Bons Sons: João Afonso, Sara Tavares e um pedido de casamento

O segundo dia do festival de Cem Soldos contou também com actuações de Patrícia Costa, S. Pedro, Norberto Lobo, Tomara, 10000 Russos e Mirror People. O festival prossegue este sábado com Sean Riley & The Slowriders, PAUS ou Conan Osiris. Termina domingo com Linda Martini, Dead Combo ou Lena d'Água e Primeira Dama.

Fotogaleria

Logo depois do almoço, dentro da Igreja de São Sebastião, Tiago Pereira, da Música Portuguesa a Gostar Dela Própria, que dá nome e programação a esse palco, apresenta a actuação de Patrícia Costa, a fadista de Oliveira Santa Maria, Vila Nova de Famalicão. É assim que arranca o segundo dia de Bons Sons, o festival que toma conta de Cem Soldos, aldeia nos arredores de Tomar. Tanto o anfitrião quanto a cantora realçam, no discurso, os afectos, ligando ao lema deste ano: “amor de Verão”.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Logo depois do almoço, dentro da Igreja de São Sebastião, Tiago Pereira, da Música Portuguesa a Gostar Dela Própria, que dá nome e programação a esse palco, apresenta a actuação de Patrícia Costa, a fadista de Oliveira Santa Maria, Vila Nova de Famalicão. É assim que arranca o segundo dia de Bons Sons, o festival que toma conta de Cem Soldos, aldeia nos arredores de Tomar. Tanto o anfitrião quanto a cantora realçam, no discurso, os afectos, ligando ao lema deste ano: “amor de Verão”.

Mais tarde, no centro da aldeia, no ainda não em funcionamento Palco Lopes-Graça, água era borrifada para refrescar as pessoas, visivelmente mais do que no dia anterior num dia de muito mais calor. Mais abaixo, no Palco Giacometti, actuava S. Pedro, o projecto pop de matriz clássica, com harmonias de voz e melodias bem pensadas e desenhadas, de Pedro Pode, ex-doismileoito. Vai dizendo coisas como “Se quiserem bailarico é agora” enquanto dedica canções à namorada grávida ou fala das semelhanças dos seus temas com baile funk. No fim, no encore, repete uma das canções, Anda Apanhar Sol, e pede ao público para cantar com ele. É a segunda vez que a toca, pelo que não há desculpas para ninguém saber o refrão.

Em frente à igreja de S. Sebastião, no Palco Amália, Norberto Lobo, na guitarra eléctrica, junta-se a Yaw Tembe no trompete e fliscorne, Ricardo Jacinto no violoncelo e Marco Franco na bateria, a banda com quem gravou Estrela, editado em Abril. “Bons Sons, ‘tá-se bem, obrigado”, diz o músico que ocasionalmente também usa a voz. Como é uma igreja cujos sinos não deixam de tocar, a música recebe a interferência da assinalação das seis horas da tarde.

No caminho de volta para o Palco Giacometti, um senhor mais velho grita no meio da rua, a alegar, entre palavrões e insultos homofóbicos, que, parafraseando, paga impostos e não tem de levar com isto. “O senhor não é daqui”, responde-lhe outro local. “Você é que não é daqui”, riposta o homem original. Nesse palco, Filipe Monteiro, que há anos que acompanha artistas como Rita Redshoes e Márcia – com quem é casado – e nos últimos tempos tem-se afirmado com a inspiração folk norte-americana sob o nome Tomara tocava com a sua banda. Atrás deles, luzes a soletrar a designação que escolheu para fazer música a solo. Sempre com um sorriso na cara, chama ao festival o melhor do país, isto porque alguém no público fica contente por este anunciar que vai tocar o tema Coffee and Toast. Ainda tem tempo para explicar que o festival foi o primeiro concerto a que ele e a mulher, que depois virá a cantar no palco com ele, trouxeram, há seis anos, a filha que então tinha seis meses. Também volta para um encore. “Um problema: só há um disco e as canções já foram todas”

A satisfação dos músicos é algo recorrente no segundo dia de Bons Sons, bem como as canções repetidas. Foi esse o caso na segunda actuação no Palco Amália, com a igreja a dar horas outra vez e tudo, e João Afonso a tocar. “É um grande prazer estar aqui neste festival, o único festival que só toca música portuguesa”, comenta. Introduz Carteiro Em Bicicleta, uma canção que repete no encore final, a par de Morrer em Zanzibar, com “não sei se conhecem esta”. Sentado ao lado do palco, Tiago Pereira, filho de Júlio Pereira, que fez os arranjos de Missangas, o disco de estreia de João Afonso do qual essa canção e outro ponto alto do concerto, Na Machamba, fazem parte, sabe as letras de cor. Sempre presente está o espírito do tio José Afonso, que dá nome a outro palco do festival, o Palco Zeca Afonso, onde actuarão ainda na sexta-feira nomes como 10000 Russos, com o seu pós-punk/kraut/psych rock, e Mirror People, com o seu disco-sound, já de madrugada. Zeca nota-se ainda mais quando o sobrinho toca canções como Era um Redondo Vocábulo – “um tema muito especial de José Afonso”. Não é a única: também há espaço para Carta a Miguel Djéje e No Comboio Descendente – que gera um comboio no público –, por exemplo. Apresenta Sangue Bom como “um tema contra todo o tipo de discriminações”.

O primeiro concerto no Palco Lopes-Graça cabe a (Shahryar) Mazgani, que se apresenta com ele próprio e toda a sua banda vestida de fato escuro – “pomos a nossa melhor roupa”, explica lá mais para o fim. Desfilam por canções como Strong holy, Wasteland, Absent lover, com um jogo de ancas à moda de Nick Cave. “Vamos tentar todos levar um bocadinho disto para casa”, comenta, em mais uma nota de gratidão pelo público, algo em que insistirá, sobre quem dirá também “são muito bonitos”. Despede-se a pedir: “Amem-se muito, beijinhos.”

O palco do Largo do Rossio serve ainda como cenário para a actuação de Sara Tavares. “Vamos aquecer o lugar”, promete a cantora e compositora portuguesa de origem cabo-verdiana, que interpreta temas como Brincar de casamento e Balancê. Pede para o público cantar com ela, mas este não canta com a intensidade que ela deseja. “Muito fraco, precisam da ajuda da banda?”

Coisas Bunitas, de Fitxadu, álbum do ano passado, é pretexto para um pedido de casamento em palco, de um casal que se conheceu neste mesmo festival em 2012. “Alguém aí quer dizer uma coisa bonita e verdadeira?”, pergunta Sara Tavares, e o homem sobe ao palco, declara-se, a sua agora noiva também. “Casas comigo, Cátia?” "Felicidades ao casal e a mais uns que estão aí, desse lado. Eles têm de nos convidar a todos para ir ao casamento deles”, abençoa a intérprete antes de passar para Bom Feeling.

A edição deste ano do Bons Sons, que prossegue este sábado com Sean Riley & The Slowriders, PAUS ou Conan Osiris, acaba este domingo, com nomes como Monday, Susana Domingos Gaspar, Rodrigo Amado Motion Trio, Dead Combo, Lena d’Água e Primeira Dama ou Linda Martini.