e adolescentes. Não tem uma história nova, nem é particularmente bom, concluem os adultos que o analisaram nos últimos meses. Mas os jovens espectadores, que são os subscritores do futuro, adoram e confirmam que o Netflix está a apostar forte nas comédias românticas e na ficção de e sobre adolescentes — e está a ganhar.
Um filme adolescente não é propriamente uma categoria de nicho – ou será? Nos últimos anos houve de Os Jogos da Fome, Divergente, comédias com apelo adolescente ou versões mais contemplativas do teen movie como Juno, A Culpa é das Estrelas e The Perks of Being a Wallflower, mas desde 2010 que escasseiam.
A série Crepúsculo (2008-12) parece ter secado tudo à volta, deixando órfã uma geração. Como assinala Dustin Rowles no Uproxx, “esta geração de adolescentes ainda não tem um filme definidor como As Meninas de Beverly Hills [1995], Giras e Terríveis [de 2004, de Tina Fey], ou The Breakfast Club [de 1985 e de John Hughes]” — e Molly Ringwald até está em The Kissing Booth. Mas os vampiros de Crepúsculo tiveram tudo a ver com o nascimento do novo fenómeno The Kissing Booth.
O filme, “os dos mais vistos no país [EUA], e talvez no mundo”, segundo o próprio responsável pelos conteúdos do Netflix, Ted Sarandos, vem da mente de uma rapariga galesa de 15 anos que, farta de vampiros e paranormal a dominar a literatura juvenil, escreveu o seu próprio livro. The Kissing Booth tornou-se num sucesso no Wattpad, a comunidade online que permite a amadores escrever livros e coligir conteúdos, com 19 milhões de leitores.
A partir daí, a carreira de Beth Reekles e sua história teve uma sequência já mais típica da velha economia — a Random House deu-lhe um contrato para escrever mais dois livros, que já publicou, e o Netflix fez dela um filme, que chegou a estar ao nível de Deadpool 2 ou Vingadores: Guerra do Infinito nos tops dos mais populares. “Queria ler romances normais de romances de liceu”, explicou a jovem autora, hoje com 23 anos, ao Washington Post. Também convencional é afinal o facto de ser mais um filme baseado em conteúdos já existentes, um público pronto a clicar no play. O resto é, como escreve a blogger Ani Bundel na NBC, “uma tempestade perfeita de demografia de audiências: apaixonados por comédias românticas e adolescentes”.
Desde Maio, está no Netflix em companhia de outras 35 entradas na categoria “Teen Movies”, entre as quais produções próprias como Alex Strangelove, Dude ou Candy Jar, bem como velhas apostas 90s como As Meninas de Beverly Hills, títulos American Pie, o remake de Footloose e o Grease original. A seu lado está a oferta de séries teen com nostalgia de décadas que os jovens espectadores nunca viveram, como a transversal Stranger Things ou a superficial Everything Sucks, títulos como On My Block, American Vandal ou Riverdale (que sendo do canal CW, mas que teve um boom de popularidade quando foi parar ao serviço de streaming), e outro caso de popularidade, desta feita com o peso dramático, as duas temporadas de Por 13 Razões. Esta última foi tema de um longo debate sobre a representação do suicídio e a sua potencial glorificação.
O sucesso de The Kissing Booth também não vem sem espinhos. Além das avaliações rasteiras nos agregadores de críticas profissionais e de utilizadores como o Rotten Tomatoes, é uma história de amor de escola entre um rapaz mais velho abrutalhado e uma rapariga que é amiga do irmão mais novo dessa espécie de bully. O seu sexismo tem sido amplamente criticado, desde o reflexo de personagens estereotipadas no masculino (o bully controlador) e no feminino (incluindo slut shaming), mas elogiado pela representação de amizades puras entre rapazes e raparigas. Tem listas, comédia, popularidade e festas. É um filme de adolescentes.