Defina “colapso”, senhor secretário de Estado
Dizer que o que se passa com a CP é culpa da meteorologia é um insulto para os milhares de portugueses que sentem na pele o definhamento da empresa
O secretário de Estado das Infra-estruturas, Guilherme W. d’Oliveira Martins, decidiu invocar a sua altíssima sapiência e rebaixar para abaixo do zero a inteligência dos portugueses para dizer que aquilo que aconteceu este fim-de-semana na CP não foi “uma situação de colapso”. Ai não? Uma empresa de transportes que suspende vários comboios, que deixa de vender bilhetes, que acumula avarias, atrasos ou transbordos em série, na qual muitos utentes pedem o reembolso do valor dos bilhetes adquiridos e optam pelo autocarro, que força milhares de pessoas a viajar em carruagens com temperaturas acima dos 30 graus, em que situação está? A pior forma de encarar os problemas é negar a sua existência ou desvalorizá-los como episódios do combate político. Guilherme W. d’Oliveira Martins fez uma e outra coisa.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
O secretário de Estado das Infra-estruturas, Guilherme W. d’Oliveira Martins, decidiu invocar a sua altíssima sapiência e rebaixar para abaixo do zero a inteligência dos portugueses para dizer que aquilo que aconteceu este fim-de-semana na CP não foi “uma situação de colapso”. Ai não? Uma empresa de transportes que suspende vários comboios, que deixa de vender bilhetes, que acumula avarias, atrasos ou transbordos em série, na qual muitos utentes pedem o reembolso do valor dos bilhetes adquiridos e optam pelo autocarro, que força milhares de pessoas a viajar em carruagens com temperaturas acima dos 30 graus, em que situação está? A pior forma de encarar os problemas é negar a sua existência ou desvalorizá-los como episódios do combate político. Guilherme W. d’Oliveira Martins fez uma e outra coisa.
O secretário de Estado deve acreditar que lhe basta dizer que tudo se resume à tentativa do PSD e do CDS de criar “um caso que não existe de todo” para que o conforto dos alfa se restabeleça ou que a CP deixe de suprimir horários. Não basta. A CP é uma empresa demasiado importante para se transformar numa partida de boxe entre o Governo e a oposição. Até porque se esse combate existisse, as duas partes deveriam ser derrotadas por KO. O PSD e o CDS, porque foram os autores dos cortes de pessoal na empresa de manutenção (EMEF) dos comboios que comprometeram a sua capacidade de manter a frota operacional; o PS, porque entre os cheques que distribuiu nesse alegado “virar de página” da austeridade foi incapaz de encontrar 330 milhões de euros para que a CP se reequipasse, como reclamou com urgência a anterior administração.
António Costa disse no início de Julho que ao investir 134 milhões nas obras do IP3 estava a “decidir não fazer evoluções nas carreiras ou dos vencimentos” da função pública. É uma opção legítima. Como foi legítima a opção dos últimos três anos, que se concentrou na reposição dos rendimentos, nos cortes de impostos ou na cativação do investimento público. Em política, porém, as opções têm consequências. E ao optar por não comprar material novo e ao proibir o recurso ao aluguer de material em Espanha, o Governo levou a CP à situação de colapso. Dizer que não há colapso nenhum é ineficaz. E insultuoso para os milhares de pessoas que este fim-de-semana se cruzaram com a CP.