Caso do mestrado de Pablo Casado sobe ao Supremo

Novo líder do Partido Popular recusa demitir-se perante as suspeitas de que obteve um diploma de forma fraudulenta, que podem agora colocá-lo no banco dos réus. Primeiro-ministro espanhol defende que Casado deve "explicações aos cidadãos".

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Casado, recém-eleito líder do PP, recusa demitir-se Reuters/Javier Barbancho

O processo do mestrado de Pablo Casado, o recém-eleito líder do Partido Popular espanhol (PP, na oposição), vai subir ao Supremo Tribunal, a única instância que pode julgar deputados, perante a existência de "indícios de responsabilidade penal", decidiu esta segunda-feira a juíza de instrução Carmen Rodríguez-Medel. 

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O processo do mestrado de Pablo Casado, o recém-eleito líder do Partido Popular espanhol (PP, na oposição), vai subir ao Supremo Tribunal, a única instância que pode julgar deputados, perante a existência de "indícios de responsabilidade penal", decidiu esta segunda-feira a juíza de instrução Carmen Rodríguez-Medel. 

A magistrada afirma haver indícios de que o título de mestre em Direito Autonómico concedido pela Universidade Rei Juan Carlos ao agora líder dos populares foi uma "prenda" do director do curso, Enrique Álvarez Conde, que teria como hábito presentear alunos em cargos políticos relevantes ou que “mantinham vínculos estreitos de amizade ou de carácter profissional com o catedrático", ainda que não tivessem mérito académico.

Os "presentes" de Conde Álvarez Conde estiveram na origem da queda de Cristina Cifuentes, presidente da Comunidade de Madrid, à qual Casado estava ligado. 

Rodríguez-Medel defende que Casado deve agora ser julgado pelos crimes de suborno (por ter recebido a suposta "prenda" enquanto deputado) e o de fraude administrativa (pela obtenção ilícita de um título académico).

Ajuíza acredita que o actual líder do PP teve uma participação “activa” no processo, havendo por isso um considerável grau de culpabilidade. As condições para a obtenção do diploma de mestre terão sido acordadas pessoalmente entre Álvarez Conde e Casado.

O então líder do Nuevas Generaciones, a juventude partidária do PP, terá feito 18 das 22 cadeiras do curso através do reconhecimento de equivalências. As restantes terão sido feitas com a entrega de trabalhos que a própria universidade chegou a dizer posteriormente que não conseguia localizar, e que Casado nunca mostrou publicamente (apesar de ter exibido alguns dossiês durante uma conferência de imprensa em Abril, mas sem nunca permitir a sua leitura).

Tudo somado, e se os trabalhos foram efectivamente entregues, Casado terá concluído o mestrado escrevendo pouco mais de 90 páginas (contando com capas, índices e bibliografias) avaliadas pelo próprio Álvarez Conde e por outra professora. Passou com distinção a todas as cadeiras e foi dispensado de escrever e apresentar uma tese de mestrado.

Não terá sido caso único. Casado faria parte de um "grupo de alunos privilegiados" que estava dispensado de ir às aulas, por oposição a outros alunos que concluíram o curso de forma lícita. Do grupo fazia também parte a antiga presidente da Comunidade Autónoma de Madrid, a popular Cristina Cifuentes, que acabou por se demitir do cargo em Março perante as suspeitas em torno do seu diploma (é deste processo que nasce a investigação a Casado) e também pela divulgação de um vídeo datado de 2011 em que é vista a cometer um furto num supermercado.

Líder do PP recusa demitir-se

Apesar da decisão da juíza de instrução de remeter o processo para o Supremo, Casado recusou esta segunda-feira demitir-se da liderança dos populares, declarando que o caso é “irrelevante em termos políticos”.

O sucessor de Mariano Rajoy argumenta que nunca apresentou o título agora posto em causa, e que os trabalhos apresentados na Universidade Rey Juan Carlos eram na verdade parte de um curso de doutoramento que não chegou a concluir.

"Não é um mestrado. Não tenho esse título. Tenho esse trabalho, mas não é um mestrado”, disse, negando assim ter recebido qualquer diploma como presente: “Não é uma prenda aquilo que não se tem”. E disse-se vítima de uma cabala: “O que se está a fazer comigo nunca se fez com ninguém neste país”.

O primeiro-ministro espanhol, o socialista Pedro Sánchez, recusou comentar directamente um processo judicial em curso, mas declarou esta segunda-feira que Casado "tem de fazer uma avaliação e dar explicações aos espanhóis".