Conselho de Redacção da RTP chumba mudanças na direcção de Informação
Órgão que representa a redacção segue a linha de argumentos da ERC e diz que as mudanças não estão fundamentadas. Trabalhadores do centro de produção do Porto querem explicações urgentes da administração sobre suposta "reorganização estrutural" em curso.
O Conselho de Redacção da RTP decidiu dar parecer "desfavorável" às mudanças que o director de Informação, Paulo Dentinho, quer fazer na estrutura argumentando com a "ausência de fundamentação" para as exonerações e nomeações anunciadas.
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O Conselho de Redacção da RTP decidiu dar parecer "desfavorável" às mudanças que o director de Informação, Paulo Dentinho, quer fazer na estrutura argumentando com a "ausência de fundamentação" para as exonerações e nomeações anunciadas.
Ou seja, são chumbadas as nomeações do jornalista João Fernando Ramos para director-adjunto e da jornalista Rosário Lira para subdirectora. Mas também a exoneração do jornalista Hugo Gilberto de adjunto e respectiva nomeação como subdirector, e as saídas dos subdirectores Adília Godinho, Joana Garcia e Alexandre Brito.
Apesar deste parecer desfavorável, o CR não fecha a porta e mantém-se disponível para apreciar as alterações quando a administração lhe fizer chegar a fundamentação.
O parecer não tem carácter vinculativo mas demonstra uma tomada de posição forte do órgão representativo da parte editorial da empresa de televisão pública e segue os argumentos usados também pela Entidade Reguladora para a Comunicação Social para não dar o seu aval às mudanças. Na passada terça-feira, o regulador chumbou as saídas do jornalista Hugo Gilberto de director-adjunto e de Víctor Alves de subdirector da RTP Açores por falta de uma justificação fundamentada por parte da RTP, que alegou apenas que se devia a "alterações" ao modelo de funcionamento.
A decisão do CR da RTP foi tomada por cinco votos a favor e quatro contra. No comunicado que enviou à redacção e a que o PÚBLICO teve acesso, o CR diz que tomou conhecimento das alterações na direcção de Informação "através das notícias dos jornais e recebeu este pedido de parecer dois dias passados sobre a publicação oficial das nomeações e exonerações". A administração anunciou as mudanças na terça-feira, dia 24, e só pediu o parecer ao CR no dia 26.
"De acordo com a legislação, o conselho de redacção colabora na definição das opções editoriais e por isso deveria ter sido informado atempadamente das mudanças no elenco e na estrutura da direcção de Informação, para além dos fundamentos que as justificam", lembram os membros eleitos daquele órgão. Que acrescentam que nos últimos anos têm sido consultados "em devido tempo" sobre mudanças deste género e não compreendem "os motivos que levaram a um procedimento diferente desta vez".
Trabalhadores da RTP-Porto querem explicações de Gonçalo Reis
Entretanto, a sub-comissão de trabalhadores (sub-CT) do centro de produção da RTP-Porto emitiu também um comunicado em que exige explicações urgentes da administração sobre a alegada "reorganização estrutural" que estará em curso na empresa, já que foi essa justificação genérica dada à ERC pela equipa de Gonçalo Reis para as substituições na direcção de Informação.
Aquela estrutura diz-se profundamente preocupada "com a forma mal explicada e ainda menos fundamentada como este processo está a ser conduzido". "É absolutamente fulcral e urgente que a administração da RTP explique o que está em curso. Não basta fazê-lo perante a ERC, para desbloquear um processo no qual está, inequivocamente, a ficar muito mal na fotografia. É fundamental que o faça perante os trabalhadores da RTP Porto", exige a sub-CT. Que quer saber de que reorganização estrutural está a administração da falar, que consequências terá para a delegação do Porto.
Esta estrutura critica ainda a "aparente desvalorização estrutural da redacção da televisão da RTP no Porto no seio da nova direcção", já que até aqui representava uma direcção-adjunta e agora limita-se a ser uma subdirecção (embora permaneça como responsável o jornalista Hugo Gilberto).
E lembra que, por exemplo, a passagem para o Porto da total responsabilidade sobre o Jornal 2 (o noticiário de horário nobre da RTP2) foi vista como um reforço das competências daquele centro de produção, uma aposta no trabalho descentralizado e a "concretização de uma verdadeira noção de serviço público da RTP" - que poderá estar em causa com esta espécie de despromoção. Mas o que está previsto para os próximos tempos é a passagem do Jornal 2 "semana sim, semana não, para Lisboa", que leva a sub-CT a questionar que intenção futura estará aqui implícita.