Aveiro tem passadiços a rasgar a ria e ninguém lhes fica indiferente
Com um percurso plantado ao longo da ria, a via pedonal e ciclável goza de uma paisagem invejável. São cerca de sete quilómetros de extensão, em contacto directo com a fauna e flora da laguna, e que oferecem vistas privilegiadas para um pôr do Sol digno de um postal.
Se dúvidas houvesse, elas ficaram desfeitas. A moda dos passadiços parece estar longe de terminar, para regozijo de quem gosta de explorar a natureza ao longo de percursos maioritariamente plantados em estruturas de madeira. E Aveiro não quis passar ao lado dessa tendência que já vai tendo uma legião de fãs considerável. Aproveitando aquilo que tem de mais especial - o seu sistema lagunar -, o município acaba de “rasgar” uma via pedonal e ciclável de frente para a ria e ligando o centro da cidade (mais concretamente o canal de São Roque) a localidades mais rurais. Aqui, o desafio passa por percorrer um trilho de cerca de sete quilómetros de extensão – ou o dobro, se tiver que fazer ida e volta – ao lado (ou até mesmo por cima) da água, no coração de um habitat repleto de diversidade.
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Se dúvidas houvesse, elas ficaram desfeitas. A moda dos passadiços parece estar longe de terminar, para regozijo de quem gosta de explorar a natureza ao longo de percursos maioritariamente plantados em estruturas de madeira. E Aveiro não quis passar ao lado dessa tendência que já vai tendo uma legião de fãs considerável. Aproveitando aquilo que tem de mais especial - o seu sistema lagunar -, o município acaba de “rasgar” uma via pedonal e ciclável de frente para a ria e ligando o centro da cidade (mais concretamente o canal de São Roque) a localidades mais rurais. Aqui, o desafio passa por percorrer um trilho de cerca de sete quilómetros de extensão – ou o dobro, se tiver que fazer ida e volta – ao lado (ou até mesmo por cima) da água, no coração de um habitat repleto de diversidade.
A caminhar, a correr ou a pedalar, siga as coordenadas e aproveite para usufruir da natureza. Sem receio de percorrer a totalidade do percurso, uma vez que irá encontrar vários pontos de descanso, com uns bancos de madeira muito especiais: em cada um deles, são desvendadas curiosidades regionais, mais concretamente dizeres populares, costumes locais e elementos típicos da ria. Descobrirá, por exemplo, o que significa “andar à rola”, “andar à vara” ou “andar à sirga” numa embarcação e ficará a saber o que são “envergues” ou “moscas” - basta-lhe prestar atenção às palavras que aparecem escritas em cada ponto de paragem.
Pronto para explorar a grande novidade deste Verão – o percurso foi inaugurado no início de Julho - em matéria de passadiços? Se preferir centrar a aventura na parte dos passadiços propriamente dita – com o mínimo de trilho em terra -, o melhor é iniciar o passeio no Cais da Ribeira de Esgueira (dispõe de área de estacionamento). Com o risco de poder vir a lamentar-se por não ter cumprido o trilho inicial, que sai do centro da cidade de Aveiro (em causa estão dois quilómetros, mais coisa, menos coisa).
Cuidado com as curvas apertadas
Seja devido ao factor novidade ou sinal de que há cada vez mais adeptos do desporto ao ar livre, a verdade é que os novíssimos passadiços de Aveiro são bastante concorridos, em especial nas horas de ponta – leia-se: início da manhã ou final da tarde. Descanse. Há espaço para mais uns quantos, mas como a via é usada por ciclistas, corredores e caminhantes, importará ter alguma cautela, nomeadamente numa ou outra curva mais apertada. Em especial naquelas que estão situadas em zonas de menor visibilidade, por causa da vegetação que ladeia os passadiços.
A partir de Aveiro – ou de Esgueira, caso opte por cortar caminho -, a via segue em direcção a Mataduços, Póvoa do Paço e Vilarinho (tudo localidades do município aveirense), por entre zonas de água, sapais e entrando igualmente em áreas de arvoredo. E com uma certeza: este é um daqueles trilhos cuja paisagem vai mudando consoante a maré sobe ou desce – ora aqui está um bom pretexto para repetir a visita.
Estando situados numa área classificada como Zona de Protecção Especial, estes passadiços podem revelar-se um local de excelência para os amantes de birdwatching. “A ria de Aveiro abriga, durante o Inverno, mais de 20.000 aves migradoras, entre as quais sobressaem os inúmeros bandos de aves limícolas que frequentam as salinas e os lodaçais e areais a descoberto na maré baixa”, anuncia um dos quadros informativos instalados ao longo do percurso e no qual são destacadas algumas das espécies mais comuns: pilrito-comum, perna-longa, andorinha-do-mar-anã, flamingo, águia-pesqueira, milhafre negro, fuínha dos juncos e garça-branca-pequena, entre outras.
O horário em que por lá andámos, dizem, não era o mais indicado para a observação de aves, mas acabou por revelar-nos a verdadeira magia daquele local: o pôr do Sol. Acredite: vale a pena suspender a caminhada por alguns instantes e aproveitar aquele cenário natural para ver o Sol a desvanecer-se no mar - que, afinal de contas, está ali tão perto. Uma imagem de uma beleza rara, que não deixa ninguém indiferente. Nem mesmo quem passa por ali a correr, em ritmo apressado, como é o caso das gémeas Filipa e Andreia Neves, com quem nos cruzámos naquele final de tarde. “A paisagem é lindíssima e ao pôr do Sol ainda mais”, avalia Andreia depois de cumprir a sua estreia naquela via pedonal e ciclável – a sua irmã, por seu turno, já era repetente.
Habituadas a correr em várias cidades nacionais e europeias – já participaram em várias maratonas -, é em Aveiro, onde moram, que cumprem os seus treinos regulares e essa tarefa parece ter ficado, agora, mais facilitada. “Não havia nenhum percurso destes no centro de Aveiro. Tínhamos de correr sempre em zonas com algum trânsito”, comentam. “Este acaba por ser um bom sítio para correr, em especial para fazer um treino mais curto”, frisa Andreia Neves, que em dia de estreia naqueles passadiços nota que “falta colocar alguns caixotes de lixo ao longo do percurso”. Também ficou a sensação de que, em determinados períodos do dia, “não é fácil conciliar corrida com bicicletas e caminhadas”.
De Aveiro a Estarreja vai ser um saltinho
Ao longo do percurso vai encontrar, por diversas vezes, marcos de quilometragem que lhe indicam a distância até ao município de Estarreja e há razão para isso. É que esta via integra uma rede de percursos desenhada pelo programa Polis Ria com uma dimensão total de 48 quilómetros. Concluído este troço, bem como o que liga Vagos a Mira (com 25 quilómetros), falta, agora, concluir a ligação a partir de Sarrazola, em Aveiro, até aos percursos do BioRia, em Salreu, Estarreja.
Serão 23 quilómetros de extensão, quase sempre junto à água, sem desníveis e passando por vários cais recentemente recuperados - Ribeira de Esgueira, Canelas e Salreu. De Aveiro a Estarreja vai ser um saltinho, em especial para aqueles que estão já a aproveitar esta primeira parte do percurso para treinar. Contas feitas, ao cumprir o percurso em ida e volta, já são praticamente 15 quilómetros – fica a faltar pouco para atingir a distância até ao município vizinho.