EUA aplicam sanções ao Irão, Europa critica e reafirma compromisso
Depois da saída do acordo sobre o programa nuclear iraniano, em Maio, a Casa Branca reactiva as sanções económicas contra Teerão.
Os Estados Unidos vão voltar a impor sanções económicas contra o Irão esta terça-feira, três meses depois de o Presidente Donald Trump ter anunciado a saída do acordo internacional sobre o programa nuclear iraniano. A compra de petróleo ainda não será afectada nesta primeira fase, mas a confirmação de que as sanções vão regressar pode criar ainda mais instabilidade no país, ao fim de uma semana de protestos em algumas cidades.
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Os Estados Unidos vão voltar a impor sanções económicas contra o Irão esta terça-feira, três meses depois de o Presidente Donald Trump ter anunciado a saída do acordo internacional sobre o programa nuclear iraniano. A compra de petróleo ainda não será afectada nesta primeira fase, mas a confirmação de que as sanções vão regressar pode criar ainda mais instabilidade no país, ao fim de uma semana de protestos em algumas cidades.
O regresso das sanções norte-americanas contra o Irão estava anunciado desde o dia 8 Maio, quando o Presidente Trump pôs no papel aquilo que foi dando a entender desde o início da sua campanha eleitoral para a Casa Branca. No seu entender, o acordo sobre o programa nuclear iraniano – assinado pelo seu antecessor, Barack Obama, e pelos líderes da China, França, Rússia, Reino Unido, Alemanha e União Europeia – só beneficiava o Irão e tinha de ser renegociado.
No entender de todos os outros signatários, o acordo é bom para ambas as partes: o programa nuclear iraniano foi travado e submetido a inspecções independentes e o levantamento das sanções internacionais iria reanimar a economia iraniana.
Sem apoio para incluir novas exigências no acordo assinado em 2015 – como o fim do programa iraniano de mísseis de longo alcance e o corte das ligações ao regime sírio de Bashar al-Assad –, o Presidente Trump anunciou em Maio a saída dos EUA, o que implicava o regresso das sanções contra o Irão.
No domingo, durante uma viagem de regresso aos EUA após uma visita a países asiáticos, o secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, anunciou que essa consequência da saída do acordo estava para breve: "É uma parte importante da nossa estratégia contra a actividade maligna do Irão. Os Estados Unidos vão aplicar as sanções."
Na mesma viagem, um responsável da Secretaria do Tesouro, citado pelos media norte-americanos sob anonimato, deu mais pormenores: as sanções contra o Irão entram em vigor às 00h01 de terça-feira (hora em Washington, 5h da madrugada de terça-feira em Portugal continental e 8h31 em Teerão).
Numa primeira fase as sanções vão abranger sectores como o mercado dos automóveis, ouro, aço e outros metais importantes para a economia iraniana. Dentro de três meses, na primeira semana de Novembro, deverão entrar em vigor as sanções contra o petróleo iraniano.
Europa reafirma compromisso
Numa primeira reacção ao anúncio dos EUA, a União Europeia fez saber que vai continuar a negociar com o Irão. E deu a entender que irá enfrentar as ameaças norte-americanas contra as empresas europeias que queiram manter os seus contratos com o Governo iraniano: "As partes que se mantêm no acordo comprometeram-se a trabalhar para a preservação e manutenção de canais financeiros com o Irão, e para a continuação das exportações iranianas de petróleo e gás", lê-se num comunicado.
Num texto em que lamentam o regresso das sanções norte-americanas e em que salientam que o acordo sobre o programa nuclear iraniano "está a funcionar e a cumprir o seu objectivo", a alta representante da União Europeia para os Assuntos Externos, Federica Mogherini, e os ministros dos Negócios Estrangeiros de França, Alemanha e Reino Unido deixam um recado para a Administração Trump: "A preservação do acordo nuclear com o Irão é uma questão de respeito pelos acordos internacionais e de segurança internacional."
A notícia da entrada em vigor das sanções norte-americanas chega ao Irão ao fim de uma semana de protestos esporádicos contra a situação económica no país, que ainda não têm dimensão nacional mas que têm terminado com críticas ao regime.
Aproveitando estas manifestações, o secretário de Estado norte-americano comentou a situação interna do Irão e ficou perto de incentivar uma mudança de regime: "O povo iraniano não está contente – não com os americanos, mas com a sua própria liderança. Estão descontentes com o falhanço da sua própria liderança em cumprir as promessas económicas."
Mas não é certo que o regresso das sanções norte-americanas atire o Irão para o isolamento em que se encontrava antes do acordo de 2015, nem que o maior aperto económico faça crescer a dimensão das manifestações.
Por um lado, a União Europeia, a China e a Rússia já deram sinais de que vão manter negócios com o Irão; por outro lado, os protestos no Irão "ainda não são nada que se pareça a um movimento generalizado", disse ao Washington Post Jason Rezaian, um antigo correspondente do jornal norte-americano em Teerão que foi detido pelo regime iraniano em 2014 e libertado em 2016.
Num cenário de maiores dificuldades económicas por causa das sanções norte-americanas, "a luta pela sobrevivência diária vai fazer com que a organização de movimentos políticos seja ainda mais complicada do que já é actualmente", salientou Rezaian.