Locarno 2018, descobertas e desafios
Esta é a última edição do Festival de Cinema de Locarno sob a direcção do crítico turinense Carlo Chatrian, que vai assumir a direcção artística do festival de Berlim.
Apenas um ano depois de Locarno festejar o aniversário redondo dos 70 anos de existência, a 71.ª edição do festival suíço traz um travo agridoce. Locarno 2018 é a última edição sob a direcção do crítico turinense Carlo Chatrian, aos comandos desde 2013, que vai assumir a direcção artística do festival de Berlim. Num momento em que os Netflixes, Amazons e outros streamings desta vida colocam cada vez mais em causa o cinema em sala, em que mesmo os profissionais cada vez mais vêem filmes em plataformas online profissionais, um festival como o de Locarno, “reserva moral” do cinema mais radical e novo que se faz pelo mundo fora, ganha uma importância ainda maior. E a partida de um director que foi equilibrando com elegância as exigências turísticas e populares de uma estância de veraneio com uma constante abertura à descoberta levanta questões que vão ficar em aberto.
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Apenas um ano depois de Locarno festejar o aniversário redondo dos 70 anos de existência, a 71.ª edição do festival suíço traz um travo agridoce. Locarno 2018 é a última edição sob a direcção do crítico turinense Carlo Chatrian, aos comandos desde 2013, que vai assumir a direcção artística do festival de Berlim. Num momento em que os Netflixes, Amazons e outros streamings desta vida colocam cada vez mais em causa o cinema em sala, em que mesmo os profissionais cada vez mais vêem filmes em plataformas online profissionais, um festival como o de Locarno, “reserva moral” do cinema mais radical e novo que se faz pelo mundo fora, ganha uma importância ainda maior. E a partida de um director que foi equilibrando com elegância as exigências turísticas e populares de uma estância de veraneio com uma constante abertura à descoberta levanta questões que vão ficar em aberto.
Como “despedida”, contudo, a equipa de Chatrian sai em grande. Locarno não tem problemas em programar no ecrã ao ar livre Piazza Grande o último filme do sempre incendiário Spike Lee BlacKKKlansman, a par do restauro de Manila in the Claws of Light, realizado em 1975 pelo filipino Lino Brocka; ou Equalizer 2, com Denzel Washington, a par dos quatro episódios de Coincoin et les Z’inhumains, o novo “telefilme”/“cine-série” com que Bruno Dumont (vencedor do Leopardo de Honra pela carreira) dá sequela a O Pequeno Quinquin. Ou em acolher na competição principal as 14 horas de La Flor, do argentino Mariano Llinás (que será exibido em oito episódios de duração variável e em três “maratonas”), enquanto dedica a retrospectiva a um dos muitos cineastas do studio system americano, Leo McCarey, que dirigiu os irmãos Marx e Cary Grant, Bing Crosby e Bucha e Estica, e homenageia o autor de Shoah, Claude Lanzmann, e o lendário “homem da sombra” Pierre Rissient.
Na competição principal de 15 títulos, tudo está em aberto, com o sul-coreano Hong Sangsoo, vencedor do Leopardo de Ouro em 2015 por Sítio Certo, História Errada, como único nome forte, com o novo Hotel by the River. Há estreias a merecer atenção: o fotógrafo britânico Richard Billingham com o autobiográfico Ray & Liz, a passagem à ficção do crítico e documentarista americano Kent Jones (Diane) e do iraquiano Abbas Fahdel (autor do fresco de Bagdad durante a invasão americana Homeland: Iraq Year Zero) com Yara. E há uma verdadeira viagem pelas cinematografias a que geralmente só chegamos nos festivais: A Family Tour, do chinês Ying Liang; A Land Imagined, do singapurano Yeo Siew Hua; Alice T., do romeno Radu Muntean (Terça, Depois do Natal); Genèse, segundo título de uma trilogia autobiográfica do canadiano Philippe Lesage; M, da francesa Yolande Zauberman; Menocchio, do italiano Alberto Fasulo; Sibel, da turca Cagla Zencirci e do francês Guillaume Giovanetti; Glaubenberg do suíço Thomas Imbach; Wintermärchen do alemão Jan Bonny (cujo Gegenüber foi uma bela surpresa há dez anos no Leffest). E reencontramos uma descoberta do IndieLisboa, a chilena Dominga Sotomayor, de regresso à longa com Tarde para Morir Joven. Ali ao lado, nos Cineastas do Presente (primeiras e segundas obras), a atenção recai sobre duas outras descobertas feitas no Indie: o brasileiro André Novais Oliveira (Ela Volta na Quinta) estreia Temporada, o francês Virgil Vernier (Mercuriales) traz Sophia Antipolis.
Assim, a partir desta quarta-feira e até sábado, 11 de Agosto, serão 11 dias de cinema como Locarno nos habituou, em que o jogo vai estar na descoberta do que não conhecemos. Para o ano logo veremos o que muda; este ano, o desafio continua.