O que dizem os conselheiros a Rio? Que mantenha a rota
Luís Montenegro, uma das vozes mais críticas da actual liderança, desafiou o líder a mudar de estratégia. Rio já disse que não é preciso e à sua volta não falta quem pense o mesmo.
Com três eleições no horizonte, será que Rio vai aproveitar as férias para um balanço crítico da sua liderança e fazer eventuais ajustamentos? Ou vai seguir o trilho que delineou, indiferente às críticas? O mais provável é a segunda hipótese. O PÚBLICO falou com algumas figuras do partido para saber como avaliam estes cinco meses de liderança de Rui Rio e que sugestões lhe dariam para o novo ciclo que se aproxima. Álvaro Almeida, Arlindo Cunha e António Tavares são três vozes que Rio escuta habitualmente e aquilo que dizem aqui também não desagradará ao líder, por não ter implícito qualquer apontar de erro. Quando muito, pedem-lhe para acrescentar novos temas à agenda do PSD.
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Com três eleições no horizonte, será que Rio vai aproveitar as férias para um balanço crítico da sua liderança e fazer eventuais ajustamentos? Ou vai seguir o trilho que delineou, indiferente às críticas? O mais provável é a segunda hipótese. O PÚBLICO falou com algumas figuras do partido para saber como avaliam estes cinco meses de liderança de Rui Rio e que sugestões lhe dariam para o novo ciclo que se aproxima. Álvaro Almeida, Arlindo Cunha e António Tavares são três vozes que Rio escuta habitualmente e aquilo que dizem aqui também não desagradará ao líder, por não ter implícito qualquer apontar de erro. Quando muito, pedem-lhe para acrescentar novos temas à agenda do PSD.
À frente do PSD desde meados de Fevereiro, Rui Rio faz agora uma pausa para ir a banhos. Mas ao contrário da maioria das principais figuras da vida política, que continuam a privilegiar o sul do país, o líder social-democrata volta a escolher o Cabedelo, em Viana do Castelo, para descansar na companhia da família e se preparar para os difíceis combates eleitorais de 2019. Há muitos anos que Rui Rio tem no Cabedelo a sua praia predilecta e os seus hábitos não se alteraram pelo facto de ter sido eleito presidente dos sociais-democratas.
Rio vai estar com um pé no Cabedelo e outro em Ponte de Lima, terra natal do seu grande amigo António Carvalho Martins. A amizade entre os dois é antiga e reforçou-se a partir do momento em que o actual líder do PSD e o antigo governador civil de Viana do Castelo assumiram responsabilidades na secretaria-geral do partido, no consulado de Marcelo Rebelo de Sousa.
Eleito com uma margem pouco folgada para a presidência do PSD, Rio demorou a descolar. As primeiras semanas do mandato gastou-as a resolver várias polémicas que se sucederam envolvendo algumas das pessoas que escolheu para o seu núcleo duro, como Elina Fraga, Salvador Malheiro e Feliciano Barreiras Duarte. A relação de proximidade com o Governo de António Costa desencadeou um coro de críticas no interior do partido e Rio chegou a ser acusado de desperdiçar oportunidades de fazer oposição.
No congresso de Lisboa onde foi entronizado líder do partido, Luís Montenegro subiu ao palco para marcar as cartas. “Conhecem a minha convicção e a minha determinação; se for preciso estar cá, eu cá estarei, para o que der e vier, sem receio de nada e sem estar por conta de ninguém. Sou totalmente livre. Desta vez decidi não, se algum dia entender dizer sim, já sabem, eu não vou pedir licença a ninguém”, afirmou, levantando o congresso.
Aos poucos, Rio foi vencendo alguns obstáculos e começou a afirmar-se. Criou o Conselho Estratégico Nacional (CNE) do PSD, uma espécie de Governo-sombra, assinou dois acordos com António Costa, sobre fundos comunitários e descentralização, e foi para o terreno, dando prioridade à saúde e à justiça. Há dois meses apresentou um pacote de medidas de apoio à natalidade a que deu o nome de “uma política para a infância”. Mas as sondagens não dão o PSD a crescer.
Há dias, numa entrevista à SIC Notícias, Luís Montenegro acusou o líder do PSD de ser responsável pelo clima de derrota antecipada que tomou o partido e desafiou-o a “arrepiar caminho”, para "acabar com a ideia de que a vitória do PS nas próximas legislativas é uma inevitabilidade”. E ontem, em entrevista ao Expresso, foi a vez de Pedro Duarte se assumir como candidato numa futura disputa pela liderança interna do partido.
Rio é alvo de marcação cerrada, mantém-se na mira dos detractores e não admira, por isso, a primeira reacção de Álvaro Almeida ao pedido para partilhar os conselhos que tem para o líder: “As sugestões faço-as pessoalmente e em privado”, começa por dizer o vereador do PSD na Câmara do Porto, elogiando a liderança do ex-autarca da cidade. “Aquilo que vejo é um PSD a afirmar-se junto do eleitorado, independentemente do que dizem as sondagens”, resume. “Estamos na direcção certa”, reforça o economista, coordenador do CEN para as Finanças Públicas, com a convicção de que o partido “estará em boas condições de chegar às eleições legislativas e lutar pela vitória”.
Antes de avançar com qualquer sugestão, Arlindo Cunha, antigo ministro de Cavaco Silva e Durão Barroso, trata de dizer que Rui Rio está a fazer o que tem de ser feito e garante que quando chegar a hora de explicar as propostas que tem para o país as “pessoas vão entendê-las e vão descobrir as qualidades de quem as apresentou”. Insurgindo-se contra o populismo, que diz estar na base do “descrédito da política”, o coordenador do CEN para a Agricultura, Alimentação e Florestas deixa uma sugestão ao líder do PSD: “Não se desvie do caminho que está a fazer e continue a colocar em primeiro lugar os interesses do país à frente dos interesses do partido.” Para Arlindo Cunha, “esta máxima de Rui Rio, que foi também a máxima de Francisco Sá Carneiro, parece que causa um grande escândalo no aparelho do partido”.
António Tavares, porta-voz do CEN para a área da Solidariedade e Sociedade de Bem-Estar, aplaude os acordos que o partido fez com o Governo em matéria de descentralização e fundos comunitários – “são duas matérias importantes para o país” – e sugere a Rio que traga temas novos para a agenda política.
O também provedor da Santa Casa da Misericórdia do Porto destaca o empenho do presidente do partido em tentar condicionar a agenda política mas, observa, “isso às vezes não chega, sobretudo quando se tem pela frente um primeiro-ministro com sorte”. “António Costa tem tido vários suplementos de alma: os fogos na Grécia e o caso Ricardo Robles, que servem para desviar as atenções do Governo", exemplifica.
Reclamando “políticas públicas que vão para além dos ciclos de governação”, António Tavares agita a bandeira das alterações climáticas para dizer que o partido tem de trazer para a agenda política este tema. E deixa uma nota de esperança: “Rui Rio é um líder resiliente. Que se saiba, não há maiorias absolutas à vista.”