Boom: mais do que um festival, um exemplo a seguir

Devido às notícias sensacionalistas, as pessoas assumem que o Boom Festival é "só para gente doida ou drogada", o que revela uma completa falta de conhecimento.

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Nuno Ferreira Santos

Todos os anos anseio que chegue o Verão para ver em palcos nacionais os melhores artistas e DJ nacionais e internacionais. Mas há um festival pelo qual tenho vindo a ganhar um apreço especial: o Boom.

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Todos os anos anseio que chegue o Verão para ver em palcos nacionais os melhores artistas e DJ nacionais e internacionais. Mas há um festival pelo qual tenho vindo a ganhar um apreço especial: o Boom.

Este ano decorreu mais uma edição. É um dos maiores festivais do mundo dedicado aos espíritos livres e, como descrito pela organização, quer reunir "a tribo psicadélica global”. Leva, de dois em dois anos, mais de 30 mil pessoas a Idanha-a-Nova; no entanto, nem sempre é visto de forma positiva. Apesar de receber rasgados elogios internacionais, arrecadando prémios na área ambiental, sendo aclamado por órgãos de comunicação social como o The Guardian ou a Rolling Stone e contando até com o reconhecimento da ONU, continua a ser denegrido pelos média nacionais.

As únicas notícias a que dão destaque são as que referem as apreensões de droga, não dando o devido valor e destaque ao evento e às individualidades que dele fazem parte — este ano, por exemplo, esteve presente Leo Axt, o embaixador alemão da Campanha Internacional para a Abolição de Armas Nucleares (ICAN), organização que em 2017 ganhou o Prémio Nobel da Paz pelo seu trabalho de sensibilização para as consequências catastróficas deste tipo de armamento. Devido a estas notícias sensacionalistas, as pessoas assumem que este festival é "só para gente doida ou drogada", o que revela uma completa falta de conhecimento. Fui pela segunda vez ao Boom e nunca consumi estupefacientes, à semelhança do que acontece com outros festivaleiros. Em qualquer festival, há pessoas que cometem excessos.

Mas o Boom não é apenas um festival de música, é também um festival de arte, de cultura e de diversidade, onde pessoas de mais de 100 países se juntam para ouvir música electrónica e trance, celebrar a vida em comunhão com a natureza. A organização é exímia nos detalhes e pensa em nós, festivaleiros. É bonito ver famílias e pessoas a conviverem umas com as outras, não havendo distinção entre raças, género ou orientações individuais, políticas ou ideológicas.

Além disso, este é talvez um dos festivais que mais se preocupa com o ambiente, quer na preservação da natureza e na promoção da reciclagem, quer nas acções que promove, transmitindo esses valores à sociedade. Este ano, os festivaleiros foram convidados a partilhar boleias e foram colocados à disposição 230 autocarros (que representaram 30% das deslocações), reduzindo as emissões de poluentes. Prova dessa mesma preocupação são ainda as 378 casas de banho de compostagem onde não são utilizados químicos ou água, sendo que os resíduos são utilizados para fertilização do solo. Além disso, toda a louça utilizada na zona da restauração, bem como nos bares, era biodegradável, o que diminui drasticamente a utilização de plásticos. Existia também uma eco team responsável pela recolha e separação de resíduos, evitando assim qualquer poluição no solo. E em 2014 nasceu o Boom Karuna Project, que tem ajudado o Centro de Resgate de Animais de Castelo Branco e que apoiado o centro de necessidades especiais (AERID) e o movimento escolar local Sementes do Interior.

Leave no trace é o lema. Mais do que um festival é, acima de tudo, um exemplo a seguir.