Ex-general que sugeriu golpe militar é o candidato a vice de Bolsonaro
O candidato de extrema-direita que lidera as sondagens para as eleições de Outubro escolheu o general na reserva Hamilton Mourão para o acompanhar na “chapa”.
O candidato às eleições presidenciais brasileiras, o ultraconservador Jair Bolsonaro, escolheu o general na reserva Hamilton Mourão para o acompanhar como candidato a vice-presidente. Tal como Bolsonaro, Mourão defende posições muito controversas e chegou a apoiar publicamente a deposição do Governo através de um golpe militar.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
O candidato às eleições presidenciais brasileiras, o ultraconservador Jair Bolsonaro, escolheu o general na reserva Hamilton Mourão para o acompanhar como candidato a vice-presidente. Tal como Bolsonaro, Mourão defende posições muito controversas e chegou a apoiar publicamente a deposição do Governo através de um golpe militar.
O anúncio da decisão foi feito por Bolsonaro no domingo, durante a convenção do Partido Social Liberal (PSL) em São Paulo. “No momento, eu deixo de ser capitão, o general Mourão deixa de ser general. Nós somos agora soldados do nosso Brasil”, declarou o candidato presidencial de extrema-direita.
Mourão foi a escolha de Bolsonaro depois de várias tentativas falhadas em garantir um nome para acompanhar o ex-capitão do Exército na “chapa” (termo que designa a dupla de candidatos às eleições presidenciais) para as eleições de Outubro. O general na reserva António Heleno e a advogada Janaína Paschoal, que apresentou a queixa que deu origem ao processo de impeachment de Dilma Rousseff, tinham já sido sondados pela candidatura de Bolsonaro, mas recusaram ser candidatos.
Há algumas semanas, o próprio Hamilton Mourão tinha recusado acompanhar Bolsonaro, mas, de acordo com a imprensa brasileira, terá sido a insistência da chefia do Partido Renovador Trabalhista Brasileiro (PRTB) a levar o general reformado a aceitar o convite.
A entrada de Mourão na “chapa” de Bolsonaro reforça a natureza radical da candidatura que, de acordo com as sondagens, lidera as intenções de voto nos cenários em que não figura o ex-Presidente Lula da Silva – cuja candidatura está em causa por causa da condenação no âmbito da operação Lava-Jato.
Mourão tornou-se uma figura de impacto nacional quando começou a defender publicamente a necessidade de uma intervenção armada para derrubar o Governo por causa do envolvimento de vários dirigentes em casos de corrupção - algo que outras altas chefias militares também sugeriram, de forma mais ou menos declarada.
Numa palestra em 2015, enquanto desempenhava a chefia do Comando Militar do Sul, disse ser necessário “um despertar para a luta patriótica”, numa altura em que a Administração de Dilma Rousseff se via acossada pela ameaça de destituição.
As declarações do general valeram-lhe o afastamento da posição e a colocação num cargo administrativo em Brasília. No ano passado, Mourão voltou a sugerir a possibilidade de um golpe militar poder ser a solução para os problemas políticos do Brasil. “É óbvio que quando olhamos com temor e com tristeza os factos que nos cercam, a gente diz: porque não vamos derrubar esse troço todo?”, afirmou na altura.
O Governo de Michel Temer pediu a exoneração de Mourão do cargo de secretário de Economia e Finanças do Exército, mas o processo alongou-se e o general conseguiu manter-se em funções até à reforma em Março.
As manifestações de apoio a golpes de Estado têm um forte impacto no Brasil, que em 1964 viu o Governo democraticamente eleito de João Goulart ser derrubado pelos militares, que instauraram uma ditadura que iria governar o país durante as duas décadas seguintes.
Mourão também é conhecido pelos elogios ao coronel Carlos Brilhante Ustra, responsável por um dos principais centros de repressão durante a ditadura, onde os presos políticos eram objecto de tortura. Na cerimónia que assinalou a sua passagem à reserva, o militar descreveu Ustra como um “herói”, tal como Bolsonaro, quando lhe dedicou o seu voto a favor da destituição de Dilma no Congresso dos Deputados, em Abril de 2016.