O PSD e o irresistível perfume do poder
Rio está a ser o líder com as fragilidades que se esperavam, mas não são os seus limites que movem Santana e Duarte: é a crença de que o PS de Costa deixou de ser imbatível.
Que o PSD é um partido de mistérios insondáveis com personagens no limiar da ficção já sabíamos. Mas o efeito combinado da saída de um dos seus líderes históricos, à sexta, e a entrevista de um jovem turco ao Expresso anunciando, ao sábado, a sua disposição para depor Rui Rio leva o partido para caminhos tão incertos como perigosos. Santana Lopes quer sair depois de ter sido derrotado por Rui Rio, por acreditar que o seu ego faz falta à política portuguesa e por pensar que o PPD se deve sobrepor a um PSD mais ao centro; Pedro Duarte quer entrar porque detesta Rui Rio, porque avaliou mal a conjuntura e porque se arrependeu de não ter tentado a sua sorte no último Congresso. Mas de comum a ambos há algo bem mais prosaico: a certeza de que o perfume do poder está mais perto.
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Que o PSD é um partido de mistérios insondáveis com personagens no limiar da ficção já sabíamos. Mas o efeito combinado da saída de um dos seus líderes históricos, à sexta, e a entrevista de um jovem turco ao Expresso anunciando, ao sábado, a sua disposição para depor Rui Rio leva o partido para caminhos tão incertos como perigosos. Santana Lopes quer sair depois de ter sido derrotado por Rui Rio, por acreditar que o seu ego faz falta à política portuguesa e por pensar que o PPD se deve sobrepor a um PSD mais ao centro; Pedro Duarte quer entrar porque detesta Rui Rio, porque avaliou mal a conjuntura e porque se arrependeu de não ter tentado a sua sorte no último Congresso. Mas de comum a ambos há algo bem mais prosaico: a certeza de que o perfume do poder está mais perto.
Santana Lopes ficará feliz se fragmentar o sistema partidário (o que horroriza Marcelo) e se escrever uma página na História como o Macron português (ou um Albert Rivera). Um lugar no Parlamento Europeu e um táxi cheio de deputados nas próximas legislativas fá-lo-ão feliz. Já Pedro Duarte faz outras leituras. Ele percebeu que António Costa e o PS estão a enfrentar os mais sérios desafios da legislatura. A distribuição de rendimentos à função pública não cabe mais num orçamento projectado para o défice zero, o que dificulta a relação com o Bloco e o PCP. E a situação difícil na Saúde, o tempo de serviço dos professores ou o estado calamitoso de empresas como a CP mostram a todos que o génio político de António Costa não é ilimitado.
Enlevados por estas leituras, suspeitam de um mais esperançoso ciclo político para a oposição. A denúncia de Rio é, no caso, instrumental. Ou não saberiam que Rio é incapaz de produzir uma ideia e ainda menos um projecto para o país? Não saberiam que Rio faz da espera, da dissimulação, do jargão contra a política barata o seu modo de vida? Sabiam. Como sabem hoje que os entendimentos à esquerda são cada vez mais duros ou que o PSD resistiu nas sondagens. Não é o facto de Rui Rio estar hoje mais fraco que os move; é, pelo contrário, a suspeita de que até as suas fraquezas bastam para o PSD se aproximar do PS. Com o perfume do poder mais nítido, o PSD volta a ser o partido que sempre foi. O dissídio é para continuar.