Na Jordânia, o difícil é escolher

A capital, Amã, merece que lá se passem pelo menos dois dias. Depois, há Aqaba, atracções turísticas inevitáveis como Petra ou o deserto de Wadi Rum. E quatro segredos.

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Amã

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Amã

Difícil é escolher se o tempo for pouco. No início ou fim da viagem, a capital merece que lá se percam (ganhem) uns bons dois dias – para quem prefere visitas a monumentos as opções são várias (Cidadela, Museu Jordano, mesquita Rei Abdullah – impressionante mas moderna –, mesquita Abu Darwish, que conserva o exterior original, em pedra branca e negra alternada), mas a Fugas recomendaria acima de tudo desfrutar do ambiente de uma cidade árabe moderna. Nas esplanadas frequentadas por jovens e menos jovens até bem tarde pela noite, na animada Rua Rainbow, onde não se ignora o souq (mercado) Jara e se está perto dos melhores cafés e galerias, mas também a dois passos do próprio Teatro Romano (Rua Al-Hashemi).

Com os seus 600 lugares, a Baixa da cidade (Al Balad, para os locais) parece ter nascido aos pés do imponente Teatro, entre colinas. Os próprios habitantes aproveitam para descansar nas ruínas, dependendo do sol e da hora do dia. Para fotografar é melhor uma visita matinal, mas não deixe de regressar à noite, depois de jantar num dos restaurantes tradicionais das redondezas e bem abastecido com uma dose de doces das lojas mesmo em frente (os gulosos não podem perder o knafeh).

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De Sul a Norte

A sul, se a base é Aqaba, há Petra, o deserto de Wadi Rum (conhecido como Vale da Lua); a norte, há o inóspito e rochoso Wadi Sarhan e os vários castelos (qasrdo deserto (uma estrada permite visitar uma série deles num dia), alguns classificados pela UNESCO. A meio caminho fica, claro, o mar Morto, onde flutuar é de graça.

Um segredo

Mesmo quem goste de viajar sem quase nada marcado e ao ritmo dos apetites diários não pode deixar de organizar um almoço no deserto. Se estiver em Aqaba é perfeito – é preciso encomendar que aqui nada pode ser improvisado, tudo leva tempo. Camadas e camadas, arroz, carneiro, arroz, galinha, carneiro, arroz, tudo cozinhado no calor da areia, num fundo buraco escavado com a habilidade de gente que o faz desde sempre. O festim passa entre oito e 12 horas enterrado, tem de chegar lá de noite para o seu almoço. Vê-lo sair das entranhas e desfazer-se de pronto é um prazer em si mesmo. Se viajar sem nenhum guia, pergunte nos hotéis ou agências de viagem.

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(Só mais um)

Damasco era uma cidade conhecida por mesquitas, casas apalaçadas transformadas nos mais belos restaurantes e souqs de encantar. Mas também por realidades mais terra-a-terra, como o cheiro do jasmim, as limonadas com menta ou o melhor gelado de pistácio do mundo. Como na Jordânia vivem hoje centenas de milhares de refugidos sírios, vale a pena procurar os seus restaurantes (comida como a síria não se encontra facilmente). E sim, provar o gelado verde e delicioso que um sírio decidiu arranjar forma de vender em Amã para que os damascenos chegados nos últimos anos não tenham tantas saudades de casa. Chama-se Bekdash, como a original, sabe tal e qual, e correu tão bem que já existem várias gelatarias (Rua Al-Madina al-Monawara, Sweifieh ou Galleria Mall).

(Afinal, faltava a Cafetaria Reem)

Há boas kebabs e há a kebab da Cafetaria Reem, em Amã. Se deixarmos os jordanos julgarem, pelo menos, não há nenhuma como esta. O local não podia ser menos óbvio: literalmente ao lado de uma rotunda – Jabal Amman, Second Circle –, é minúsculo, está aberto 24 horas por dia e só serve kebab de cordeiro. As filas falam por si, o cheiro também. Os seis funcionários nunca entram em pânico mas há horas em que é impossível fazer pedidos especiais. Não é um problema, o habitual é perfeito; fatias de cordeiro em pão fresco de pita, pedaços de tomate e cebola doce, uma pitada de sal, sumagre, tudo bem enrolado e quente. Dizem que às vezes param por ali carros enviados do próprio palácio a pedido da rainha Rania. O preço? Menos de 50 cêntimos.

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Despachada a kebab, mais umas linhas dedicadas à falafel (pastéis de grão) que os jordanos reclamam ter inventado. Em Amã não provámos melhor falafel do que as do Hashem, uma instituição, aberto desde 1952 e, diz-se, mantido intacto. O sistema pode parecer confuso, mas é só pedir num pequeno balcão, encontrar lugar nas mesas ao ar livre e vai correr tudo bem. Se assim for, chegarão à mesa de plástico as próprias falafel, saídas de óleo a ferver, e os acompanhamentos pedidos – foul (uma pasta de favas com azeite que noutras paragens é o pequeno-almoço dos homens de trabalho), hummus (pasta de grão) a saber a alho, pickles, pimenta, cebola crua e folhas de menta. É misturar o que se quiser, embrulhar em pita e degustar. Tudo por menos de dois euros.

O Hashem fica num beco da Rua Al-Amir Mohammed (onde num dia de sol há banquinhas de rua a vender gelados e doces tradicionais que podem transformar-se em bancas de batata-doce assada em menos de nada, mal caiam umas gotas de chuva). O beco é justamente conhecido como Hashem.

(Agora sim, o último)

Este é rápido – os jordanos (muitos são na verdade palestinianos) são uma simpatia e gostam genuinamente de receber e de conversar com estrangeiros. É aproveitar.