Há 15 anos que não havia um dia tão quente
Na quinta-feira, Mora registou a temperatura máxima mais elevada. Na sexta, foi Alcácer do Sal. Calor ainda não teve impacto nas urgências. Este fim-de-semana termómetros podem chegar aos 48º
A temperatura média do ar chegou aos 30,2ºC na quinta-feira. Pior só mesmo a 2 de Agosto de 2003, quando uma onda de calor assolou o país e os termómetros marcaram, em média, 31,9ºC. Ou seja, há 15 anos que não havia um dia globalmente tão quente.
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A temperatura média do ar chegou aos 30,2ºC na quinta-feira. Pior só mesmo a 2 de Agosto de 2003, quando uma onda de calor assolou o país e os termómetros marcaram, em média, 31,9ºC. Ou seja, há 15 anos que não havia um dia globalmente tão quente.
Se, na quinta-feira, Mora (distrito de Évora) foi o local onde o calor foi mais intenso com os termómetros desta estação meteorológica a chegaram aos 45,7ºC, na sexta foi Alcácer do Sal (Setúbal): 45,9ºC. Segundo o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), em cerca de 60% das estações os valores da temperatura estiveram acima dos 40ºC. O valor mais alto de sempre no país foi em 2003, na Amareleja, com 47,3 graus.
Foi com base nas temperaturas medidas às 19h00 desta sexta que o IPMA anunciou que foram batidos novos recordes de temperatura máxima em 16 estações meteorológicas. Ou seja, nunca se tinham registado valores tão elevados. Alcácer do Sal está no topo, seguindo-se Pegões e Setúbal, ambas com 44,6ºC. Não foi apresentada uma análise das temperaturas médias de sexta-feira — só hoje deverá ser divulgada pelo instituto.
Num primeiro comunicado emitido nesta sexta-feira, o IPMA detalhou que no dia 2, quinta-feira, se registaram temperaturas superiores a 40ºC em metade das estações. Quanto às mínimas mais elevadas, foi em Faro, Portalegre, Proença-a-Nova e Zebreira (Idanha-a-Nova) que se registaram valores superiores a 25ºC.
As idas às urgências ainda não reflectem, contudo, o calor extremo, que só deve abrandar na próxima semana. O PÚBLICO contactou vários hospitais e administrações regionais de saúde, que dizem que ainda não é possível notar alterações provocadas por este fenómeno. José Robalo, presidente da Administração Regional de Saúde (ARS) do Alentejo, por exemplo, explica que “houve uma subida brusca da temperatura e que o impacto [na afluência às urgências] não é imediato”. Para perceber qual o efeito, “temos de esperar dois a três dias”. O mesmo refere fonte do Centro Hospitalar do Porto: “Em situações de calor, é preciso alguns dias” até que se sinta o efeito nas idas ao hospital.
Sem alterações a reportar até sexta-feira estava também a ARS do Norte. A afluência aos serviços de urgência era idêntica à registada noutros períodos semelhantes. E mais: “Não se evidenciam aumentos de tempos de espera.” O que, no entender deste organismo, “denota a organização definida para estes picos”, uma vez que “as equipas estão a responder dentro dos tempos adequados”.
O Centro Hospitalar de Lisboa Central (CHLC) e o Centro Hospitalar do Médio Tejo referem, por seu lado, valores “normais para a época”. O CHLC detalha que contabilizaram, entre terça e quinta, 658, 641 e 564 episódios de urgência respectivamente, “números semelhantes aos do período homólogo”. E no hospital de Santarém não se registou igualmente “movimento anómalo ao nível de episódios de urgência”, garante o director clínico, Paulo Sintra.
Do hospital de Évora, a administradora Filomena Mendes garantiu que o “afluxo às urgências está perfeitamente normal para época”. Não há casos de desidratação ou insolação. “Os alentejanos estão habituados ao calor e sabem preservar-se quando há altas temperaturas.” Ainda assim, lembra: “Estamos em alerta total no hospital.”
Na Guarda registou-se um aumento, mas o culpado não será o calor. Por esta altura a região recebe muitos emigrantes e “existe sempre um acréscimo de doentes no serviço de urgência” explica o hospital.
Já a secção Centro da Ordem dos Médicos deixou um alerta: as infra-estruturas dos centros de saúde e hospitais da região não estão preparados para o calor.
Risco para a saúde
As chamadas para a linha da Saúde 24 também não reflectem os efeitos das altas temperaturas. Os dados disponíveis no portal do SNS, analisados pelo PÚBLICO, mostram que na quinta-feira foram feitas apenas cinco chamadas com queixas relacionadas com o calor e outras cinco relativas a exposição solar. Como resultado, foram feitos dois encaminhamentos para os serviços de urgência e um para o centro de saúde.
Ainda assim, as temperaturas elevadas comportam sérios riscos para a saúde e os próximos dias exigem cautela. O Ícaro, índice que avalia o risco de o calor extremo na saúde da população causar a morte, aponta para valores que são quase o triplo do máximo registado no ano passado. Amanhã, a previsão é que chegue a um valor de 11,145. São “esperados efeitos sobre a mortalidade quando este ultrapassa o valor 1”, detalha o portal do SNS. O cálculo desta métrica é feito através da comparação dos “óbitos previstos pelo modelo estatístico subjacente ao sistema de vigilância Ícaro, com os óbitos esperados sem o efeito das temperaturas extremas”.
E vem mais calor
À semelhança do que tinha acontecido na quarta-feira, o IPMA frisa que “continua a verificar-se a subida da temperatura do ar”. Na quinta-feira, a média das temperaturas máximas registadas no país foi 5°C superior à do dia anterior. Atingiu os 40,1°C. Já a média das temperaturas mínimas do país foi de 20,2ºC. O normal são 15,5°C.
A perspectiva para este fim-de-semana não é de melhoria. As temperaturas máximas podem chegar aos 48ºC. O “aviso meteorológico” do IPMA, que alerta para situações de risco, está no seu nível mais elevado: vermelho. E mantém-se assim pelo menos até amanhã em onze distritos do continente — Beja, Braga, Bragança, Castelo Branco, Évora, Guarda, Lisboa, Portalegre, Santarém, Setúbal e Vila Real. Todos os outros estão em alerta laranja. com A.M.