Novos horários da CP não evitam supressões, atrasos e avarias
Nos três dias seguintes à entrada em vigor dos novos horários houve, pelo menos, nove supressões de comboios no Algarve, seis no Alentejo, cinco no Oeste, sete em Cascais e dois no Vouga.
A entrada em vigor dos novos horários da CP, destinados a ajustar a oferta à escassez de material circulante para melhorar o serviço prestado, não se traduziu numa descida do número de episódios que afectam a rede, mantendo-se as supressões de comboios (muitas vezes sem transbordo rodoviário), as avarias e os atrasos.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
A entrada em vigor dos novos horários da CP, destinados a ajustar a oferta à escassez de material circulante para melhorar o serviço prestado, não se traduziu numa descida do número de episódios que afectam a rede, mantendo-se as supressões de comboios (muitas vezes sem transbordo rodoviário), as avarias e os atrasos.
Na linha do Algarve, logo no primeiro dia da nova oferta (domingo passado), foram suprimidos três comboios devido a avaria das automotoras. Seguiram-se duas supressões na segunda-feira, três na terça-feira e uma ontem. Em dois destes casos, a CP não disponibilizou autocarro, pelos que os passageiros ficaram nas estações sem qualquer informação sobre alternativas de viagem.
Como o caminho-de-ferro é sistémico, o atraso de um comboio repercute-se noutros. No caso do Algarve, comboios suprimidos ou atrasados implicaram tempos de espera nas ligações a outras composições em Faro e Tunes.
Durante estes três primeiros dias do novo plano de horários da transportadora pública, as supressões afectaram 30 comboios que acumularam atrasos de 593 minutos (cerca de 10 horas).
Os novos horários também começaram mal no Alentejo. Entre Cuba e Vila Nova da Baronia foram suprimidos seis comboios no dia 6 de Agosto, dos quais dois não tiveram alternativa rodoviária. Isto porque a automotora que circula naquela linha já circulava avariada há alguns dias sem que a CP tivesse possibilidades de a substituir.
Passageiros que contactaram o PÚBLICO relataram que esperaram na estação de Alvito por um comboio que não chegou e que vieram a saber mais tarde que o autocarro fretado pela CP parara no centro da vila, a dois quilómetros da estação sem que estes soubessem desse transporte alternativo.
Ainda no Alentejo, os Intercidades para Évora, que habitualmente deveriam ser feitos com composições de máquina e carruagens, foram substituídos por simples automotoras UTE (Unidades Triplas Eléctricas) vocacionadas para o serviço regional. No dia 6 de Agosto foi só um, mas até ao próximo dia 13 todos os comboios daquela ligação serão realizados por automotoras. Trata-se de uma opção da CP destinada a reforçar os Intercidades do Algarve com mais carruagens, retirando-as, por isso, de Évora.
Na linha do Oeste, onde as supressões já tiveram início em Janeiro de 2017, a CP reduziu agora de seis para três as ligações em cada sentido entre Caldas da Rainha e Leiria e de oito para seis entre Caldas e Lisboa. Já em Março eliminara do horário dois comboios diários para ajustar o pouco material circulante à sua oferta regular.
Ainda assim, entre domingo e esta quarta-feira foram suprimidos cinco comboios, sem que a empresa se dignasse a substitui-los por transporte alternativo em autocarro.
Problemas invulgares
No Algarve, Alentejo e Oeste o serviço é feito com UDD (Unidades Duplas Diesel) que datam de 1965, tendo sofrido uma modernização em 1999. Há muito que ultrapassaram o seu período de vida útil, pelo que as avarias são frequentes. Na terça-feira houve uma UDD avariada que realizou quatro comboios no Algarve e uma sua “irmã”, também avariada, que realizou outros quatro comboios no Alentejo.
Igualmente conhecidas pela sua antiguidade são os velhinhos comboios da linha de Cascais. Há algumas composições cuja caixa data de 1926, mas a maioria são dos anos 60 do século passado. Também foram modernizados, mas os motores mais recentes datam de 1979.
No domingo, a CP reduziu a oferta também naquela linha para poupar material, mas desde então foram suprimidas cinco circulações na segunda-feira e duas na terça-feira.
No longo curso, os alfas pendulares têm-se aguentado sem supressões, mas na terça-feira um avariou em Vizela, pouco antes de chegar a Guimarães, onde ficou parado duas horas e três minutos até ser reparado. E no dia anterior um Alfa Pendular para o Algarve teve também uma avaria que o obrigou a reduzir a velocidade, chegando a Faro com uma hora de atraso.
Nos Intercidades, nos primeiros dias da nova oferta da CP, registaram-se avarias no ar condicionado de um comboio entre Porto e Lisboa, tendo os passageiros sido transferidos para outras carruagens da mesma composição e sido bloqueada a venda de bilhetes para os lugares do veículo que ficou sem climatização.
Na linha do Vouga, o motivo pelo qual foram suprimidos na terça-feira dois comboios entre Espinho e Oliveira de Azeméis não poderia ser mais prosaico. Não foi uma avaria. A automotora não tinha fita registadora e, pelo regulamento, não pode circular sem ela.
Igualmente invulgar foi o motivo que levou o comboio do Entroncamento para Badajoz a perder 2 horas e 21 minutos. A automotora embateu numa vaca e ficaram, ambas, em muito mau estado. Por sorte, naquela zona, algures entre Torre das Vargens e Chança, havia rede de telemóvel e foi possível ao revisor pedir socorro (uma outra automotora foi rebocar a que ficou acidentada) porque na linha do Leste há secções onde não é possível comunicar desde o comboio com o centro de controlo operacional.
Na passada terça-feira, a CP registou atrasos em 290 comboios num total de 52 horas e meia, dos quais 59% tiveram origem em problemas com o material circulante e 15% em problemas na infra-estrutura (a cargo da Infraestruturas de Portugal).
O secretário de Estado das Infraestruturas, Guilherme W. d’Oliveira Martins disse na última segunda-feira que “há uma ideia errada de que não há comboios suficientes e que os passageiros estão a perder qualidade de serviço”.